Manaus, 2 de maio de 2024
×
Manaus, 2 de maio de 2024

Cenário

Joana Darc se cala após censurar jornalista dentro do Plenário da Aleam

A deputada tomou os equipamentos da profissional e apreendeu em sua bancada; a profissional ficou de cócoras por cerca de 20 minutos "conversando" com a deputada a fim de chegar a um acordo.

Joana Darc se cala após censurar jornalista dentro do Plenário da Aleam

Joana Darc censura jornalista dentro da Aleam (Foto: Celso Maia/Portal AM1)

Manaus (AM) – Um cena triste e lamentável aconteceu dentro da “Casa do povo”, como é conhecida a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), no bairro Flores, zona Centro-Sul, na última segunda-feira (11), quando a deputada Joana Darc (UB), censurou uma jornalista após ser entrevistada.

Tudo aconteceu durante a solenidade da outorga de ‘Medalha do Mérito Legislativo 2023’ da Aleam. O Portal AM1 presenciou a cena, assim como os demais veículos de comunicação que acompanhavam o evento.

Joana concedia entrevista à jornalista Rhyvia Araújo, quando foi questionada sobre a Expoagro 2023, referente ao manejo de animais em rodeios e vaquejadas, uma vez que a deputada tem como uma das principais bandeiras a causa animal.

Segundo a jornalista, a parlamentar chegou a responder os questionamentos e disse ser contra a maus-tratos contra animais, porém, foi possível perceber naquele momento que Joana ficou incomodada e pediu que o material não fosse publicado.

(Foto: Celso Maia/Portal AM1)

Na tentativa de impedir a sua publicação, Joana tomou o microfone da profissional e levou para a sua bancada dentro do Plenário Ruy Araújo. Após a apreensão do instrumento de trabalho da jornalista, Joana pediu ao seu assessor, que chamasse Rhyvia para “conversar”.

Ali mesmo, Rhyvia ficou de cócoras por cerca de 20 minutos, tentando chegar a um acordo com a parlamentar, que ao percerber que a conversa estava sendo gravada, tomou o celular das mãos da repórter e impediu que a gravação conitnuasse. Ao Portal AM1, Rhyvia contou que se sentiu coagida.

“Não tive nem tempo de retrucar quanto ao microfone, eu também não quis alarde, quis ouvir ela. Mas me incomodei muito quando ela apreendeu os celulares e o microfone. Eu entendo que ela se preocupe com a imagem dela, mas as coisas que ela disse durante a conversou, que durou uns 20 minutos, e a forma que ela falou me incomodaram”, relata.

A jornalista diz ainda que ficou muito nervosa com toda a situação, e que até tentou entender a deputada, que está grávida.

“Sei que ela também estava [nervosa], mas a maneira como ela tentou ocultar o meu papel de jornalista foi desnecessário. E foi exatamente por isso que quis escutá-la e fui entrevista-lá, porque no dia a dia é quase impossível conseguir uma entrevista”.

Na foto a jornalista está de cócoras ao lado da bancada da parlamentar, assim como o microfone dela apreendido na mesa da deputada (Fotos: Celso Maia/Portal AM1)

 

Segundo a jornalista, Joana chegou a comentar que se ela continuasse “batendo na base aliada do governador”, não teria mais respeito de outros políticos.

Ao final da conversa, que também foi registrada pela nossa equipe, a parlamentar entrega os instrumentos de trabalho para a jornalista, que visivelmente está nervosa, e vai para a sua bancada. O assessor de Joana, que se identificou como Paulo, ficou ao lado de Rhyvia para assegurar que a entrevista da parlamentar não iria prejudicá-la.

 

Posicionamentos

Rhyvia Araújo afirmou que registrou Boletim de Ocorrência (B.O) contra Joana Darc e pretende denunciá-la à ouvidoria da Aleam. Procurada pela reportagem, a fim de esclarecer o caso, a deputada não se manifestou.

(Foto: Portal AM1)

O ouvidor da Casa legislativa, deputado Sinésio Campos (PT), também não se manifestou até o fechamento desta matéria. A reportagem questionou o deputado, que é colega de Joana Darc, se era mesmo necessário que a jornalista formalizasse a denúncia na ouvidoria ou se a Casa tomaria alguma atitude disciplinar, porém, não houve respostas. O espaço segue aberto para futuros posicionamentos.

Violência contra o jornalista

No mesmo dia em que o fato aconteceu dentro do Plenário da Aleam, boa parte dos deputados que compõem o Parlamento estadual, estiveram prestigiando o lançamento do livro “A Terceirização da Repressão: agressões físicas e morais a jornalistas”. Joana não estava presente, mas o ouvidor da Casa, sim, além do presidente, deputado Roberto Cidade (UB).

(Foto: Divulgação)

O livro é da doutora em Comunicação e Linguagens, jornalista, pedagoga, e Mestre em Educação, Carla Castello Branco, que destacou ao Portal AM1, que a ação de Joana Darc, além de lamentável, se torna uma brecha para que a sociedade faça o mesmo contra a imprensa.

“Quando um político age dessa maneira, a sociedade vai fazer o mesmo. A sociedade que eu falo, que não busca sobre a importância da prática jornalística, sobre a importância do papel do jornalismo na sociedade. Só que, quando uma parlamentar age dessa forma, ela está estimulando outras pessoas a fazer o mesmo, que é o que tem acontecido nos últimos anos”, explica Castello Branco.

A censura contra jornalistas e contra a imprensa não é recente, e muito menos um caso isolado, como o de Rhyvia Araújo.

Carla Castello Branco menciona ainda, o período em que os jornalistas precisavam esconder seus crachás para trabalhar com medo de sofrerem algum tipo de violência no meio da rua, destaca-se aí o período da ditadura militar.

Vale lembrar que em 2018, ano das eleições presidenciáveis no Brasil, a imprensa foi muito atacada e agredida física e moralmente pela população que acreditava em uma ideologia extremista, que infelizmente, ainda existe cinco anos depois, mesmo com a troca de governos.

Para a especialista, a violência contra a imprensa acontece há muito tempo e para impedir essa prática, é necessário um longo processo.

“Quando praticamos o mal ao outro, isso se torna uma violência simbólica, e a liberdade de imprensa está relacionada à nossa prática jornalística, e a gente precisa refletir acerca de todas essa implicações relacionadas, tanto a liberdade de imprensa como a liberdade de expressão. É um processo intenso e prolongado essa censura que corrói a nossa credibilidade. A credibilidade da categoria, das organizações jornalísticas”, detalha.

Mas, para a doutora em comunicação, que também é jornalista, o fato não deve ficar impune, uma vez que, censurar a imprensa é crime.

“Infelizmente muitos casos ficam impunes, mas a gente não pode desistir, e a jornalista tem que buscar os seus direitos com os advogados, ela tem que ir até à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), aqui mesmo (em Manaus), no Sindicato dos Jornalista Profissionais do Amazonas, e buscar apoio da sociedade civil, principalmente das pessoas que tem a consciência em relação à seriedade que é o trabalho jornalístico”.

LEIA MAIS:

Homem denuncia policiais da Rocam por invasão e agressão a funcionário

Yara pede justiça na Câmara dos Deputados por agressão

Fausto Jr. classifica como covardia agressão de Ari Moutinho à Yara Lins