Manaus, 5 de maio de 2024
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Cidades

Motoristas são ameaçados e coagidos por flanelinhas no Sambódromo e Arena da Amazônia

A reclamação por conta dos preços abusivos é constante, principalmente, durante shows musicais e eventos futebolísticos.

Motoristas são ameaçados e coagidos por flanelinhas no Sambódromo e Arena da Amazônia

Flanelinhas atuam no entorno do Sambódromo e da Arena da Amazônia - (Foto: João Viana/Semcom)

Manaus (AM) – Mais uma vez, a cobrança abusiva feita por flanelinhas no entorno do Sambódromo de Manaus e Arena da Amazônia, localizados nas zonas Centro-Oeste e Centro-Sul, respectivamente, vem causando indignação dos motoristas que vão aos locais participar de eventos festivos, mas se sentem coagidos pela prática e pedem fiscalização e políticas públicas para resolver o problema.

No último sábado (20), a ativista da educação e pré-candidata a vereadora, Cristiane Balieiro (Podemos), viveu na pele a pressão imposta pelos flanelinhas na área do Sambódromo de Manaus. Ela gravou um vídeo, que viralizou, falando da indignação e cobrando fiscalização para o local.

Em conversa com o Portal AM1, Cristiane Balieiro relatou que foi ao Sambódromo acompanhada de amigos para participar de um evento bovino. No entanto, ao chegar para estacionar entre o Sambódromo e a Arena, foi abordada por um flanelinha que cobrou R$ 30. Cristiane achou o valor exagerado, principalmente considerando que o evento em si era gratuito. Ela tentou negociar, mas o flanelinha foi rude e inflexível. A situação se tornou ainda mais desconfortável quando outro flanelinha se aproximou, exigindo que ela pagasse ao menos R$ 20 ou saísse do local.

“Eu falei R$ 30 não dá, tá muito pesado. Aí ele falou, então deixa R$ 25, minha patroa. Mas ele já começou a me tratar de forma muito grosseira, de forma muito ríspida. E aí eu disse que R$ 25 ainda era muito e que pagaria R$ 10. Ele falou, não, não, para R$ 10 e R$ 15 eu não baixo. Eu fiquei bem irritada, aí veio outro flanelinha perguntando se eu iria pagar R$ 20 ou não? Tipo assim, se a senhora não pagar os R$ 20, pode sair daqui. Eu ainda peguei o telefone para ligar para polícia, para o 190, mas eu pensei, não adianta a polícia vir, eu estacionar numa boa, porque depois eles vão fazer alguma coisa com meu carro. Então, tinha duas pessoas no meu carro também, dois amigos, e eles ficaram nervosos. E eu sou mulher e achei melhor realmente sair dali e estacionar em outro lugar, mais adiante, onde eu paguei R$ 10”, relatou Balieiro.

 

Repercussão

Após compartilhar sua experiência em um vídeo, Cristiane notou uma grande repercussão, com muitas pessoas relatando experiências semelhantes. Ela percebeu que havia uma espécie de ressentimento reprimido entre as pessoas em relação à prática dos flanelinhas, e seu vídeo parece ter dado voz a essas frustrações.

Cristiane enfatizou a necessidade de fiscalização e de uma solução para o problema dos flanelinhas. Ela relatou que algumas pessoas comentaram que evitam dirigir até eventos devido ao custo de estacionamento com flanelinhas, que pode chegar a R$ 50 ou R$ 70 durante os shows.

Um comentário que chamou atenção de Cristiane foi de alguém dizendo que as pessoas pagam até 500 reais para um show, mas reclamam de R$ 30 para um flanelinha. Cristiane destacou a diferença entre essas situações:” pagar caro por um show é uma escolha, enquanto o pagamento aos flanelinhas é uma forma de coerção. Se não pagar, há o risco de danos ao carro, o que é confirmado pelos depoimentos de muitos internautas”.

Cristiane expressou a necessidade de resolução para o problema, destacando que não é justo pagar altos valores para estacionar, considerando especialmente os impostos já pagos. Ela acredita que algo deve ser feito para lidar com essa questão, que afeta tantas pessoas.

Há dez anos, CMM não aprovou proibição de flanelinhas

A reportagem procurou o deputado estadual Rozenha (PMB), que, em 2014, quando era vereador, trabalhou para revogar a Lei 094/2003, que regulamenta a ação dos flanelinhas. Ele chegou a criar o Projeto de Lei n° 131/2014 para proibir o serviço em ruas, avenidas e logradouros públicos de Manaus, mas o PL não avançou na Câmara Municipal de Manaus (CMM).

“Quando estive vereador, entre 2013 e 2016, uma das minhas maiores lutas foi para tentar coibir uma lei municipal que regulamenta a atividade dos flanelinhas no centro da cidade de Manaus. Hoje, o que a gente vê em torno da arena da Amazônia, em torno do Sambódromo, Ponta Negra, é um absurdo. Uma palhaçada, o cara cobrar R$ 30, R$ 40, R$ 50 para proteger o carro dele mesmo em via pública. Essas pessoas, na minha opinião, são criminosas, praticam extorsão, sobretudo, contra mulheres. Engraçado que você paga antecipado e que quando volta, o cara nem lá está. Ele já foi embora, e o seu carro está lá jogado”, critica o deputado.

