Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

Moradores de palafitas sofrem com doenças e acidentes no AM: ‘é horrível morar aqui’

No Educandos, moradores são obrigados a viver em péssimas condições sanitárias, inclusive, em meio ao lixo

Moradores de palafitas sofrem com doenças e acidentes no AM: ‘é horrível morar aqui’

Famílias vivem em meio a vários riscos (Foto: Del Lima/ Portal AM1)

MANAUS – Com o início da subida das águas do Rio Negro, a população que mora em palafitas, nas margens do rio, no bairro de Educandos, zona Sul de Manaus, teme ser contaminada por doenças. Em meio a estrutura precária, a população também convive com o risco de acidentes.

A equipe de reportagem do Portal AM1 conversou com alguns moradores de uma das áreas mais afetadas, e que, todos os anos, sofrem com a cheia do rio. No Educandos, as famílias, que não têm para onde ir, são obrigadas a viver em péssimas condições sanitárias, sem saneamento básico.

A dona de casa Tiane Brandão, de 37 anos, precisou construir uma nova casa, pois, segundo ela, está cansada de todos os anos improvisar pontes, as chamadas “marombas”. Tiane recordou que, na cheia de 2022, uma aranha picou seu filho de 10 anos.

“Tô fazendo uma casa, porque essa daqui alaga, tô me prevenindo porque todo ano [a gente] faz maromba, vai atrás de tábua, se prevenindo dos bichos porque todo ano sobe esses bichos aí. Uma aranha ferrou meu filho aqui na porta e criou uma bolha e tava com umas ‘ovinhas’ no braço dele por causa da cheia”, relatou.

Outra moradora da área, Caroline Santos, de 23 anos, considera a subida das águas o pior período, pois tem medo da aproximação de cobras, jacarés, ratos e outros animais peçonhentos.

“Esse período de enchente é o pior. Aparece cobra, jacaré, rato. Já aconteceu de criança cair dentro d’água quando tá cheio. Sobre isso é muito chato, muito horrível morar aqui. Todo ano a gente passa pela coisa e às vezes a gente não tem nem dinheiro pra tá mantendo a casa, tá comprando esteio, tá comprando tábua pra fazer maromba”, contou a moradora.

Conforme a Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (Semasc), a pasta já começou a cadastrar as famílias que serão atingidas para dispensar benefícios eventuais e fazer o pagamento do Auxílio Aluguel.

Contudo, segundo os moradores, a ajuda da Prefeitura de Manaus chega tarde todos os anos.

“Eles dão o auxílio só depois que a água tá na canela, a casa tá alagada, com maromba, aí que vão passar, é uma enrolação para dar o dinheiro”, disse Tiane.

Consequências em números

A quebra de recordes de inundações e suas consequências sociais e econômicas tem virado rotina para a população da capital e de vários municípios do estado. Em 2022, cerca de 385 mil pessoas foram afetadas pela cheia em todo o Amazonas; em 2021 foram mais de 500 mil pessoas.

Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), no Amazonas, foram registrados 44 casos de leptospirose, de 2022 a 2023, sendo 32 em 2022 (janeiro a dezembro) e 12 em 2023 (dados de janeiro). Para efeito comparativo, foram registrados 7 casos em janeiro de 2022 e 12 casos em janeiro de 2023. 

Em Manaus, foram registrados 37 casos de leptospirose, de 2022 a 2023, sendo 26 em 2022 (janeiro a dezembro) e 11 em 2023 (dados de janeiro). Para efeito comparativo, foram registrados 6 casos em janeiro de 2022 e 11 casos em janeiro de 2023. 

Cheia 2023

Neste domingo (19), o nível do Rio Negro, em Manaus, registra 25,52 metros. Conforme o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o primeiro alerta para a Cheia 2023 será emitido ainda este mês.

Em 2021, o Rio Negro atingiu a marca dos 30,02 metros em Manaus. Foi a maior da história desde o início dos registros, em 1902.

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