Manaus, 30 de abril de 2024
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Manaus, 30 de abril de 2024

Cenário

Série de derrotas de David na CMM põe em xeque liderança do prefeito no Parlamento

O comando de Fransuá pode estar em xeque, uma vez que, em menos de um mês, David sofreu duas derrotas no Parlamento municipal.

Série de derrotas de David na CMM põe em xeque liderança do prefeito no Parlamento

(Foto: Divulgação/Semcom)

Manaus (AM) – As dificuldades em votações, a falta de atenção da base aliada e as derrotas sofridas pela Prefeitura de Manaus, na Câmara Municipal de Manaus (CMM), podem ser uma demonstração de como se encontra a atual liderança do prefeito David Almeida (Avante) na Casa legislativa.

Desde novembro do ano passado, o vereador Fransuá Matos (PV) é o líder do prefeito no Parlamento, quando Marcelo Serafim (PSB) renunciou ao cargo, alegando que não ficaria na liderança de uma base dividida.

O ex-líder deixou o comando após dois anos, em meio à tensão que tomava conta da CMM, devido à eleição da nova Mesa Diretora. Na época, o vereador David Reis (Avante) era o presidente e demonstrou interesse em continuar no comando, tentando mudar as regras das eleições para conseguir se reeleger.

A atitude foi vista como uma manobra antidemocrática pela maioria dos outros parlamentares, que reprovaram o movimento e teve como consequência uma rachadura na base de apoio do prefeito.

O comando do novo líder, vereador Fransuá, pode estar em xeque, uma vez que, em menos de um mês, David sofreu duas derrotas no Parlamento municipal.

A liderança é uma espécie de ‘porta-voz’ do Governo na CMM. Essa liderança tem como função: esclarecer dúvidas sobre projetos encaminhados pelo Poder Executivo; articular e orientar a votação dos parlamentares que pertencem à base; bem como ser um elo entre os vereadores e o gestor municipal.

Derrotas

No dia 17 de outubro, aconteceu a primeira derrota do Executivo no plenário da Câmara.

Na ocasião, os vereadores analisavam uma mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que tratava especificamente de um aumento de 20% para 30% do limite autorizado para a abertura de créditos adicionais, fazendo com que a administração municipal pudesse utilizar esses créditos.

Ao votarem, os parlamentares da base acabaram se atrapalhando e vetaram o Projeto de Lei.

Na hora da votação, o presidente da Casa legislativa, vereador Caio André (Podemos), disse que os que aprovassem a matéria permanecessem como estavam, mas um deles levantou a mão e os outros acompanharam, demonstrando falta de atenção.

O placar acabou ficando em apenas quatro votos favoráveis e 31 contrários, rejeitando o PL. Logo depois, o líder do prefeito questionou o que teria acontecido: “O que é que foi rejeitado?”, perguntou.

A base governista afirmou que aconteceu uma incompreensão de todos, tentaram anular o resultado e votar novamente o projeto, mas o chefe da CMM encerrou o assunto: “A mesa não voltará atrás na matéria porque vocês estavam desatentos”, concluiu.

Na última quarta-feira (8), uma nova derrota aconteceu na Casa; quando, por 20 votos contrários e 19 favoráveis, os vereadores rejeitaram um pedido da Prefeitura que pedia autorização para a realização de um empréstimo de R$ 600 milhões junto ao Banco do Brasil.

O projeto ficou com um placar de 19 a 19 e o presidente foi quem desempatou com o voto ‘minerva’, negando a autorização do montante.

Caio André disse que a rejeição não tinha nada a ver com o pleito de 2024, mas que teria acontecido por falta de informações necessárias para respaldar o voto dos vereadores, ou seja, justificou que o projeto não foi aprovado por falta de transparência.

Ainda na quarta-feira, o Tribunal de Contas do Amazonas (TCE), por meio do conselheiro Mário de Mello, suspendeu um Pregão no valor de R$ 16,2 milhões da administração municipal, que previa a contratação de serviços de pintura. A suspensão foi resultado de um pedido de medida cautelar feito pelo vereador William Alemão (Cidadania).

