Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Política

Gonçalves Dias diz à PF que houve ‘apagão’ na inteligência do GSI

Em depoimento, o ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias, afirma ter presenciado invasão ao Palácio do Planalto mas que nada podia fazer

Gonçalves Dias diz à PF que houve ‘apagão’ na inteligência do GSI

Gonçalves Dias afirma que houve um corte de edição nas imagens mostradas pela TV (Foto: Reprodução/ GSI)

Brasília (DF) – Divulgado na noite de sexta-feira (21), o depoimento do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, à Polícia Federal (PF), traz sua defesa nos fatos que levaram a demissão do ex-general e homem de confiança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-ministro afirmou a à PF que houve um “apagão” geral no sistema de inteligência na crise em 8 de janeiro, o que comprometeu a tomada de decisões. Ele também disse não saber informar qual era a classificação de risco dada pelas autoridades para o dia dos ataques.

Dias depôs na sexta-feira na sede da PF após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). Assinada pelo ministro Alexandre de Moraes na quinta-feira (20), a determinação dava ao ex-ministro o prazo de 48 horas para os esclarecimento, mas Dias se apressou a responder em sua defesa.

Em seu depoimento Gonçalves Dias afirma que no dia 8 de janeiro, data marcada pelos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes, em Brasília, ao perceber a ineficiência das forças de segurança distritais para conter os ânimos exaltados e ações criminosas de alguns manifestantes, solicitou reforço por volta de 14:50 de efetivo ao Comando Militar do Planalto (CMP).

Depoimento vs. imagens

As imagens divulgadas pela CNN Brasil mostram o ex-ministro chegando ao 4° andar do Palácio do Planalto às 16h29. Segundos antes do último vândalo deixar o andar.

Mais adiante, Dias conta em depoimento que “não tinha condições materiais de sozinho efetuar prisão das 3 pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andar, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado”.

Sobre as acusações de que o GSI havia se recusado ou se omitido a enviar as imagens das câmeras de segurança para investigação, Dias afirma que “todas as filmagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de Janeiro foram fornecidas integralmente as instituições do Estado, sem omissão de possíveis filmagens”.

Sobre a acusação de “recepcionar” os vândalos Dias afirma que se tivesse presenciado o Major José Eduardo Natale de Paula Pereira entregando água a um dos invasores “o teria prendido”.

Em depoimento, Dias ressalta que “houve um corte e edição na gravação de aproximadamente 30 minutos, ficando claro que não estava no mesmo tempo em que ele entregou a garrafa de
água”.

Confira os destaques do depoimento

“Inquirido a respeito dos fatos investigados, (Gonçalves Dias) RESPONDEU:

QUE ao ser nomeado chefe do GSI não foi tratado com o Presidente da República ou outra autoridade a respeito das manifestações antidemocráticas que estavam ocorrendo desde o resultado das eleições presidenciais em 2022;

QUE isso já estava sendo tratado pela equipe de transição e essa era uma das pautas de preocupação da equipe de transição;

QUE ao assumir no dia 02 de Janeiro, durante cerca de 5 dias estava ainda se ambientando as funções, haja vista que não houve passagem de função com o Ministro anterior;

QUE dentro do GSI existe a Secretaria de Coordenação de Segurança Presidencial, que avalia o nível de criticidade de eventuais movimentos que estejam acontecendo no território nacional a partir de informações recebidas de outros órgãos e agências, principalmente de secretarias de segurança pública;

QUE deixa registrado que o acompanhamento dos movimentos são de atribuição do Ministério da Justiça, Secretaria de Segurança Pública e Ministério da Defesa;

QUE ressalta que o acampamento em frente ao Quartel General do Exército estava pouco ocupado e praticamente desmobilizado;

QUE no dia 7 houve incremento na chegada de ônibus em Brasília;

QUE as mensagens do dia 8 pela manhã constavam pessoas fazendo discursos exaltados, ameaçando invadir prédios públicos da República;

QUE o compilado de mensagens não pode ser considerado tecnicamente um relatório de inteligência para produção de conhecimento para assessorar a decisão do gestor;

