Manaus, 18 de maio de 2024
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Manaus, 18 de maio de 2024

Cidades

Expulso do Paraguai, Marcelo Piloto vai para prisão federal

O traficante é acusado de usar uma faca de sobremesa para assassinar uma jovem de 18 anos durante visita íntima na cadeia

Expulso do Paraguai, Marcelo Piloto vai para prisão federal

Líder do Comando Vermelho (CV), o narcotraficante brasileiro Marcelo Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, de 43 anos, vai ficar preso na penitenciária federal de Catanduvas (PR), unidade de segurança máxima, após ter sido expulso nesta semana do Paraguai. Ele é acusado de usar uma faca de sobremesa para assassinar a jovem Lidia Meza Burgos, de 18 anos, no sábado, durante visita íntima na cadeia.

Preso em Assunção desde dezembro, Piloto foi expulso – e não extraditado – por ordem do presidente paraguaio Mario Abdo Benítez. A decisão foi comunicada pelo Twitter. “O nosso país não é uma terra de impunidade para ninguém”, escreveu. Vestindo tênis e um conjunto esportivo, o traficante foi entregue à Polícia Federal brasileira na Ponte da Amizade, que liga Ciudad del Este, no Paraguai, a Foz do Iguaçu (PR).

Segundo jornal paraguaio ABC Color, Piloto foi levado de Assunção a Ciudad del Este em helicóptero da polícia brasileira. No transporte até a fronteira, teve o rosto coberto e usou colete à prova de balas. O documento de entrega foi assinado pelo delegado Carlos Eduardo Vieira, chefe do Núcleo de Inteligência da PF em Foz.

Antes da expulsão, autoridades do Brasil haviam entrado com pedido de extradição e o processo foi autorizado pela Justiça paraguaia em outubro. Advogados de Piloto, porém, recorreram da ação para forçar a permanência dele no Paraguai.

Agora, o líder do CV deve responder ao processo de homicídio no Brasil, onde a pena máxima prevista é de 30 anos, mesmo que o assassinato tenha acontecido no país vizinho. No Brasil, ele já é condenado a uma pena de 26 anos – dos quais cumpriu dez – por outro crime.

Conforme o Ministério da Segurança Pública, a permanência de Piloto em prisão federal é de caráter provisório. A definição se ele vai continuar em Catanduvas dependerá da avaliação do Departamento Penitenciário (Depen).

MANOBRA

Embora tramitasse o pedido de extradição, a morte de Lidia fez o cenário mudar. O crime não só motivou a expulsão imediata do traficante, como também fez o Paraguai trocar o comando da Polícia Nacional. Este mês, o governo paraguaio também divulgou vídeo em que o CV ameaça de morte a procuradora-geral do Paraguai, Sandra Quiñonez. 

Para especialistas em facções criminosas, o homicídio foi uma “manobra” de Piloto para não ser transferido. “Ele sabe que no Brasil as circunstâncias no presídio seriam mais severas”, disse o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Márcio Sérgio Christino.

Um dia antes do crime, a Justiça já havia negado o pedido de casamento feito pela noiva do traficante, que também está presa. A união com uma paraguaia poderia dificultar a extradição.

Também há suspeita de que Piloto tenha ordenado a morte da sua advogada, a argentina Laura Marcela Casuso, de 54 anos, executada a tiros na semana passada. Supostamente, ele estaria insatisfeito com o resultado de ações judiciais. Laura também representava o traficante brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) – a facção, rival do CV, domina a rota de drogas e armas na fronteira. Mas para especialistas, a expulsão de Piloto não deve ter grande impacto na disputa de território pelo crime. “Ele já tinha perdido força após ser preso”, disse Christino.

Para a advogada criminalista Roselle Soglio, a expulsão de Piloto pode abrir “precedente perigoso”. Segundo ela, o Paraguai violou acordos bilaterais de extradição. “Ele não tem o direito de passar por cima de legislação supranacional.”

*Informações retiradas do Estadão