Manaus, 24 de abril de 2024
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Cenário

Eleições 2022: Brasil caminha para pleito com maior polarização política

No Amazonas não é diferente; Manaus, por exemplo, virou até palco de 'briga' de outdoors entre direita e esquerda

Eleições 2022: Brasil caminha para pleito com maior polarização política

Foto: Reprodução

MANAUS, AM – Não é segredo para ninguém que o Brasil está vivendo uma polarização política considerada absurda. Em qualquer esquina que se vai, é impossível não ver referências, cores e até mesmo bordões que remetem aos dois principais nomes da política: Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido).

Em Manaus, não é diferente. A cidade virou até mesmo palco de briga de outdoors: em um ponto da cidade, ainda não identificado, surgiu um outdoor em apoio ao ex-presidente. Já em outro ponto, na zona Centro-Sul, outro outdoor, mas, desta vez, em apoio a Jair Bolsonaro.

E ao que tudo indica, a eleição de 2022 caminha para ser a mais polarizada dos últimos anos. As presidenciais de 2018, quando Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) foram para o segundo turno, foram uma prévia. Em 2022, Lula estará no páreo contra o atual presidente. Ainda na corrida, podem estar Ciro Gomes, João Doria, Guilherme Boulos e até mesmo o apresentador Luciano Huck.

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Mas, de acordo com o cientista político Helso Ribeiro, essa polarização não é nova. Muito pelo contrário, vem logo após o primeiro impeachment da Nova República, quando Fernando Collor (PRN, atual PTC) saiu do cargo. Assumiu Itamar Franco e, nas eleições de 1994, Lula e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se enfrentaram nas urnas. Naquele momento, a polarização ganha corpo com a vitória de FHC.

Lula e Collor se enfrentaram na presidencial de 1989, com vitória do alagoano. Foto: Wikimedia Commons

“Na eleição de 2014, quando Dilma Rousseff e Aécio Neves se enfrentaram e Dilma ganhou, já havia uma polarização entre esquerda e direita, entre PSDB e PT. Vale lembrar que Dilma Rousseff ganhou, mas foi com uma diferença muito baixa e, talvez, tenha sido a menor de todas as eleições. Assim, o PSDB sofreu um encolhimento e deu azo ao surgimento de uma frente mais à direita, que são parte dos apoiadores do atual presidente”, aponta.

Eleitorado amadurecido

O advogado, ex-vereador e ex-deputado estadual Chico Preto (DC) aponta que a democracia brasileira é nova, e cheia de interrupções ao longo da História. Para Chico, a polarização é a consequência de um eleitorado amadurecido, que passou a se identificar não apenas com os políticos, mas com as pautas e ideologias deles.

“Eu vejo que Bolsonaro e Lula canalizam a defesa das pautas tanto da direita como da esquerda. Nisso, trago o que diz o professor Olavo de Carvalho: política sem ideologia é igual um jogo de futebol sem bola. E justamente por isso, por não terem ideologia, é que os nomes do dito Centrão não crescem”, afirma.

Já o deputado federal José Ricardo (PT) acredita que o debate entre os polos é uma forma de tentar camuflar e não se debater a realidade atual do Brasil. Ele diz que os governos de Collor e FHC tinham veias neoliberais, e o resultado foi o aumento do desemprego e o Brasil no mapa da fome.

Para Zé Ricardo, nomes como o de Luciano Huck ou Ciro Gomes não tem qualquer projeto para o Brasil. “O projeto que, de fato, tirou o Brasil do mapa da fome e do desemprego foi justamente o do Partido dos Trabalhadores. Hoje, é um projeto que deve voltar a ser colocado em prática, e vai ser discutido com toda a sociedade, para a reconstrução do Brasil”, salienta.

O fator Lula

Outro ponto que se leva em consideração é o chamado “fator Lula”. Desde a primeira eleição que disputou, o ex-presidente ficou sempre em segundo lugar. Finalmente, em 2002, após um aceno ao mercado, Lula foi eleito e reeleito em 2006. Nas eleições de 2010 e 2014, elegeu sua sucessora: Dilma Rousseff.

“Lula é um nome que, querendo ou não, agrega muito. As pessoas podem odiá-lo, mas é indiscutível que ele é um nome que esteve bem em todas as eleições que disputou. Do outro lado, temos Bolsonaro, um político nacionalista, que sempre foi bem eleito nas eleições que disputou.

Lula venceu as eleições pela primeira vez em 2002. Foto: Ricardo Stuckert/PR

E, ao que tudo indica, o ex-presidente está bem nas pesquisas de intenção de votos. Na pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, em 12 de maio, se Bolsonaro e Lula fossem ao segundo turno, o petista venceria o pleito com 55% dos votos válidos.

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No entanto, há um ditado que diz que pesquisa não ganha eleição. E quem faz coro a isso é Chico Preto. Para ele, não existe eleição vencida ou perdida, e sim, uma construção diária.

“Minha convicção é que a maioria dos brasileiros, e eu me incluo nisso, não quer de volta a corrupção institucionalizada de tempos atrás. Naquele tempo, as notícias nos jornais e portais eram quase que diariamente de esquemas de assalto ao cofres públicos, com o intuito único de se manter no poder”, afirma.

Salvador da pátria?

O que se percebe, hoje, é que grande parte dos brasileiros procura uma espécie de “salvador da pátria”, isso é, alguém que resolva os seus problemas urgentes. É preciso lembrar, entretanto, que nem sempre o Estado ou alguém vai resolver problemas mais urgentes.

Jair Bolsonaro, atualmente, é um dos principais nomes da direita e cotado para vencer as eleições de 2022. Foto: Márcio Silva/Amazonas1

Helso Ribeiro aponta que a população acaba criando mitos para realizar os seus desejos, porque não exercem a sua cidadania e são dependentes do Estado. Segundo ele, há uma via de mão dupla: a população espera muito e os políticos prometem muito.

“Aí, temos aquela famosa frase de Maquiavel: ‘os fins justificam os meios’. Enquanto os políticos faltam com a verdade e exageram em promessas que não vão cumprir, a população, quanto mais carente é, vai acreditar nesse tipo de promessa”.