Manaus (AM) – A apropriação da bandeira de Israel por políticos de extrema direita reflete na perspectiva religiosa da bancada evangélica que usa a doutrina cristã para impor costumes conservadores de uma direita que não dialoga com outras culturas e, quando dialoga, é para legitimar a sua ação de direita.
O uso da bandeira de Israel é constantemente vista em templos e celebrações religiosas, principalmente, nas religiões neopentecostais e até mesmo em grupos católicos, que incorporaram ao catolicismo alguns elementos do pentecostalismo. No século XIX, a corrente teológica “Dispensacionalismo” ganhou notoriedade nos EUA, pelas pregações do inglês John Nelson Darby que popularizou o pensamento.
Este vídeo é de uma igreja evangélica no Rio de Janeiro. As pessoas entram marchando, com boinas militares e a bandeira de Israel. Suponhamos que o pastor peça para que essas pessoas votem em um determinado candidato que é pró-Israel. Eu tenho sérias preocupações com a nossa… pic.twitter.com/zzVE8bVqSe
— Vinicios Betiol (@vinicios_betiol) November 25, 2023
Porém, segundo o cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos, a identidade do cristianismo não está reduzida ao Estado de Israel, representado pela bandeira.
“Por uma questão de conveniência política, os evangélicos (e não são todos) essa leitura que eles estão fazendo é mais dos neopentecostais, a leitura da direitona, anticomunista, antissocialista, que legitima a estrutura do capitalismo é a questão ideológica mesmo”, disse Ademir.
O professor explica que o povo de Israel não significa que seja o Estado de Israel, que é diferente essa questão da formação de um povo marcado por lideranças diversas e culturas diversas.
“Quando a direita se apropria desse discurso e reduz, por exemplo, o cristianismo a uma base do Estado de Israel, então a direita, por sua vez, confunde a formação do povo de Deus com a formação do Estado. Essa confusão é por conta da conveniência para justificar o posicionamento político dessa dimensão de defesa da propriedade e da concentração da riqueza”, disse.
Dois anos antes das eleições presidenciais no Brasil, após várias manifestações e motociatas, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) lamentou o uso de bandeiras israelenses em manifestações ou atos nos quais ocorriam ataques às instituições democráticas.
O presidente da instituição, Fernando Lottenberg, afirmou, na época, que a comunidade judaica brasileira é plural e que há judeus em todos os campos do espectro político, da direita à esquerda, de centro, apoiadores e opositores do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O uso constante de bandeiras de Israel, em manifestações como as de ontem, pode passar uma mensagem errada sobre a composição pluralista da comunidade judaica brasileira e representar, de maneira equivocada, nossa posição em relação à agenda dos manifestantes e do governo”, disse.
Polêmica
Nesta semana, o governo de Israel declarou como “persona non grata” o presidente Lula (PT) após o petista comparar o holocausto de judeus na Segunda Guerra Mundial com a ação militar israelense na Faixa de Gaza. Lula criticou países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente durante viagem oficial à Etiópia.
Em resposta, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que a fala de Lula equivale a “cruzar uma linha vermelha”.
“As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e graves. Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, escreveu o premiê israelense em sua conta verificada na rede social X.
Da mesma forma que eu disse quando estava preso que eu não aceitaria acordo para sair da cadeia e que eu não trocaria a minha liberdade pela minha dignidade, eu digo: não troco a minha dignidade pela falsidade. Eu sou favorável à criação do Estado Palestino livre e soberano. Que…
— Lula (@LulaOficial) February 23, 2024
Nessa sexta-feira (23), o presidente voltou a se manifestar sobre a guerra e afirmou que defende a criação do Estado Palestino.
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