Manaus, 28 de abril de 2024
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Cenário

Últimos discursos de Wilson podem revelar apenas apoio institucional ao prefeito

Ao Portal AM1, o cientista político Ademir Ramos disse que Wilson Lima não “trabalha” com conflito, e sim com conciliação.

Últimos discursos de Wilson podem revelar apenas apoio institucional ao prefeito

David e Wilson Lima (Foto: Dhyeizo Lemos / Semcom)

Manaus (AM) – Após mais de um ano das eleições 2022, o tom dos discursos em eventos do Governo do Estado e Prefeitura de Manaus não é mais o mesmo da época da campanha eleitoral – o que pode ser uma demonstração de que a parceria entre o governador Wilson Lima (União Brasil) e o prefeito David Almeida (Avante) se tornou apenas ‘institucional’ a dez meses do pleito de 2024, em que o atual prefeito concorrerá à reeleição.

Durante o período que antecedia a disputa majoritária do ano passado, eram constantes os gestos de apoio entre os dois chefes do Executivo e os discursos ‘acalorados’ em tom de campanha e aliança política.

No dia 2 de junho de 2022, governador e prefeito estiveram reunidos em um megaevento no Studio 5 Centro de Convenções, na zona Sul da capital e, na ocasião, David declarou apoio ‘irrestrito’ à reeleição de Lima.

“O Avante, a nossa bancada, o nosso partido, a nossa militância vai lhe apoiar. Eu estou aqui declarando, em nome do Avante, o apoio total e irrestrito a sua jornada de reeleição. O Avante se soma ao seu projeto para juntos transformarmos a história do estado do Amazonas”, disse o prefeito no dia.

Por sua vez, o governador respondeu: “Muito obrigado pela manifestação, prefeito. Na capital, nós dois fizemos a maior parceria de todos os tempos. E aqui não é parceria da boca pra fora, não. É na prática, é na realidade. Essa parceria eu fiz com o David, porque entendo a necessidade de que nós temos de avançar e resolver problemas que foram se acumulando ao longo dos anos e que, agora, a gente consegue resolver”.

Da mesma forma, no evento de confirmação da sua candidatura à reeleição, realizado em agosto, no Espaço Via Torres, zona Norte de Manaus, em um dos momentos de seu discurso, o governador disse que ele, Tadeu e David, eram diferentes dos seus adversários, afirmando que enquanto os outros prometiam, ele, o atual vice-governador e o prefeito entregavam o que prometiam.

Ainda durante o mesmo evento, David disse que atuaria como cabo eleitoral de Lima.

Mudança

Desde o início do ano, os gestores demonstraram um grande afastamento político, mesmo afirmando que a parceria entre eles continua, quando são questionados.

Wilson já esteve mais próximo de um dos pretensos candidatos e adversário de David, o deputado federal Amom Mandel (Cidadania), bem como David, que tem se mostrado mais próximo do senador Eduardo Braga (MDB) e Omar Aziz (PSD), ambos apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o qual Almeida não apoiou nas eleições de 2022.

No último dia 21, em entrevista a uma rádio local, o governador foi questionado sobre a parceria com David e, em resposta, disse que ela está mantida, mas em uma de suas falas, afirmou que “não era candidato” em 2023, tentando se esquivar dos questionamentos sobre a sua relação política com o prefeito de Manaus.

Já no dia 27 de dezembro, os gestores inauguraram o complexo viário Prefeito José Fernandes, na zona Norte da capital. Durante o evento, os dois se aproximaram novamente depois de um período sem aparecer juntos publicamente.

David teceu vários elogios ao governador, o que foi repetido por secretários municipais e o vice-governador Tadeu de Souza (Avante). No entanto, ao discursar, Wilson apenas pontuou o compromisso que ele tem com a cidade de Manaus e com o ‘gestor’ David Almeida, sem citar qualquer aliança partidária ou eleições do próximo ano.

Estratégia política

Na visão de Ademir Ramos, cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a relação política entre os “atores” e os partidos políticos se pauta além do conteúdo programático, mas para ele, atualmente, essa relação está mais voltada para questões práticas, ou seja, as questões ideológicas são minimizadas dando lugar às ações pragmáticas (conjunto de normas) e é como se define a atual relação do governador e prefeito, segundo o professor.

“Nas eleições do ano passado, eles se colocaram com uma postura bem pragmática, bem operativa, postura estratégica para ganhar a eleição. Outro aspecto, que é preciso considerar, é que todo discurso é mutável (que pode mudar), as estratégias são mutáveis, as eleições que tivemos no passado tiveram as suas estratégias. O Wilson tem agido assim com o David, eles discutem programas de asfaltamento, assinam um convênio aqui, outro ali, o governo repassa recurso para a prefeitura por meio de uma ação conjunta, então, eu vejo mais uma questão pragmática”, explicou Ramos.

Por outro lado, o cientista político destacou que a relação pode não significar um apoio político real em 2024.

“Agora, pode ser também que o David, por sua vez, não acredite tanto que possa contar com o Wilson Lima no processo eleitoral. O Wilson adota outra estratégia e a estratégia do Wilson em relação ao David mudou, claro que mudou, assim como a David em relação ao Wilson Lima”, destacou.

O professor lembrou que o prefeito tem se aproximado mais do PT; tem o apoio de Braga, que por sua vez, tem interesse em disputar o Senado Federal em 2026, assim como o governador.

“Tanto um como o outro mudaram as estratégias e tem que ser assim mesmo; tem que mudar; pensar o todo. O Wilson está com três nomes na sua ‘manga’: David, que ele não diz que não apoia, mas apoia concretamente com programas, tem o Amom e Roberto Cidade, três atores na manga. O David tem a máquina e vai sair com 30% a 35% na frente. Provavelmente, no segundo turno, o governador se posicione. Ele não vai se posicionar no primeiro turno, não abertamente. Se for fazer isso, será somente no segundo turno”, afirmou.

Ademir frisou, ainda, que Wilson Lima não “trabalha” com conflito, e sim com conciliação.

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