Manaus, 11 de fevereiro de 2025
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Manaus, 11 de fevereiro de 2025

Política

Tecnologia sob controle: lei federal busca equilíbrio entre telas e aprendizado

Especialistas apontam que restrição ao uso de dispositivos em escolas pode reduzir transtornos físicos e mentais, enquanto práticas lúdicas ganham espaço em sala de aula.

Tecnologia sob controle: lei federal busca equilíbrio entre telas e aprendizado

Professora usa forma lúdica para ensinar português aos alunos do 9° ano - Foto:(Colégio Católica de Brasília)

Brasília (DF) – Crianças e adolescentes estão cada vez mais tecnológicos, e o ambiente familiar adiciona na rotina aparelhos de distração cada vez mais cedo, alterando o comportamento físico e mental dos pequenos.

Dados da Sociedade Brasileira de Pediatria mostram que a exposição às telas está diretamente relacionada a:

  • Dificuldade no sono;
  • queda no rendimento escolar;
  • impactos na saúde ocular;
  • dores de cabeça;
  • ansiedade e depressão;
  • alimentação menos saudável;
  • obesidade;
  • sedentarismo;
  • transtorno de imagem.

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou a Lei n.° 15.100, que proíbe o uso desses aparelhos nas escolas públicas e particulares.

A diretora-geral do Colégio Católica de Brasília, Denise Canal, pesquisa há 20 anos sobre a dependência tecnológica causada por aparelhos eletrônicos em crianças e adolescentes.

Para ela, a proposta aprovada pelo governo federal retira crianças e adolescentes de um “mundo virtual” causando uma ruptura de dopamina provocada pelas telas.

“Acredito que os primeiros meses serão um desafio para todos os educadores, mas que, a partir do segundo semestre, essa desintoxicação tecnológica vai fazer com que tenhamos uma geração muito mais pensante, mais reflexiva, com menos impacto na saúde biológica, psicológica e social”, sinalizou a gestora educacional.

A pesquisadora destacou ao Portal AM1 que antes de receber os alunos, a equipe docente passa por uma semana de aprendizados para lidar com possíveis transtornos ou respostas negativas durante este período de adaptação.

“Vamos fazer essa redução de dopamina tecnológica, mudando a metodologia, colocando mais prática, hands on (mãos na massa) em nossas aulas. Temos um espaço muito farto de possibilidades para que os estudantes aprendam e para que nós, enquanto educadores, consigamos reter a atenção desse estudante e estimulá-lo a sentir prazer pelo aprendizado”, disse a diretora.

A professora de língua portuguesa Alexandra Braga afirmou que o momento é de aulas dinâmicas e lúdicas. Ela atua com estudantes do 9° ano do ensino fundamental que estão na faixa dos 14 anos. Para conseguir aplicar o conteúdo, Braga explica que precisou da criatividade para sair de uma aula “chata” para um momento de aprendizado com 100% de aproveitamento.

“Eu trabalho os conectores de um texto, de uma produção textual, aula tida como tediosa por muitos, mas foi utilizado o jogo torre maluca, onde é preciso remover as peças da torre sem deixá-la cair, isso foi feito para fixar o conteúdo, foi uma aula divertida proveitosa e memorável”, disse a professora.

 

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Estudantes participando da aula de língua portuguesa – Foto:(Colégio Católica de Brasília)

A ideia criativa foi finalista do prêmio MuPi 2024, no qual os professores precisavam evidenciar a colaboração interdisciplinar.

Do outro lado da moeda, a aluna Ludmylla Aguiar, de 14 anos, estuda em uma escola pública do estado de Goiás.
Em sua unidade, a proibição já existia, mas não era tão rigorosa.

Questionada sobre como foi explicada a lei aos alunos, a estudante destacou que houve uma certa inconformidade por parte dos estudantes.

“Não estou sentido tanta falta, mas durante a aula, eu até acho necessário, no intervalo é demais”, disse a aluna.

Ludmylla está no último ano do ensino fundamental e deve estudar em média 11 matérias entre biologia, redação, matemática e inglês.

Apesar da proibição do aparelho celular, os estudantes do 9° ano receberão o Chromebook do governo estadual para realizar as atividades dentro e fora da instituição de ensino.

Distração, desorganização, aprendizado superficial são alguns dos resultados apontados pela professora Regina Lacerda em alunos que usam exageradamente os aparelhos.

“O uso excessivo de dispositivos móveis pode comprometer a interação social e a capacidade desse indivíduo de se concentrar e formar um pensamento crítico, que exige um ambiente de estudo mais estruturado.”

A mestre, que atua em escola pública, destaca que é preciso existir um equilíbrio entre as críticas ao uso das tecnologias e os benefícios que estas proporcionam nas salas de aula.
“É evidente que este cenário exige uma necessidade de se equilibrar entre o uso das tecnologias e as metodologias de ensino aplicadas, para ser possível tirar proveito das ferramentas digitais sem comprometer o aprendizado desses alunos”, explicou Lacerda.

Medo de retaliação

Questionados sobre o receio de uma possível retaliação dos alunos e da comunidade escolar, os entrevistados expressaram boa expectativa para o retorno e a adaptação dos grupos.
Camila Martins, diretora do Colégio Sigma de Águas Claras, que fica a 23 quilômetros de Brasília, apontou que a aprovação da medida fortalece a comunidade escolar.
“As regras são claras para todos, então tanto os alunos, quanto a comunidade, precisam respeitar essas regras dentro do espaço escolar. (…) A nossa expectativa é que os nossos alunos consigam se adequar bem a essa nova realidade, e comecem a perceber os benefícios já nas primeiras semanas de aula”, disse a pedagoga.
 
Entre os benefícios que devem ser notados nas turmas está o nível de socialização, que segundo a gestora, “vinha se perdendo desde 2020”.
“Vamos adotar a política de celulares invisíveis, vamos trabalhar mais com a conscientização do que com a punição. Mas é importante que os alunos percebam que limites vão ser impostos a todos.”
Por sua vez, Denise Canal destacou que a instituição vai seguir à risca a lei imposta pelo governo federal e o corpo docente não está com medo de possíveis retaliações.
“Não temos medo de represálias, nem por parte dos estudantes nem por parte das famílias, porque cada vez mais entram em evidência os malefícios deste uso excessivo”, conclui a diretora. 
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