Manaus, 28 de abril de 2024
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Manaus, 28 de abril de 2024

Cidades

Distritos sanitários no Amazonas serão coordenados por indígenas

Reinvindicação por nomes indígenas nos Dseis é pauta antiga do movimento dos povos originários do Amazonas

Distritos sanitários no Amazonas serão coordenados por indígenas

Saúde indígena no Amazonas será tratada por Dseis coordenados por indígenas (Foto: Ministério da Saúde)

Manaus (AM) – As nomeações de indígenas para a coordenação de Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) são marcos históricos para os povos originários do Amazonas. A antiga reivindicação de indígenas para os Distritos toma forma concreta com seis, de sete Dseis, ganhando a coordenação de nomes indicados pelas lideranças.

As nomeações vêm no rastro de uma recente Carta de Apoio publicada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) que pedia urgência na nomeação das lideranças indígenas indicadas pelo movimento.

Dos sete Dseis no Amazonas, apenas o de Parintins não foi indicação do movimento, apesar de o nomeado ser indígena. O Sateré-Mawé Mecias Júnior foi vereador pelo Partido Social Democrático (PDS) no município de Barreirinha.

Para o Dsei-Manaus, o nomeado foi André Mura, indicado pelas lideranças e com boa articulação entre a cena política local.

“O resultado (da nomeação) é o resultado do esforço empreendido por muitas mãos. Se não tivéssemos essa conjuntura de forças, aqueles que estavam conspirando contra nós poderiam ter nos derrotado”, disse Mura na sua posse, ocorrida no último dia 19.

Questão indígena e política

A questão indígena e todo o capital político que ela carrega faz com que as aproximações com as lideranças sejam cobiçadas. Daí veio a carta da Foirn. No documento, com 80 assinaturas, a Federação fala em repúdio a “interferências políticas e outras indicações de pessoas que nunca estiveram lutando pelas causas e direitos coletivos”.

A carta, sem citar nomes, fala em pessoas que sempre atracaram o modo de organização indígena, as campanhas anti-ongs, contra a demarcação de terras indígenas e defesa da exploração mineral do território.

Mulher na coordenação da Funai CR-Rio Negro

Já a nomeação de Maria do Rosário Piloto, conhecida como Dadá Baniwa, para coordenar a regional do Rio Negro da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai CR-Rio Negro), será lembrada por ser a primeira vez que o cargo é ocupado por uma mulher.

“É um momento histórico. A coordenação regional da Funai já foi ocupada por indígenas, mas é a primeira vez que será assumida por uma mulher e uma mulher indígena”, comemorou Dadá Baniwa. “Não será fácil, sabemos que ainda há muito machismo em todos os locais. Mas eu fui indicada pelo movimento e aceitei esse desafio”, salientou. 

Segundo ela, o primeiro ano de atividades será dedicado à reconstrução da Funai local, para deixar o órgão “com a cara indígena”. Nascida na região do Rio Içana, em São Gabriel da Cachoeira, Dadá Baniwa é cientista política e mestra em Linguística e Línguas Indígenas. Em 2021, foi eleita coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (Dmirn/Foirn). 

Outras prioridades são a retomada dos processos de demarcação, das Coordenações Técnicas Locais (CTLs) e das barreiras de fiscalização para atuação na proteção territorial e monitoramento das Terras Indígenas.

Saúde indígena 

Luiz Baré, novo coordenador do Dsei-ARN, nasceu na comunidade Santa Maria, no Rio Jurubaxi, em Santa Isabel do Rio Negro, e é técnico de enfermagem. Está no movimento indígena desde 1988 e ocupou o cargo de diretor-executivo da Foirn. 

Também, fez parte do primeiro distrito sanitário implantado na região do Alto Rio Negro, chamado Distrito Sanitário Yanomami (DSY). Entre 1996 e 1999, participou das discussões e implantação do DSEI-ARN.

“Como movimento indígena, estamos há muitos anos discutindo e lutando para assumir os cargos nas pontas, sejam do Governo Federal, Estadual e Municipal, já que nós somos os protagonistas das discussões. A partir dessas nomeações, essa luta está se tornando uma realidade para nós, para todo o movimento indígena”, afirmou.

“Diminuir a mortalidade infantil é um grande desafio. Precisamos reduzir a desnutrição e várias doenças preveníveis. Estamos no século XXI e precisamos buscar instrumentos para não perdermos crianças indígenas”, defendeu. 

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