Manaus, 9 de maio de 2024
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Entretenimento

Sem shows em Manaus: para o setor de eventos, 2021 será ano para sobreviver

Desde março de 2020, os shows culturais e grandes eventos estão proibidos em Manaus, devido à pandemia da covid-19

Sem shows em Manaus: para o setor de eventos, 2021 será ano para sobreviver

Manaus – O setor de eventos, shows e entretenimentos, que está parado desde o início da pandemia provocada pela covid-19, em março do ano passado, vem amargando prejuízos. A única alternativa para quem é do ramo é conseguir se reinventar e começar novas frentes de negócios.

Representantes do cenário se mostram desacreditados sobre um retorno dos grandes eventos em 2021 e acreditam que o setor só volta com as atividades em 2022. Entre eles está o DJ Evandro Júnior, que organiza festas e é o atual presidente da Associação de Entretenimento do Estado do Amazonas (ASSEEAM), o empresário Bernard Teixeira da Pump Entertainment e a empresária Bete Dezembro da Fábrica de Eventos.

De acordo com o DJ Evandro Júnior, durante o período de pandemia muitas casas de shows, bares, restaurantes e cerimoniais encerraram as atividades.

“Nós temos vários associados que fecharam. Todos querem voltar, mas alguns não vão conseguir pela falta de grana, pelas dívidas altas ou por perderem os locais dos empreendimentos. O exemplo disso foi o bar 092, que fechou por causa da pandemia e dois meses perdeu o espaço no Vieiralves. O dono já me disse que não retorna mais. Eu não vejo perspectiva para a retomada do setor ainda neste ano, acredito que só em 2022. No meu caso, eu parei com tudo que é evento”, disse o DJ.

Evandro Júnior_setor_eventos_Manaus

Evandro Júnior disse que não é a favor das festas clandestinas, nem mesmo para ganhar um “trocado”.

“Eu nunca fiz festa clandestina e nunca quis fazer. Durante toda essa pandemia, nós fizemos quatro eventos seguindo os protocolos de segurança, mas a gente viu que não tem como fazer mais. As pessoas não respeitam as orientações, então, pelo bem de todos, nós decidimos não fazer mais”, disse ele.

Ele contou ainda, ao Portal Amazonas1, que o negócio “apertou” e ele teve que buscar alternativas para se manter. O DJ decidiu voltar ao radialismo e criou um novo empreendimento, fora da área de eventos.

“Eu voltei a trabalhar agora como radialista assalariado. Não estou mais fazendo eventos e estou montando um foodtruck, que vai inaugurar no final do mês de março. A gente teve que se adaptar. Passamos um ano aí vendendo as coisas, negociando, vendo o que fazia, mas agora chegou a hora de correr atrás de emprego mesmo e se virar para sobreviver. Não tem condições de voltar com os eventos”, disse Evandro.

O DJ Evandro Júnior também tentou, no ano passado, uma vaga como vereador em Manaus, porém não foi eleito.

Quem também se reinventou durante a pandemia foi o CEO & Founder da Pump Entertaiment, o empresário Bernard Teixeira. Ele era responsável por megaeventos em Manaus, entre eles o Villa Mix Manaus, que trazia grandes nomes de atrações nacionais.

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Bernard Teixeira disse que embora estejam parados há um ano, viu no mercado das transmissões ao vivo, a possibilidade para não fechar na crise.

“Nossa empresa está há um ano parada, no que se refere a produção de grandes eventos, mas nós temos nos reinventado. Fomos os primeiros e únicos da região Norte a realizar um evento em formato drive-in, no ano passado, e foi um sucesso. Além da realização de lives, como a do apresentador Sikêra Júnior e da cantora Maria Gadu, na semana passada”, disse Bernard.

Com essa ampliação, por meio virtual, no mercado no ramo de eventos, o empresário disse que não precisou demitir nenhum dos 12 funcionários, pois utilizou o incentivo do Governo Federal para pagar parte dos salários dos trabalhadores. Ele também utilizou recursos próprios.

“Nós lutamos para manter nossos empregos e não demitir ninguém. A gente continua se esforçando para manter todos na nossa equipe. A gente pegou o benefício, que deu para pagar uma parte dos salários do funcionários, mas já acabou. Hoje quem está pagando somos nós mesmo, do próprio bolso”, disse.