QUE tem conhecimento que o Palácio do Planalto, foi invadido as 15h41min;

QUE o declarante chegou no Palácio do Planalto por volta de 14h50min e viu a multidão conseguir superar o bloqueio da PMDF e partir em direção do Palácio do Planalto;

QUE havia uma tropa da PM na altura do início do estacionamento e foi retraindo conforme a pressão dos manifestantes e isso abriu espaço para eles subirem a rampa;

QUE uma outra parte da multidão entrou pela lateral superando o combate do pelotão do exército, que lançava gás lacrimogênio e elastômetro;

QUE inicialmente entraram quebrando as vidraças;

QUE estima-se que o pelotão do exercito do BGP era composto por cerca de 30 homens;

QUE os militares e policiais militares mostraram boa combatividade, inclusive testemunhado pelo próprio declarante que estava no momento da invasão;

QUE antes da invasão ao chegar no Palácio do Planalto, por volta de 14h50min ligou para o Gen. DUTRA e pediu reforço de tropa e ele informou que estava providenciando;

QUE é possível o declarante ter entrado no Palácio do Planalto as 16h;

QUE até a entrada do declarante no Palácio do Planalto, o declarante não viu a tropa de reforço do exército chegar, mas isso não quer dizer que ela não tenha chegado;

QUE sabe que ao final da operação o total de militares era de 487 e de policiais militares era de 520;

QUE ao entrar no prédio do Palácio do Planalto se dirigiu ao 4° andar e verificou que havia invasores e estavam sendo retirados por agentes do GSI e após descer para o 3° andar fez uma varredura e encontrou outros invasores na sala contígua e conduziu essas pessoas a saída, após as portas de vidro;

QUE nesse momento ligou para o Cel. VANDELI e solicitou que ele requisitasse o Choque da PM e apoiasse a realização das prisões;

QUE indagado porque no 3° e 4° piso conduziu as pessoas e não efetuou pessoalmente a prisão, respondeu que estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2° piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo;

QUE o declarante não tinha condições materiais de sozinho efetuar prisão das 3 pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andar, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado;

QUE já havia dado ordem ao Cel. VANDERLI e Cel. ROGERIO para que essas prisões fossem feitas;

QUE não deu ordem para evacuar os invasores do prédio, mas se porventura algum de seus subordinados deu essa ordem, não foi de seu conhecimento;

QUE a ordem era de prisão e foram efetuadas mais de 200 prisões;

QUE indagado a respeito de o Major JOSÉ EDUARDO NATALE DE PAULA PEREIRA haver entregue uma garrafa de água a um dos invasores;

QUE deve ser analisado pelas circunstâncias do momento os motivos do major, mas que se tivesse presenciado o teria prendido;

QUE as imagens divulgadas pela imprensa apresentam uma possível proximidade física e temporal do declarante com a conduta do MJ. JOSÉ EDUARDO;

QUE na verdade houve um corte e edição na gravação de aproximadamente 30 minutos, ficando claro que não estava no mesmo tempo em que ele entregou a garrafa de
água;

QUE todas as pessoas que aparecem nos vídeos do 3° piso já foram identificadas e os nomes encaminhados pelo atual ministro interino do GSI ao Ministro do STF ALEXANDRE DE MORAES;

QUE confirma as declarações do Gen. DUTRA de que na noite dos atentados de 8 de Janeiro, ele entendeu não ser conveniente e seguro a prisão dos vândalos naquele momento sem planejamento e em razão dos ânimos exaltados e a presença e de famílias, idosos e crianças;

QUE indagado se o declarante entende se houve apagão da inteligência, respondeu que acredita que houve um “apagão” geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões;

QUE todas as filmagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de Janeiro foram fornecidas integralmente as instituições do Estado, sem omissão de possíveis filmagens;

QUE entrega um documento de Título “Imagens do sistema de vídeo monitoramento” com duas paginas e o documento de titulo “Quadro resumo de eventos registrados – 08 de Janeiro de 2023” com duas páginas.

Nada mais havendo, este Termo de Declarações foi lido e, achado conforme, assinado pelos presentes.”

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