Foto: Reprodução
MANAUS, AM – Mesmo durante a pandemia do novo coronavírus, o prefeito David Almeida (Avante) insiste em continuar causando aglomerações em Manaus, contrariando as recomendações da ciência para não disseminar a covid-19, e neste sábado (22), o próprio prefeito testou positivo para a doença, pela segunda vez. A primeira, foi ainda na campanha eleitoral, em 2020.
Desde a campanha eleitoral, ainda em 2020, o prefeito tem promovido diversos ajuntamentos, mesmo em situações para “comemorar” iniciativas de saúde pública.
As aglomerações, inclusive, não são recomendadas por profissionais de saúde e ciência que estão estudando a transmissibilidade do vírus, principalmente na disseminação da variante ômicron.
Segundo o Imperial College de Londres, a taxa de transmissão da covid-19 no Brasil está, atualmente, em 1,35. Isso quer dizer que, de 100 pessoas, o vírus é transmitido para outras 135 pessoas.
Relembre os casos
Uma das primeiras situações de aglomeração registrada durante a campanha eleitoral aconteceu em setembro de 2020, durante um comício na zona Norte de Manaus. Mesmo com a maioria dos presentes de máscara, havia aglomeração. Na ocasião, ainda não haviam vacinas disponíveis para imunização da população, e ainda assim, o prefeito aglomerou junto com o então candidato a vereador Israel Adinamar.
Novembro de 2020 foi outro mês recheado de aglomerações para o prefeito. Durante as comemorações do primeiro turno, em 15 de novembro, David aglomerou mais um vez, em seu comitê na zona Sul. Oito dias depois, em 23 de novembro, o prefeito participou de uma caminhada com apoiadores no bairro Alvorada, desta vez, com muito mais pessoas. Nas fotos, que foram publicadas nas próprias redes sociais do prefeito, é possível ver pessoas sem máscara, carregando faixas e bandeiras a favor do então candidato.
2021
Com a segunda onda da pandemia, o prefeito pareceu “sossegar”. Em 12 de janeiro de 2021, o prefeito chegou a dizer, em entrevista ao jornalista José Luiz Datena, que não descartava um lockdown. Na ocasião, a cidade vivia o auge das mortes por covid-19, e dois dias depois, começava a crise do oxigênio.
Uma semana depois, começou a vacinação contra a covid-19. Não demorou muito para que as filas nos grandes postos de vacinação se formassem, causando aglomerações “do bem”. Mesmo assim, David resolveu promover novas aglomerações, e em junho de 2021, quando a capital marcou 1 milhão de doses de vacina aplicadas, o prefeito resolveu fazer uma festa no Centro Cultural dos Povos da Amazônia (CCPA), na zona Sul de Manaus. No dia seguinte, postos de vacinação em toda a cidade foram fechados, causando novas aglomerações em toda a cidade.
Com o avanço da vacinação, as restrições de circulação começaram a ser relaxadas, e com isso, o prefeito passou a aparecer em mais eventos. Foi o caso da Marcha Para Jesus, em julho de 2021. Junto com o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM), David aglomerou junto a lideranças evangélicas, e disse que Manaus estava “vivendo um novo tempo”.
Dois meses depois, David voltou a aglomerar novamente em um evento oficial da Prefeitura de Manaus. No dia 31 de agosto, a prefeitura realizou um novo evento para celebrar a marca de 2 milhões de doses de vacina contra covid-19 aplicadas. Para atenuar os protestos contra as aglomerações, no dia 2 de setembro, o prefeito decidiu obrigar a vacinação de todos os servidores da Prefeitura de Manaus, sob pena de sanções disciplinares.
Fim de ano e testagem em massa
Com mais um relaxamento das medidas de restrição, na segunda metade do mês de novembro, David anunciou a realização do Réveillon de Manaus, com a presença do cantor Luan Santana. Além disso, o prefeito também anunciou que seriam gastos mais de R$ 10 milhões para cobrir as festas de fim de ano da capital.
No entanto, a variante Ômicron do coronavírus começou a surgir. A cepa é considerada menos letal, mas de alta transmissibilidade, o que fez capitais de todo o país cancelarem as festas de Réveillon. Até o dia 2 de dezembro, 10 capitais brasileiras já tinham cancelado as festas de fim de ano, mas David foi um dos últimos prefeitos a cancelar a festa, no dia 4 de dezembro, pressionado pela população, por vereadores de oposição e por deputados estaduais. No entanto, insistiu em manter a queima de fogos.
Ainda assim, o prefeito insistiu em continuar fazendo aglomerações. No dia 6 de dezembro de 2021, David inaugurou a árvore de Natal do Complexo da Ponta Negra, causando novos ajuntamentos de pessoas. Dois dias depois, no dia 8, inaugurou o Presépio do complexo, também causando aglomerações e contrariando recomendações de saúde para combater a disseminação do vírus.
A queima de fogos foi cancelada, mas o presépio continuou, causando aglomerações e em meio à rápida transmissão da Ômicron no mundo inteiro. Mesmo com um Réveillon sem festa e sem queima de fogos, a variante chegou, e logo demonstrou sua força de transmissão: do primeiro caso detectado em Manaus, ainda nos primeiros dias de janeiro, passou a responder quase que pela totalidade dos casos de covid-19 na capital.
Não demorou muito para que filas se formassem ainda nas primeiras semanas de 2022, nos Centros de Testagem, com pessoas apresentando sintomas característicos da covid-19. No Studio 5 Centro de Convenções, formaram-se filas até mesmo do lado de fora, sem qualquer organização por parte da Prefeitura de Manaus, com pessoas sem sintomas e com sintomas na mesma fila. Os casos de covid-19 dispararam, com números se igualando aos de janeiro de 2021. O próprio David Almeida, inclusive, chegou a testar positivo para a doença no último sábado (22), após realizar outras aglomerações durante o lançamento do segundo Centro de Testagem, no Vasco Vasques, zona Centro-Oeste de Manaus.
Desrespeito
O médico infectologista Nelson Barbosa, que trabalha na linha de frente do combate à pandemia na rede pública estadual de saúde, pontua que o vírus Sars-CoV-2 ainda está circulando, e que o Brasil e o Amazonas ainda vivem um momento de pandemia, com um poder de transmissão muito alto da nova variante. Ele alerta que as aglomerações, principalmente as promovidas pelo poder público, ainda são um risco.
“Se comparada à variante Delta do coronavírus, a Ômicron é mais transmissível. O vírus continua circulando entre a população, ainda mais com a variante Ômicron, que tem poder de transmissão muito superior em comparação com a variante Delta. Por isso, independente de quem promova aglomeração, se é uma pessoa pública ou empresário, ou qualquer pessoa que tenha o poder de contribuir com aglomerações, essa pessoa está colocando a vida das outras pessoas em risco”, frisa.
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