“Porto de lenha…tu nunca serás Liverpool!”. Uma música clássica, embora a cultura européia esteja presente nos prédios históricos de Manaus, conhecer esses espaços é relembrar o passado da Belle Époque na capital amazonense.
A visita começa no Palácio Rio Negro, que já foi sede do Governo do Estado. Criado em 1903, pelo barão da borracha, Karl Waldemar Scholz, o prédio é uma das maiores lembranças do tempo em que Manaus ficou conhecida como “Paris dos Trópicos”.
No palácio, o cenário é composto por esculturas e pinturas históricas, como a imortalidade, do artista Branco e Silva.
O quadro faz referência ao choque de cultura entre os europeus e os povos nativos do Estado. Os indígenas não eram dignos de entrar no “paraíso”, que seria a casa de ópera. Por esse fato histórico, atualmente os amazonenses não pagam para entrar no Teatro Amazonas e é cobrado um valor simbólico de turistas.
Nas escadas, você também encontra as três madeiras proibidas: Pau Brasil, Jacarandá e Pau Amarelo, que são protegidas como Patrimônio Histórico e não podem ser utilizadas em novas construções.
Já os móveis, vieram da antiga sede do governo português, do imperador D. Pedro 2 logo após ele retornar a Portugal. Além disso, na sacada você tem uma vista da antiga praça do barão.
Outro prédio histórico é o Palácio da Justiça, que foi sede do Poder Judiciário até 2006. Construído há 106 anos, a arquitetura traz detalhes do estilo Neoclássico nas colunas, Art Nouveau no corrimão da escadaria, que remete à natureza, e o Barroco no teto.
Os móveis ainda são os mesmos da época da inauguração. Atualmente o palácio funciona como Centro Cultural e Museu do Crime. Anos antes, foi palco de julgamentos que entraram para história.
Como o “Caso Delmo”, torturado e assassinado de forma brutal por 54 motoristas após matar o chofer José Honório Alves da Costa. O episódio fatídico, que ocorreu no ano de 1952, foi manchete de diversos jornais da época.
A morte do jovem foi uma vingança do grupo de motoristas, que armaram uma emboscada e levaram o rapaz quando ele saía em uma ambulância da Santa Casa de Misericórdia. Delmo foi arrastado na estrada, torturado e teve seu corpo aberto.
Dos 54 motoristas, apenas 27 tornaram-se réus no processo. O julgamento durou um ano e em 1953, o juiz Ernesto Roessing proferiu a decisão. Dos 27, apenas 18 foram condenados a pena, que totalizou 367 anos de prisão.
Outro detalhe fascinante é que o palácio possui uma escultura rara da Deusa da Justiça, retratada sem a venda nos olhos, sentada e com a balança pendendo para o lado esquerdo.
Praças, histórias ambulantes
Além dos palácios, as praças de Manaus também contam histórias, como a Heliodoro Balbi, popularmente conhecida como Praça da Polícia.
No local, funcionava o antigo quartel da Polícia Militar que atualmente é o Palacete Provincial. O coreto, bancos e até o Clube da Madrugada completam o cenário para quem deseja aproveitar um tempo ao ar livre. A praça também já foi palco de um fato marcante ocorrido em 1884.
Isso porque o presidente da província, Theodoreto Souto, assinou em 10 de julho o decreto que abolia a escravatura no Amazonas, quatro anos antes da princesa Isabel assinar a Lei Áurea.
Já a Praça 5 de setembro é uma comemoração a Elevação do Amazonas à Categoria de Província. No centro da praça, há um monumento em homenagem a Tenreiro Aranha que lutou pela emancipação do Grão-Pará.
Popularmente conhecida como Praça da Saudade, o nome faz referência ao primeiro cemitério de Manaus construído na área, que abrangia desde a praça até onde, atualmente, funciona o Atlético Rio Negro Club. Os ossos foram removidos e levados para o Cemitério São João Batista, onde permanecem até hoje sem identificação.
Cada detalhe, conta um pouco da história de Manaus que completa 350 anos de um passado de conquistas e expectativas de um futuro ainda melhor.
Confira o vídeo:
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