Manaus, 1 de maio de 2024
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Brasil

Mesmo após fim de incêndio, Pantanal terá mortandade de espécies aquáticas

Além de produzir uma grande quantidade de cinzas, o fogo queimou algumas espécies de árvores que ajudam a filtrar a água

Mesmo após fim de incêndio, Pantanal terá mortandade de espécies aquáticas

Reprodução: jornaldebrasilia

A destruição do meio ambiente no Pantanal, provocada pelos incêndios de 2020, deve continuar por mais tempo, mesmo depois que as chamas forem controladas. O principal problema é a contaminação dos rios pelas cinzas que serão carregadas no período da cheia.

“A cinza é potencialmente tóxica para os animais que vivem ali e ela pode provocar uma queda no nível de oxigênio dos rios, com isso, esperamos uma mortandade em massa de peixes no Pantanal”, explica Ibraim Fantin, doutor em recursos hídricos pela Universidade Federal do Mato Grosso.

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Além de produzir uma grande quantidade de cinzas, o fogo queimou algumas espécies de árvores que ajudam a filtrar a água.

“Essas árvores possuem uma raiz aérea, uma espécie de cipó, que retira as impurezas e ajuda a oxigenar o rio. Com as queimadas, isso não vai acontecer esse ano e o resultado será a fermentação da água e a morte de muitas espécies aquáticas”, explica Alessandro Majuro, que nasceu e cresceu no Pantanal e hoje trabalha como guia turístico.

O Pantanal tem cerca de 260 espécies de peixes, que se aproveitam de uma extensa área alagável no período das cheias. O pantaneiro Josué de Souza trabalha como piloteiro no distrito de Porto Jofre, em Poconé, e torce para que o meio ambiente se recupere logo.

“Eu espero que meus e meus netos ainda consigam apreciar esta natureza linda. Acho que não vai ser agora, mas daqui alguns anos o ambiente vai se renovar e tudo vai voltar ao que era antes”, diz ele.

Interferência humana

O fogo não é o único efeito da interferência humana no ecossistema do Pantanal. As populações de peixes e animais aquáticos sentem diretamente a mudança na qualidade das águas dos rios, desde a nascente, nas regiões mais altas, até a planície.

“Para que se possa manter o Pantanal, precisamos olhar para as cabeceiras dos rios porque é lá que temos agricultura extensiva, indústrias e as cidades”, explica Ibraim Fantin, da UFMT.

As cidades de Cuiabá e Várzea Grande têm cerca de um milhão de habitantes e, segundo Fantin, a qualidade do rio Cuiabá sofre nesse caminho, inclusive com a ocorrência de fármacos.

“Antibióticos, anti-inflamatórios, hormônios e muita cafeína. Esses poluentes não são nem definidos pelas normas legais, ou seja, nós nem sabemos o que é seguro de consumir”, diz o especialista.

Ele aponta um outro aspecto da intervenção humana: “As usinas hidrelétricas mudam a vazão dos rios e provocam retenção de sedimentos, o que provoca efeitos tanto na parte alta como na planície pantaneira”.

A monocultura ao longo dos rios também pode prejudicar a qualidade do ambiente aquático do Pantanal. Para a bióloga Lúcia Mateus, as populações de peixes são diretamente afetadas.

“Um dos problemas que temos na região do planalto com o agronegócio são os agrotóxicos que estão sendo carreados para dentro da água”, diz ela.

Prevenção

Para os especialistas, a preservação da natureza é sempre o melhor negócio.

“Quando a gente pensa em bacia hidrográfica, ações corretivas são muito difíceis e caras. Por isso, vale muito mais a pena investir em prevenção desses problemas do que depois fazer ações corretivas que nem sempre são eficientes”, explica Ibraim Fantin.

A professora e ecóloga Cátia Nunes da Cunha diz que questões pontuais podem até ser solucionadas, mas nem sempre isso é possível quando o estrago já saiu do controle.

“O grande problema é quando entra no funcionamento do ecossistema porque aí nós não sabemos onde está a chave de liga-desliga”, explica.

Entre as medidas que devem ser adotadas pelas autoridades, a bióloga Lúcia Mateus aponta que a principal é fiscalizar o cumprimento da legislação.

“Respeitar a distância mínima nas margens dos rios para que não se tenha plantações chegando até a beira do curso d’água, além de não aterrar nascentes, são alguns dos exemplos”, diz.

 

(*) Com informações da CNN