Mulheres são alvo fácil

Rozenha apontou que a prática é especialmente prejudicial para mulheres, que muitas vezes se sentem ameaçadas e coagidas a pagar antecipadamente para evitar danos aos seus veículos. Ele descreveu esses flanelinhas como criminosos que praticam extorsão, especialmente quando usam de olhares ameaçadores para insinuar que vão danificar os carros, como riscar a pintura ou furar os pneus.

 

 

Para Rozenha, Manaus enfrenta um problema de falta de segurança e justiça, uma vez que muitas pessoas se sentem à vontade para extorquir e roubar sem medo de consequências. Ele acredita que tanto a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) quanto a Câmara Municipal devem criar leis mais rígidas para coibir essas práticas. Em sua opinião, esses flanelinhas não são trabalhadores honestos, “mas sim marginais que exploram e aterrorizam a população”.

O deputado concluiu, destacando a necessidade de uma ação enérgica para combater esse problema, enfatizando que os cidadãos não deveriam ser obrigados a pagar para estacionar em vias públicas, que a segurança dos motoristas, especialmente das mulheres, deve ser uma prioridade.

Caso reincidente

O debate sobre a questão dos flanelinhas já foi levantado outras vezes pelo Portal AM1. Em fevereiro deste ano, foi publicada a matéria “Preços abusivos cobrados por flanelinhas geram indignação de motoristas em Manaus”, relatando justamente a insatisfação de motoristas da capital amazonense com as cobranças, principalmente, durante grandes eventos na cidade.

Marcos Santos, motorista, afirmou que é necessário que o poder público tome medidas para combater a prática abusiva dos flanelinhas em eventos e áreas movimentadas. Ele sugere que o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) intensifique a fiscalização nesses locais, especialmente quando ocorrem eventos de grande porte.

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Motoristas reclamam de cobrança de flanelinhas até em áreas (Foto: Thiago Bernardo/Arquivo/Portal AM1)

Segundo Marcos, com a presença de agentes do IMMU, seria possível inibir a cobrança excessiva praticada pelos flanelinhas. A fiscalização rigorosa funcionaria como um impedimento para esses cobradores ilegais, evitando que continuem extorquindo motoristas que só querem estacionar seu carro sem preocupações. Para ele, essa é a forma mais eficaz de combater o problema e garantir que os motoristas possam estacionar em segurança, sem medo de cobranças abusivas ou retaliações.

Absurdo

“É um absurdo o valor que os flanelinhas cobram. Uma vez me pediram R$ 50 para estacionar perto da arena durante um show, mesmo que eles prometam vigiar o carro e manter a segurança. No entanto, quando você volta, descobre que seu carro foi simplesmente deixado de lado, sem nenhuma fiscalização ou cuidado, apesar do que foi combinado. É uma coação disfarçada de serviço. As pessoas pagam porque se sentem obrigadas, com medo do que pode acontecer se não o fizerem. Eles usam ameaças veladas, insinuando que o carro pode ser danificado se não houver pagamento. Isso cria um ambiente de insegurança e medo, deixando os motoristas com poucas alternativas além de ceder a essa extorsão disfarçada. É preciso uma intervenção para acabar com essa prática e garantir a segurança dos motoristas e seus veículos”, pontua o motorista.

Especialistas afirmam que o primeiro passo para abordar esse problema é aumentar a fiscalização. As autoridades municipais, como a polícia e os órgãos de trânsito, devem intensificar a presença em áreas onde a atividade dos flanelinhas é mais frequente, especialmente, durante grandes eventos. Uma presença policial visível pode ser um forte dissuasor para práticas abusivas.

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As cobranças são consideras abusivas pelos motoristas – (Foto: Thiago Bernardo / Portal AM1)

Falta organização

Além disso, é crucial fornecer alternativas de estacionamento seguras e regulamentadas. Isso é um ponto levantado pelo engenheiro de trânsito Manoel Paiva. Segundo ele, as empresas que realizam eventos na cidade pecam na questão da falta de organização, pois precisam oferecer uma opção de estacionamento.

“Já que as pessoas não têm um sistema de transporte público de passageiros confiável e nem todo mundo vai de Uber, ou seja, as pessoas vão em seus transportes e, chega lá, não tem lugar para estacionar e estacionam no meio da rua. Então, essa é a lei de mercado, não tem lugar próprio e eles cobram o preço que tem, o preço é uma questão de demanda, a procura é maior do que a oferta e isso é a lei de mercado. O ideal é que se tivesse local para estacionamento seguro, com uma tarifa mais justa, com organização, com proteção ao veículo”, diz Manoel.

Em resumo, para resolver o problema dos flanelinhas, segundo o especialista, é preciso uma combinação de fiscalização rigorosa, alternativas de estacionamento regulamentadas e educação pública.

 

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