Manaus, 4 de maio de 2024
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Manaus, 4 de maio de 2024

Cidades

Preços abusivos cobrados por flanelinhas geram indignação de motoristas em Manaus

Motoristas reclamam da atuação de flanelinhas em vários pontos da cidade com cobranças consideradas abusivas, principalmente durante eventos.

Preços abusivos cobrados por flanelinhas geram indignação de motoristas em Manaus

A atuação de flanelinhas é alvo de várias críticas na cidade - (Foto: Thiago Bernando / Portal AM1)

Manaus (AM) – A velha prática de cobrança abusiva por parte de flanelinhas continua causando indignação e insatisfação entre motoristas da capital amazonense que, praticamente, se veem obrigados a pagar valores exorbitantes por medo de represálias ou danos a seus veículos caso se recusem a ceder às exigências.

Os relatos da população revelam um sentimento generalizado de impotência diante da situação. Muitos reclamam da ausência de fiscalização adequada por parte das autoridades competentes, o que permite que os flanelinhas ajam com impunidade, cobrando valores exorbitantes e, muitas vezes, intimidando os cidadãos.

Além disso, a presença constante desses flanelinhas em áreas onde já existem mecanismos de controle de estacionamento, como o Zona Azul, levanta questões sobre a eficácia das medidas implementadas para regular o tráfego e garantir a ordem nas vias públicas. A duplicidade de cobranças, tanto por parte dos flanelinhas quanto dos sistemas de estacionamento municipal, agrava ainda mais a insatisfação dos cidadãos.

A situação fica ainda complicada durante a realização de grandes eventos na cidade, como shows no sambódromo e na Arena da Amazônia, além de jogos, como foram nos últimos dois que aconteceram: o Flamengo x Audax e Vasco x Audax.

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As cobranças são consideras abusivas pelos motoristas – (Foto: Thiago Bernardo/Portal AM1)

Conforme relatos, flanelinhas estavam cobrando até R$ 50 durante os jogos. Valor extremamente abusivo, conforme frisa o universitário Paulo André, de 32 anos, que foi prestigiar o jogo do Flamengo na Arena, mas criticou bastante a questão dos altos valores cobrados pelos guardadores de carros.

“Eu fiquei incrédulo quando perguntei o valor e o flanelinha disse que era R$ 50. Rodei bastante e ainda paguei R$ 30 em outro ponto. É algo inadmissível pagar esse valor para deixar o carro estacionado em uma via pública. Toda vez que acontece um evento na Arena, eles cobram esses valores absurdos”, disse o universitário.

Diante desse cenário, a população pede ações concretas por parte das autoridades municipais para resolver esse problema. Para os motoristas, é fundamental que sejam tomadas medidas eficazes para coibir a prática ilegal dos flanelinhas, garantindo a segurança e o direito de ir e vir dos cidadãos sem que sejam explorados financeiramente.

“As autoridades precisam agir de forma precisa para resolver esse problema, garantindo que os espaços públicos da cidade estejam acessíveis a todos os cidadãos, sem que estes sejam vítimas de abusos e extorsões”, completou Paulo André.

O engenheiro de trânsito Manoel Paiva afirma que a questão é falta de organização por parte das empresas que realizam os eventos e que locais como sambódromo e Arena da Amazônia não estão preparados para receber um número grande de carros, o que acaba deixando a população nas mãos dos flanelinhas.

“Já que as pessoas não têm um sistema de transporte público de passageiros confiável e nem todo mundo vai de Uber, ou seja, as pessoas vão em seus transportes e chega lá não tem lugar para estacionar e estacionam no meio da rua. Então, essa é a lei de mercado, não tem lugar próprio e eles cobram o preço que tem, o preço é uma questão de demanda, a procura é maior do que a oferta e isso é a lei de mercado. O ideal é que se tivesse local para estacionamento seguro com uma tarifa mais justa, com organização, com proteção ao veículo”, diz Manoel, acrescentando que as empresas que fazem grandes eventos deveriam se preocupar também com essa questão de estacionamento.

