MANAUS, AM – Desde março de 2020, a comunidade científica em todo o mundo tem voltado os seus olhares para o novo coronavírus. Mas enquanto a covid-19 estende seus tentáculos pelo globo, outras doenças já conhecidas ainda merecem atenção. Essas doenças regionais, inclusive, já são velhas conhecidas na região amazônica: malária, dengue, leishmaniose e tuberculose.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças como essas podem afetar cerca de 1,6 bilhão de pessoas no mundo. A América Latina, inclusive, está entre as regiões afetadas.
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No entanto, dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) apontam que, mesmo durante a pandemia, o número de casos destas doenças diminuiu. Segundo a FVS e a Secretaria Municipal de Saúde, não houve subnotificação de casos, e muito menos interrupção no atendimento a pacientes com os males.
Confira, abaixo, os dados relacionados a essas doenças regionais.
Malária
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em 2019, a Amazônia concentrava 99% dos casos de malária. A doença, transmitida pelo mosquito Anopheles, tem maior proliferação na região por causa das condições demográficas, ambientais e sociais, que deixam a transmissão mais favorável.
Em todo o ano de 2020, a FVS registrou um total de 57.960 casos de malária. Já nos três primeiros meses de 2021, foram registradas 9.974 ocorrências da doença. O número é ligeiramente menor do que o registrado no mesmo período de 2020: 13.149 casos.
Tuberculose
Transmitida de forma semelhante à covid-19 – pelas vias aéreas – a doença ainda é uma vilã para o Amazonas. O estado concentra a maior taxa de tuberculose de todo o Brasil: 64,8 casos a cada 100 mil habitantes.
De janeiro a dezembro de 2020, foram registrados 2.863 casos da doença no estado. Em 2021, já foram 565 ocorrências nos três primeiros meses do ano. O número ainda é menor, inclusive, do que os três primeiros meses de 2020, quando 898 casos foram registrados.
Leishmaniose
Embora seja uma das doenças com o menor número de casos registrados em 2020, a leishmaniose continua sendo um problema para os amazonenses. A doença é transmitida por um mosquito, que é hospedeiro de protozoários do gênero Leishmania. Ela se apresenta de duas formas: a tegumentar americana, que ataca a pele e as mucosas; e a visceral, que ataca os órgãos internos.
No Amazonas, foram registrados 1.335 casos da doença no período de janeiro a fevereiro de 2020. Nos três primeiros meses de 2021, 392 casos. A diferença é ligeiramente menor do que o registrado no mesmo período do ano passado: 507 casos.
Dengue
A dengue persiste como um dos maiores males que ainda assolam o Amazonas. Só em 2020, o número de casos notificados chegou a 9.252. Contabilizados os três primeiros meses de 2021, já foram registrados 5.007 casos da doença, uma média de 1.669 casos por mês. Em comparação ao mesmo período de 2020, a doença foi a única que registrou alta. O número de casos registrados nos três primeiros meses do ano passado chegou a 4.922.
Segundo o médico Bernardino Albuquerque, o problema da dengue é a transmissão na área urbana. “O mosquito procria no ambiente urbano. Com isso, os casos tendem a aumentar na área urbana, dependendo da circulação e da carga viral da área”, salienta.
Atraso nas pesquisas
Albuquerque aponta que há risco de que as pesquisas de tratamentos e prevenção às doenças regionais tenham atraso. Ele as chama, inclusive, de “doenças negligenciadas”, e salienta que há riscos ainda maiores.
“O mundo todo está voltado para a covid-19, e não dá pra negar isso. O que pode haver é uma despriorização dessas doenças regionais, que já são negligenciadas. Elas, inclusive, se tornaram ainda mais negligenciadas em função do direcionamento à covid”, aponta o médico, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (FM/UFAM).
Na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD), praticamente todas as pesquisas se voltaram para a covid-19. De acordo com o Dr. Wuelton Monteiro, diretor de Ensino e Pesquisa da instituição, a doença impactou diretamente as atividades de pesquisa de docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (PPGMT/UEA). O programa tem suas atividades na sede da Fundação de Medicina Tropical.
“Vários alunos relataram prejuízos em decorrência da pandemia. Entre os problemas verificados, estavam prejuízos financeiros por causa de desemprego, desenvolvimento de problemas de saúde mental, desgaste físico e psicológico por atuar na linha de frente, entre outros”, aponta o docente, que coordena o programa.
Redirecionamento
Machado ainda salienta que parte das pesquisas desenvolvidas no PPGMT tiveram que ser alteradas para covid-19, em decorrência da emergência de saúde pública. Segundo ele, muitos alunos já submeteram propostas iniciais que envolvem a doença, originária da China.
“Três alunos de mestrado e dois de doutorado, que se matricularam antes da pandemia, alteraram suas propostas iniciais e passaram a trabalhar estudando a doença. Uma das mestres já se matriculou no doutorado, inclusive, continuando a pesquisa do mestrado. Outros dois alunos de mestrado estão estudando a covid-19 entre crianças e as alterações oftalmológicas em decorrência da doença. Uma aluna de doutorado está finalizando sua tese sobre o estudo anatomopatológico da COVID-19, tendo já publicado 3 artigos sobre o tema. O outro doutorando estuda o perfil metabolômico e imunológico de pacientes com COVID-19 grave tratados com corticoides”, completa o docente.
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