E agora, líder?

As sucessivas derrotas deixam uma pergunta no ar: o líder do prefeito na CMM está fazendo um bom trabalho?

Fransuá está fazendo, neste mês, exatamente um ano na função, que antes era de Marcelo Serafim, que após ter abandonado o posto, também deixou o Avante, de David, retornando ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) depois de apenas dez meses na legenda do prefeito.

Na última gestão do ex-prefeito Arthur Neto (Sem Partido), os vereadores Joelson Silva (Patriota) e Marcel Alexandre (Avante) foram os políticos que ocuparam o cargo.

Joelson ficou os primeiros dois anos do último mandato na função e, depois, foi aclamado como presidente da Casa legislativa. Após ele assumir o comando da Câmara, Marcel ficou em seu lugar. Os dois exerceram as funções sem muitos problemas, uma vez que a presidência da CMM, nos dois cenários, era alinhada com o ex-tucano.

O líder de David, em 2021 e 2022, publicou na sexta-feira (10) um vídeo explicando os motivos pelos quais ele e os outros vereadores rejeitaram o pedido de empréstimo no último dia 8.

No vídeo, Serafim afirma que a “cidade de Manaus não precisa pagar esta conta”. O parlamentar disse, ainda, que no projeto não havia previsão de uma obra estruturante no estado e falou sobre os R$ 9 bilhões que o prefeito tem garantido para investimentos na capital no próximo ano.

A declaração deixa claro que, hoje, Marcelo não faz mais parte do grupo de vereadores que apoia o prefeito da cidade. Quando deixou a liderança, em novembro de 2022, o político afirmou que respeitava Almeida e tinha certeza que o prefeito encontraria um nome que faria um trabalho muito melhor.

Na ocasião, após renunciar à liderança, o vereador Everton Assis (União Brasil), que era o vice-líder, também abandonou a função.

Para completar o time, Lissandro Breval (Avante), que era líder do partido de David na Câmara Municipal, deixou o cargo depois de algumas semanas de Marcelo e Everton terem deixado a liderança do prefeito no Parlamento.

Relação tensa

O Portal AM1 conversou com o cientista político, antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Ademir Ramos sobre o assunto.

De acordo com o especialista, a responsabilidade de sucessivos fracassos na Casa legislativa não deve ser imputada somente ao líder, porque para ele, muitas vezes, esse líder não tem o respaldo necessário.

“É uma relação bastante tensa, a de um líder em qualquer Parlamento. Temos que deixar claro que o prefeito tem uma constante atitude de tomar a bola para si. Como aquele menino que está jogando em campo e, quando brigam com ele, ele pega a bola e leva para casa. Isso se exemplifica com aquela questão do Cidade (deputado Roberto), em que ele fez uma denúncia no palanque do governador e, em vez de jogar o assunto para terceiros se pronunciarem ou passar a fala justamente para esse líder (Fransuá), ele tomou para si, chamando outros de vagabundos, por exemplo”, destacou.

Ademir enfatizou que o ator principal nessa questão é o chefe do Executivo e que suas ações ou reações desgastam a sua liderança na CMM e a sua própria relação com os parlamentares do município.

“É difícil ser líder de um governo nessa altura do campeonato, de um governo que toma tudo para si, age de maneira infanto-juvenil. Para mim, parece que é preciso que ele (prefeitura) passe por um choque de realidade”, frisou o cientista político.

Outro lado

A nossa equipe entrou em contato com o vereador Fransuá e questionou como ele tem se articulado para que as matérias do Poder Executivo enviadas à Câmara tenham êxito nas votações. Além disso, foi  questionada qual era a opinião dele sobre o trabalho que tem exercido durante esses doze meses na CMM, mas até o fechamento da matéria, ele não respondeu.

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