Vereadores de Manaus utilizam igrejas como plataformas eleitorais

Manaus (AM) – Em uma prática que tem gerado controvérsias e até levantado discussões sobre os limites entre a fé e o Estado laico, alguns vereadores de Manaus usam, supostamente, seus cargos e posições em igrejas e comunidades religiosas como palanque eleitoral durante as eleições.

Os políticos teriam se beneficiado do espaço e da influência religiosa para angariar votos. Esse tipo de estratégia levanta questões éticas e legais, além de suscitar debates sobre o uso de instituições religiosas para fins eleitorais.

Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou o pedido de recurso especial do deputado federal Silas Câmara (Republicanos) sobre a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) (ID 159167051), que multou o deputado no valor de R$ 15 mil por propaganda eleitoral antecipada por pedido de votos feito por pastor em igreja evangélica. A regra imposta ao deputado federal é a mesma para os demais parlamentares.

Religiosos na política

As duas maiores igrejas evangélicas da cidade possuem representação na Câmara Municipal de Manaus (CMM). Dentre os parlamentares que possuem cargos eclesiásticos estão os dois vereadores mais votados na cidade.

João Carlos (Republicanos) foi o vereador mais votado da cidade em 2020, eleito com 13.880 votos. Pastor na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), com mais de 23 anos na obra, chegou a Manaus em 2014 e, mesmo com apenas seis anos residindo em Manaus, alcançou o feito e atualmente está no comando da Frente Parlamentar em Defesa da Família e dos Valores Cristãos da Câmara (Fepacri).

Joelson Silva (Sem Partido), que já foi presidente da CMM, foi o segundo vereador mais votado na última eleição. O pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas (Ieadam) está em seu terceiro mandato como vereador; em 2015 assumiu como suplente pelo partido Humanista da Solidariedade (PHS), na cadeira deixada pelo ex-vereador Sildomar Abtbol (Pros). Em 2016, foi eleito pelo PSDB com 7.959 votos, assumindo a presidência da Casa em 2019 e 2020. O pastor foi reeleito em 2020 com 12.493 votos pelo Patriota.

Marcel Alexandre (Avante), que é apóstolo no Ministério Internacional da Restauração (MIR), está em seu quarto mandato e, atualmente, é um dos mais experientes da Casa. Marcel foi reeleito em 2020 com 5.852 pelo PODE, foi o 11º vereador mais votado no último pleito.

Eduardo Alfaia (PMN), segundo a sua Biografia no site da CMM, é pastor e cofundador na Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério Madureira (IEADMM). Alfaia foi eleito no pleito de 2020 com 5.110 votos, pelo Partido da Mobilização Nacional, sendo o 15º vereador mais votado na cidade.

Márcio Tavares (Republicanos) foi eleito vereador em 2020 pela primeira vez com 4.681 pelo Republicanos. Em sua biografia, Tavares diz que foi missionário e atualmente congrega na Igreja Universal do Reino de Deus. O carioca foi o 25º parlamentar mais votado da cidade. Atualmente, o republicano é bem ativo na igreja, conforme seu perfil nas redes sociais.

Raiff Matos (DC) foi o 27º vereador mais votado em 2020, sendo eleito pelo partido Democracia Cristã com 4.621. Raiff, segundo sua biografia, é cantor gospel, com dois CDs lançados, em 2011 e 2016, respectivamente. Raiff é membro e participa do ministério de louvor da Nova Igreja Batista (NIB).

Yomara Lins (PRTB) foi a 33ª vereadora mais votada, sendo eleita com 4.278 votos. Lins, conforme a sua biografia, é pastora e uma das fundadoras da Comunidade Evangélica Internacional do Avivamento (CEIA).

Roberto Sabino (Podemos) assumiu em 2022 como vereador suplente, ocupando o cargo no lugar de Amom Mandel (Cidadania), eleito deputado federal em 2022. Sabino também é pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas (Ieadam), conforme a sua biografia. Com esta suplência, Sabino está em seu 5º mandato como vereador.

Gilmar Nascimento (Avante), vereador de 5 mandatos, não foi eleito nas urnas em 2020, mas assumiu a cadeira de vereador em 2022 após processo de cassação do mandato de Sandro Maia. Em sua biografia, Gilmar afirma ser membro da liderança da Igreja Getsêmani.

Com exceção do vereador Raiff, que é ministro de louvor e Márcio Tavares, que se apresenta como missionário, a CMM conta com quase 17% de vereadores que possuem o cargo e/ou o título eclesiástico de Pastor em suas respectivas comunidades religiosas. E 21% dos parlamentares são ativos em suas atividades eclesiásticas, como pastores, cantores e missionários.

 

LEIA MAIS:

• Vereadores de oposição a David prestigiam Roberto Cidade e Wilson na Aleam
• Mais de 30% dos vereadores da CMM não são nascidos em Manaus
• Vereadores de Manaus são mais velhos que a média nacional

 

Não deixe de curtir nossa página no Facebook, siga no Instagram e também no X.