Manaus, 11 de maio de 2024
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Política

Divisão política entre indígenas de direita e esquerda gera debate na Câmara dos Deputados

Separação entre os povos indígenas que defendem os posicionamentos da direita e os que estão do lado da esquerda promove conflitos e divergências

Divisão política entre indígenas de direita e esquerda gera debate na Câmara dos Deputados

(Foto: Vinicius Loures/ Câmara dos Deputados)

Brasília (DF) – Foi-se o tempo em que os indígenas viviam longe dos debates sociais. Hoje, eles são mestres, doutores, artistas, políticos e possuem seus posicionamentos acerca do poder público, sejam eles de direita e esquerda. Mas até onde o envolvimento político pode ser benéfico para esses povos?

De acordo com o professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Raimundo Nonato Pereira da Silva, a resposta para essa pergunta é respondida com um outro questionamento: esse envolvimento político é para que haja uma representatividade quantitativa ou qualitativa?

Isso porque, segundo ele, existe um anseio por parte de lideranças indígenas para que seus representantes cheguem ao poder, mas, paralelo a isso, também há uma falta um conhecimento mais aprofundado sobre como certos partidos atuam com as causas indígenas por parte desses mesmos povos.

“O problema maior é que não há uma compreensão em sua maioria sobre como são organizados os partidos políticos em cenário nacional. Ao mesmo tempo que existe uma certa vontade, um desejo, tudo isso se torna uma frustração pela falta desse conhecimento. Sem contar que em alguns partidos, há uma certa verticalidade e muitos indígenas são chamados em função de sua capacidade de conseguir votos”, reforçou o professor Raimundo Nonato Pereira da Silva.

Ele destacou que, em muitos casos, os indígenas são envolvidos em campanhas políticas, como os famosos “brokers eleitorais”, que são os responsáveis pelo fortalecimento da imagem política de um determinado partido ou federação.

Divisão entre povos indígenas

Em Brasília, a reportagem do Amazonas 1 fez uma análise sobre como essa divisão política ocorre no cenário político nacional e identificou que a separação entre os povos indígenas que defendem os posicionamentos da direita e os que estão do lado da esquerda promove conflitos e divergências em vez de debates.

Na Câmara dos Deputados, por exemplo, onde há quatro parlamentares indígenas, sendo três de esquerda: Célia Xakriabá (PSOL-MG); Juliana Cardoso (PT-SP); Paulo Guedes (PT-MG); e uma deputada federal de direita: Silvia Waiãpi (PL-AP), é clara a divisão ideológica por conta suas escolhas políticas.

Um exemplo desta desunião foi notado em uma recente reunião promovida pela deputada federal Silvia Waiãpi, na última segunda-feira (17), para discutir a questão econômica dos povos originários, que contou com a presença de diversas lideranças indígenas do país e não teve a participação dos outros representantes da causa indígena presentes.

Questionada sobre essa divisão política na classe indígena, Waiãpi disse que, infelizmente, essa separação ocorre por parte de políticos indígenas que tomam “banho de água quente, bebem água gelada e vivem em suas casas, quando ao mesmo tempo, querem impedir o indígena de se desenvolver, condenando o seu próprio povo a viver em 1500 enquanto eles vivem no século XXI, pedindo comida por aplicativo”.

“Eu lamento por essa divisão, pois nós estamos aqui pelos povos indígenas e não para segregá-los. Nós estamos aqui para lutar pelo desenvolvimento e pela autonomia deles. Se eu estou no século XXI, eu também devo lutar para que o meu povo usufrua do que eu estou usufruindo”, pontuou a deputada.

A reportagem chegou a entrar em contato com a deputada federal e presidente da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários, Célia Xakriabá (PSOL-MG), chegando a agendar entrevista no gabinete da deputada, porém, após tomarem conhecimento da pauta, não retornaram mais os questionamentos.

Retrospecto

Até o ano passado, a Câmara só havia contado com a presença de dois parlamentares indígenas ao longo de sua história: Joenia Wapichana (Rede-RR) e Mário Juruna (PDT-RJ), morto em 2002.

Neste ano, além da representatividade indígena no parlamento federal, o governo Lula também nomeou Sônia Guajajara (PSOL-SP), eleita ano passado como deputada federal, para o cargo de ministra dos Povos Indígenas e a ex-deputada federal Joenia Wapichana (REDE-RR) como presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

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