Manaus, 15 de maio de 2024
×
Manaus, 15 de maio de 2024

Notícias

Investigação de carnificina no AM agrava relação entre governo e ‘federais’

Investigação de carnificina no AM agrava relação entre governo e ‘federais’

A investigação ordenada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, para apurar a responsabilidade na morte de 55 presos, nos dias 26 e 27 de maio,  dentro dos presídios do Amazonas por agentes da Polícia Federal (PF) agravou ainda mais a relação já frágil entre os dirigentes da Segurança do governo do Estado e os membros da alta cúpula da PF e do Ministério Público Federal (MPF).

Sérgio Moro e Louismar Bonates: investigação vai apurar a responsabilidade do Estado na mortes de presos ligados à facção (Reprodução)

Em março deste ano, havia a informação sobre a resistência dos “federais” (PF e MPF) em participar das operações de combate ao tráfico de drogas da Secretaria de Segurança Pública (SSP/AM), pasta comandada pelo coronel da Polícia Militar (PM), Louismar Bonates.

A objeção dos agentes da PF e dos membros do MPF se dava, principalmente, por dois motivos: o primeiro, a falta de estratégia para coibir a origem do comércio ilegal de entorpecentes, que passa, primeiramente, pelas fronteiras do Estado – uma informação de conhecimento público. 

O segundo motivo da recusa dos agentes e procuradores no envolvimento dos trabalhos da SSP é o “desconforto” de atuar ao lado do homem que foi citado em duas operações envolvendo o crime organizado. Bonates não foi processado em nenhuma das investigações.

Extermínio e proteção

Em uma das operações, a PF/MPF apurou a existência de um grupo de extermínio dentro da Polícia Militar para evitar a formalização de denúncias contra líderes do tráfico internacional de drogas, a operação “Centurião”, de 2005.

Dez anos depois, Bonates aparecia em outra operação federal, a “La Muralla”. Essa atuou especificamente para desmontar um esquema de proteção de membros dos poderes Executivo e Judiciário à facção Família do Norte (FDN).

De acordo com investigação da PF, um áudio rastreado mostra que Bonates marcou encontro com o líder da facção Família do Norte, José Roberto Fernandes, o “Zé Roberto da Compensa”, na biblioteca do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), no ano de 2015, para fazer um acordo de paz em troca de algumas regalias.

No encontro, Bonates teria garantido que nenhum membro da FDN seria transferido para presídios federais, e os dois pavilhões que abrigavam o Primeiro Comando da Capital (PCC), no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM), seriam extintos.

Disputa pelo poder 

A FDN, ou melhor, o seu domínio foi o epicentro dos assassinatos das dezenas de detentos, nos presídios do Amazonas, cujas responsabilidades, Sérgio Moro quer investigar.

Confirmada pelo Ministério Público do Estado (MP-AM), a causa da carnificina no sistema prisional amazonense foi a disputa interna pelo poder entre os dois fundadores da FDN,  Zé Roberto e João Pinto Carioca, o “João Branco”. Informações oriundas da PM dão conta de que João Branco pretendia sair da FDN para liderar o PCC.

Apesar de os dois traficantes estarem em presídios federais, fora do Amazonas, seus líderes iniciaram um motim para medir forças sobre qual grupo conseguiria sobreviver à “guerra” pelo controle da facção.

Aviso ignorado

O que chamou a atenção dos membros do MPF e agentes da Polícia Federal foi a suspeita de haver um relatório emitido pela própria Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), no qual era avisado a existência de um plano para matar dissidentes da FDN, dentro dos presídios do Amazonas.

A informação foi veiculada nesta quinta-feira, 30, pelo jornal O Estado de S. Paulo. Na reportagem, o secretário da Seap, Vinícius Almeida, se justifica, dizendo que era preciso haver pelo menos dois agentes penitenciários em cada cela, para evitar o massacre.

“Não tinha como saber o horário imediato. As tropas estavam acionadas e agiram de forma muito rápida, mas era necessário haver entre dois e três agentes em cada cela”, disse Almeida.

Embora já tenha disparado que as mortes dos presos ligados à FDN no sistema prisional do Amazonas remetam a um total “descontrole estatal”, o ministro da Justiça, também, busca apurar se houve uma “falha proposital” de agentes públicos nos assassinatos e se o “ato falho”  teve, na  verdade, o objetivo de beneficiar algum dos líderes da organização.