Manaus, 17 de maio de 2024
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Entretenimento

Giselle Itié conta detalhes como foi abuso sexual sofrido aos 17 anos

A atriz foi estuprada aos 17 anos, e acabou desenvolvendo bulimia e tiques e engatou uma série de relacionamentos abusivos. Saiba mais:

Giselle Itié conta detalhes como foi abuso sexual sofrido aos 17 anos

A atriz Giselle Itié, de 37 anos, nem sempre foi esse mulherão com opiniões fortes, de bem com o próprio corpo e consigo mesma. Criada numa família conservadora entre o México e o Brasil, sonhava casar virgem, como sua mãe, primas e tias, e viu seu mundo cair ao ser estuprada, aos 17, pelo próprio namorado, um homem 15 anos mais velho e que tinha a confiança de sua família.

Depois de guardar a culpa por décadas e esconder a violência até do próprio pai, se libertou ao tornar público o que tinha sofrido. Desde então, apesar dos ataques sofridos, passou a receber relatos semelhantes e descobriu o poder da união entre mulheres.

Fora da TV desde o ano passado, hoje se dedica a projetos como uma série documental sobre mulheres. “Tanto a família da minha mãe [a brasileira Sandra] como a do meu pai [o mexicano Fernando] são tradicionais, mas a dele bem mais. Para você ter uma noção, todas as minhas primas casaram até os 21 anos. Fizeram as melhores faculdades, foram para Paris, para não sei onde, e guardaram o diploma no criado-mudo”, conta ela, filha mais velha de três irmãos.

No final da adolescência, conheceu o homem responsável por seu primeiro grande trauma. A atriz passeava com os pais em Ilhabela, município praiano de São Paulo, quando viu Miro* (nome fictício), ator que parecia ser o namorado dos sonhos.

“Estava conversando com minha mãe, meu pai por perto, e ele começou a me olhar. Olhei de volta, ele se aproximou, perguntou meu nome, falou com a minha mãe, sabe aquela coisa bem pavão? Hoje, vejo como era machista”, reflete. “No dia seguinte, estava com as amigas na praia, quando, de repente, um cara me entregou flores. Só que elas estavam cheias de formigas, que começaram a subir pelo meu braço. Olha a simbologia. Enquanto caminhava em direção ao mar para me livrar delas, Miro apareceu: ‘E aí, gostou?’ (risos). E eu: ‘Ah, amei!’”, recorda.

Passado quase um ano de namoro, Miro convidou a namorada “pela vigésima vez” para viajar com ele e sua família para Itu, no interior de São Paulo. A própria mãe do rapaz pediu autorização aos pais de Giselle. Deu certo. A mãe, no entanto, impôs algumas regras: que a filha não bebesse álcool nem dormisse no mesmo quarto que ele. E ela cumpriu.

Uma noite, ele insistiu para irem a uma boate. Ela queria ficar em casa, mas ele a persuadiu. “Pensei: ‘Que mal tem, né?’. Até liguei para avisar minha mãe, que ficou receosa e disse que o combinado era eu ficar na fazenda. E repetiu: ‘Não bebe nada’”, conta.

Giselle tomou só água e suco de laranja, mas, quando se deu conta, acordou no dia seguinte na cama com ele. “Ele estava no meu quarto, e eu estava nua. Quando olhei para o lado, vi várias garrafas de cerveja. O lençol estava vermelho e não conseguia entender o que havia acontecido. Eu tinha parado no suco de laranja! Fui até o banheiro e me olhei: estava machucada, mordida, roxa… Parei no tempo. Ela havia sido vítima do “Boa Noite Cinderela”.

Na cabeça daquela adolescente, a sensação de traição se misturava ao desespero sobre o que seria de sua vida. “Fui abusada três vezes: primeiro, fisicamente; depois, porque confiava nele – ele era o meu melhor amigo, fazia churrasco para o meu pai, sabia de tudo o que era importante pra mim –; e, por fim, pela sociedade, por essa criação que fez com que eu pensasse: ‘Caramba, não sou mais uma mulher que se pode respeitar’”, desabafa.

Como muitas outras vítimas, Giselle se sentiu culpada. “Pensava: ‘Não devia ter viajado, não devia ter descumprido o que a minha mãe falou’. Ao mesmo tempo, me dizia: ‘Mas só bebi suco de laranja!’.

*Informações retiradas da Marie Claire