SÃO PAULO/SP– O padre Julio Lancellotti rebateu neste domingo (8) o comentário da deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal sobre a doação de comida para usuários de drogas na Cracolândia. Ao comentar uma doação de marmitas na região, realizada no sábado (7) pela Pastoral do Povo da Rua, ela afirmou que a “distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime”.
Em suas redes sociais, a parlamentar questionou a ação do religioso na distribuição de alimentos na Cracolândia. “As pessoas que moram e trabalham naquela região já não aguentam mais. O Padre os voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a se tratarem e irem para os abrigos” escreveu.
“A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime. O tema precisa ser debatido com honestidade”, disse.
Depois de ser criticada pelos comentários, ela rebateu. “Se você tivesse um parente se matando com drogas na Cracolândia, o que preferiria, alguém que o alimentasse ali, possibilitando sua permanência no vício? Ou alguém que estimulasse a sair daquela situação?”. Ela ainda destacou como marmitas são jogadas na rua e propõe uma “reflexão”.
Em conversa neste domingo com o UOL, o padre explicou que, além de ser uma questão humanitária, a partilha de alimentos tem um outro objetivo: “estabelecer vínculos com os usuários”. “O alimento não é o fim. É a forma de estar próximos e buscar saídas”, explicou.
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Ele destaca como as pessoas que fazem esse trabalho sentam à mesma mesa com os usuários para criar essa confiança. “É um processo longo e difícil. O nosso desafio não é transformar os irmãos. Mas amá-los”, disse. “Eles não serão transformados pela força do fuzil e das carabinas. Serão transformados pela humanização da vida”, defendeu.
O padre acredita que o que é falado sobre a Cracolândia se limita a um debate superficial. “Essa frase de que distribuir alimentos é favorecer o crime é um exemplo disso. Qual é o favorecimento? O favorecimento do crime é a corrupção. Não o alimento”, insistiu.
Segundo ele, frases como essa ditas pela deputada mais servem para atender a um público que pensa que o trabalho é “dar alimento para vagabundo”. “O fenômeno humano e a complexidade das pessoas ali é muito maior que se pode imaginar. Eu conheço essas pessoas sabemos dos dramas que essas pessoas têm. Não é a crueldade de negar o alimento que o transforma. Mas a capacidade de comer com ele e partilhar a vida”, defendeu.
“Amar não é dizer para eles que estão certos. É caminhar com eles na busca da transformação. As mais de 30 Cracolândias que existem por São Paulo apenas vão desaparecer quando a corrupção acabar e com essas pessoas tenham acesso a vários aspectos que lhes foram negados”, disse.
(*) Com informações do UOL
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