Bernard enfatizou que a boa administração das finanças da Pump e das demais empresas, no ramo de formatura e cerimoniais, o deixou com lastro financeiro.

Bernard Teixeira_setor_eventos_empresário

“Nós estamos honrando mesmo com capital próprio. As nossas dívidas e nossos compromissos estão todos em dia. Graças a Deus, a nossa empresa não está devendo ninguém e estamos usando o dinheiro ganho ao longo de dez anos. Por enquanto está dando certo. Estamos se virando como podemos, mas fácil não está sendo”, relata o empresário.

Perguntado sobre o retorno dos grandes eventos na cidade de Manaus, ainda em 2021, o empresário foi enfático e disse que não enxerga essa possibilidade. “Infelizmente não vai acontecer”, enfatizou ele.

Bernad Teixeira adiantou ao Portal AM1 que está trabalhando para a realizar uma apresentação com a participação do cantor Uendel Pinheiro e os fãs já podem ficar na expectativa. As lives produzidas pela Pump são gratuitas para o público e podem ser acompanhadas nas plataformas digitais da empresa.

Fábrica de Eventos

Ao contrário de Bernard da Pump, a presidente da Fábrica de Eventos, uma das maiores organizadoras de eventos sertanejos e do tradicional Samba Manaus, Bete Dezembro, disse que teve que demitir quase todos os funcionários. Ela relatou que tinha 30 membros em sua equipe antes da pandemia.

“Eu ainda segurei os meus funcionários nos primeiros seis meses da pandemia. Quando a gente viu que não ia ter condições de volta das atividades, demitimos 90% do quadro. Ficamos apenas com 10% para realizar as outras atividades da Fábrica. Hoje nós só somos três na equipe”, disse Bete.

Embora tenha realizado um evento on-line, ainda em 2020, Bete falou que a falta de patrocínio a impediu de prosseguir com o formato.

“Fizemos um evento on-line no ano passado, mas a parte do patrocínio local é bem mais complicado para captar. Então só fizemos uma mesmo no período. Eu mesmo já estou fazendo outras coisas da vida, em outros segmentos, ‘me virando’. Tem várias pessoas que conheço do meu ramo que estão fazendo o mesmo”, disse a empresária.

Bete disse que a volta dos megaeventos e shows só acontecerão após a vacinação em massa, que ela considerou como muito lenta para o momento.

“Só acredito em evento após a vacinação em massa, e a nossa vacinação ainda está bem complicada, principalmente, com relação à logística. Então eu não acredito em volta do setor em 2021”, enfatizou ela dizendo que os prejuízos causados nesse um ano de pandemia jamais serão recuperados.

Bete Dezembro_setor_eventos_empresária

Ela cobra mais efetividade dos três poderes em termos de questões de políticas públicas para alavancar o setor novamente.

“A indústria do entretenimento, que é gigante no Brasil, precisa de um olhar diferenciado dos governos federais, estaduais e municipais, para que quando a pandemia passar, as empresas possam voltar. Eu acho que se o entretenimento não tiver alguma coisa bem atrativa, os empresários, com certeza, vão fugir um pouco disso. Isso porque é um segmento que demanda muito investimento e muito risco. Se realmente não tiver uma política para a volta, eu acho que vai ser difícil encontrar empresário de entretenimento que queiram investir se não tiver nenhum tipo de apoio”, ressalta ela.

Bete disse que precisou realizar empréstimos para segurar os compromissos já feitos antes e durante a pandemia.

“Fizemos empréstimo de capital de giro, pois achamos que a pandemia ia ser uma coisa mais rápida e que a gente fosse conseguir voltar em seis meses. Então a gente não “tirou o pé” e continuamos trabalhando e programando. Quando a ‘ficha caiu’, a gente viu que o ‘buraco era mais embaixo’. Em vez de melhorar, só piorava. Então ficou o parcelamento aí todo mês para pagar, por isso que tem que se ‘virar’ mesmo. Por isso que eu falo,  difícil voltar se não tiver incentivo”, comenta Bete Dezembro.

Suspensão de eventos

A suspensão de eventos de grande capacidade de público foi realizada em março de 2020, por meio de decreto da Prefeitura de Manaus, que suspendeu a concessão de licenças e autorizações municipais para a realização destas atividades na capital. A proibição foi revogada por mais 180 dias, desde o dia 1º de fevereiro de 2021, através do decreto n.º5020.