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Rozenha já chegou a criar um projeto de lei para por fim à lei que regulamenta os flanelinhas – ( Divulgação/Assessoria)

Debate na CMM

Em 2014, quando era vereador, o agora deputado estadual Rozenha (PMB) trabalhou para revogar a Lei 094/2003, que regulamenta a ação dos flanelinhas. Ele chegou a criar o Projeto de Lei n° 131/2014 para proibir o serviço em ruas, avenidas e logradouros públicos de Manaus, mas o PL não avançou na Câmara Municipal de Manaus (CMM).

“Manaus tinha um centro sem leis. Naquela época, a cidade era tomada por flanelinhas que abusavam, principalmente das mulheres, não só com preços extorsivos e com ameaças de riscar o carro, mas, principalmente, para que esse dinheiro fosse entregue antecipadamente”, recorda.

O deputado chama atenção para o Art. 5º da Constituição Federal, que garante o direito de ir e vir. Para ele, o que ocorre nas ruas de Manaus é crime. Agora, na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), Rozenha diz que continua atuando contra a ação da categoria, mas não informou à reportagem se tem algum projeto em andamento sobre a questão.

O vereador Rodrigo Guedes (Podemos), que no final do ano passado apresentou um requerimento exigindo esclarecimentos da Prefeitura de Manaus sobre possíveis irregularidades no funcionamento do Zona Azul, disse que está apurando denúncias sobre ações de flanelinhas na cidade.  “Sou veementemente contra essa situação e estou apurando e colhendo denúncias sobre situações desse gênero”.

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Motoristas reclamam de cobrança de flanelinhas até em áreas (Foto: Thiago Bernardo / Portal AM1)

Zona Azul

Em relação ao Centro de Manaus, onde possui o Zona Azul e, mesmo assim, os motoristas acabam “caindo nas mãos de flanelinhas”, o diretor da empresa Consórcio Amazônia, Tecnologia de Trânsito da Amazônia SPE – LTDA, responsável por operar o modelo em Manaus, Nonato Caldeira, disse ao Portal AM1 que alguns flanelinhas aproveitam as vagas de motocicletas não operadas pelo Zona Azul e ficam pelo local, além de alguns se oferecerem para vigiar os carros, pois os trabalhadores do sistema “não são vigias”.

“Não temos o poder de polícia. Então, como as vagas de motocicletas são de competências do Zona Azul sempre tem flanelinhas pela área e que acabam cobrando para lavar carros e até mesmo vigiar os automóveis, pois o Zona Azul é um sistema simplesmente de vagas e não de vigia”, afirma Nonato.

Quando o modelo começou a operar na capital amazonense, Nonato conta que teve um acordo com o prefeito da época, Arthur Neto (PSDB), para contratar os flanelinhas para operar o sistema nas ruas da cidade; entretanto, não deu muito certo.

“Nós não temos nenhuma ingerência sobre eles, essa é a realidade. A gente convive pacificamente, às vezes [..] tem algum conflito, mas muito raramente. No início da implementação do Zona Azul, todos os trabalhadores eram flanelinhas, mas eles não se adaptaram, pois tinham esse hábito da liberdade, de ficar à vontade, enfim. Poucos se adaptaram e continuaram. De vez em quando, aparece um que quer trabalhar, a gente avalia, enfim, e aí tem perfil e entra.

Implantado em 2018, atualmente, o serviço oferta 3.323 vagas, sendo 2.694 vagas na área central de Manaus e outras 629 no conjunto Vieiralves, zona Centro-Sul da capital. O serviço começou a operar com o custo de R$ 2,45 a hora.

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Motoristas pedem fiscalizações para coibir a ação dos flanelinhas – ( Thiago Bernardo / Portal AM1)

Em 2023, um acordo extrajudicial resultou na concessão de um desconto de R$ 0,48 em cima do valor pleiteado pela concessionária, que foi de R$ 3,98, passando a custar R$ 3,50 a hora. O novo valor entrou em vigor no dia 2 de janeiro de 2023.

Até 2019, Manaus tinha 985 flanelinhas considerados legalizados, conforme dados da Associação dos Guardadores e Lavadores Autônomos de Veículos do Amazonas (Aglavam) repassados à Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).

Sobre as questões de segurança, a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) orienta todo cidadão que sofrer ameaças, por qualquer pessoa, a registrar boletim de ocorrência imediatamente para que o fato seja investigado e que a conduta de alguns flanelinhas pode caracterizar como crimes de extorsão, usurpação de função pública, ameaça e estelionato.

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