Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

‘Impactante’: recenseador do IBGE relata raro encontro com indígenas no AM

De acordo com dados do Censo 2010, foram recenseados somente 15 pessoas indígenas da etnia Zuruahã (Suruwaha) no País, sendo seis residentes na Região Norte

‘Impactante’: recenseador do IBGE relata raro encontro com indígenas no AM

Agente censitário, Leonardo Andrade de Souza. (Foto: Divulgação / IBGE)

O recenseador, Leonardo Andrade de Souza, viveu algo “único e impactante”, como ele mesmo descreveu, durante o Censo no Amazonas. É que Leonardo e a equipe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conseguiram recensear pela primeira vez o povo Zuruahã (autodenominado Suruwaha), indígenas de recente contato, que vivem distantes das principais vias de navegação do médio Rio Purus, no município de Tapauá.

O coordenador de área responsável pelo local, André Moura, disse que, segundo as informações que obteve, o IBGE já havia chegado à aldeia antes, mas os indígenas se recusaram a serem recenseados.

“Eles fugiam, não deixavam entrar, sumiam na mata; mas, dessa vez, foram recenseados e, inclusive, esse é um dos maiores troféus que eu levo desse Censo, ter contado os Suruwaha, de Tapauá, e também os Pirahã de recente contato, do município de Humaitá”.

De acordo com dados do Censo 2010, foram recenseados somente 15 pessoas indígenas da etnia Zuruahã (Suruwaha) no País, sendo seis residentes na Região Norte.

Maratona para chegar até os indígenas Suruwaha

Antes de Leonardo ser chamado para a missão do Censo entre os indígenas Suruwaha, alguns recenseadores haviam dito que tinham receio de realizar a coleta do Censo no local, mas Leonardo já tinha se oferecido para cumprir essa tarefa.

“Eu queria ir e aceitei o desafio e, assim, a nossa maratona começou”, conta ele.

Guias da FUNAI e SESAI acompanharam Leonardo até a Terra Indígena Suruwaha, conforme procedimentos exigidos por estes órgãos. Munidos com as orientações dessas instituições e também da Base de apoio à coleta de PCTs, do IBGE, a equipe partiu para a viagem.

Logo para começar, o trajeto até a base da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) mais próxima da aldeia levou cerca de cinco dias de barco.

“Na base, eu e o representante da FUNAI, Mauro Knackfus, que me acompanhou o tempo todo, ficamos mais de duas semanas, fazendo quarentena. Os indígenas têm medo de contrair doenças de pessoas de fora da aldeia, pois já sofreram muito com epidemias”, relata. 

Depois, a viagem para chegar até a aldeia foi definida por Leonardo como extremamente difícil.

“Demoramos um dia inteiro para chegar na boca do Igarapé Preto, que dá acesso à aldeia; acampamos no meio do mato, com o receio de sermos picados por mosquitos, ou de virarmos alvo de onça ou cobra, já que é uma área de preservação ambiental e os animais circulam livremente lá”, relembra o agente censitário.

Dias na Terra Indígena

No primeiro dia, Leonardo disse que todos os indígenas estavam curiosos com as visitas na aldeia. Cederam um papiri, uma espécie de abrigo feito de folhas.

“Para que ficássemos mais à vontade, e todos os indígenas foram para a maloca (grande habitação coletiva). À noite, eles foram visitar a gente”. Em relação à comida, a equipe levou sua alimentação, principalmente enlatados, para o período na Terra Indígena, “e dificilmente os indígenas comiam com a gente, apesar de serem curiosos, e quererem provar nossa carne em conserva”, relembra o agente.

Leonardo relata que os indígenas têm bastante curiosidade para conversar com pessoas novas.

“Alguns pegavam pelo braço e levavam a gente para um canto, sentávamos perto de uma árvore, e eles começavam a ensinar algumas palavras da língua deles (da família linguística Arawá), porque como o pessoal da FUNAI vai lá com alguma frequência, eles sabem um pouquinho de português já; pegavam objetos e falavam o nome na língua deles; deu para aprender algumas frases”, conta.

Leonardo revela que pagaria para trabalhar com Povo Indígena Suruwaha. “Acho que nunca vou esquecer dessa experiência! Eu teria até pagado para ter tido essa oportunidade de conhecer essa aldeia, enquanto vários recenseadores não quiseram ir por receio, pela dificuldade de chegar ao local; mas a verdade é que foi gratificante para mim e eu fiquei extremamente feliz de poder ter realizado o primeiro Censo Demográfico naquela aldeia. Foi uma experiência única e impactante”.

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