Manaus, 4 de maio de 2024
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Cenário

Zé Pedro diz que foi ‘burro’ por ter aceitado ser vice de Peixoto em 2020

Em entrevista exclusiva ao Portal AM1, Zé Pedro afirma que está sendo perseguido por Simão Peixoto desde que decidiu ter autonomia para tomar decisões na prefeitura.

Zé Pedro diz que foi ‘burro’ por ter aceitado ser vice de Peixoto em 2020

Zé Pedro e Simão Peixoto (Fotos: Celso Maia/Portal AM1/Divulgação/Assessoria)

Borba (AM) – Quanto mais as eleições municipais se aproximam, mais nomes políticos surgem lançando-se como pré-candidatos às prefeituras dos 62 municípios do Amazonas. Em Borba, por exemplo, há uma briga implacável entre os atuais gestores do Executivo municipal para ter o comando da cidade.

O Portal AM1 conversou exclusivamente com o vice-prefeito de Borba, José Pedro Graça (PSD), conhecido popularmente como “Zé Pedro”, que tem um embate com o prefeito Simão Peixoto (MDB) após o mandatário ser preso durante o seu mandato por três vezes consecutivas.

Com as prisões do prefeito, Zé Pedro ficou à frente da Prefeitura de Borba, sendo a primeira vez em março de 2023, quando Simão foi preso por ameaçar e praticar crime de política de gênero contra uma vereadora, ficando preso por 6 dias.

A segunda, na Operação Garrote, quando Simão foi acusado de comandar uma organização criminosa, suspeita de desviar recursos públicos no município. Desta vez, Simão ficou preso por 100 dias e Zé Pedro, novamente, ficou à frente da gestão municipal, que segundo ele, teve boa avaliação dos eleitores borbenses.

Na terceira e última vez, em janeiro deste ano, Simão foi preso suspeito de manipular testemunhas em uma investigação que apura desvios de recursos públicos destinados à compra de merenda escolar no ano de 2020, durante a pandemia da Covid-19. Ele ficou preso por uma semana, mas Zé Pedro só teve 12 horas como prefeito interino, pois a Câmara Municipal de Vereadores se negou a empossar Graça ao posto de prefeito interino.

Devido aos altos e baixos da gestão, Simão tratou de buscar ajuda em um dos partidos mais fortes no Amazonas, — em questão de representação política — e se filiou ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), sigla de Eduardo Braga, poucos meses antes de ser preso novamente pela Polícia Federal. Com isso, ele conseguiu ser solto mais rápido na última vez em que foi preso e agora quer a cassação de seu vice, pois não confia mais nele.

De acordo com Zé Pedro, ele confirmou que foi “burro” ao ser questionado sobre como se sentiu quando Peixoto lhe deu o título pejorativo em praça pública em seu retorno a Borba em setembro de 2023.

“Eu vou concordar com ele, porque eu fui tão burro, que aceitei ser o vice dele, entrando numa cilada. Foi aí que eu fui burro. Mas enquanto eu estava só “sim, senhor, não senhor”, eu era a pessoa mais inteligente para eles. Quando eu discordei um pouquinho só, aconteceu tudo isso entre a gente”, disse o vice-prefeito ao Portal AM1.

Zé Pedro afirma, ainda, que não se sentiu constrangido pelo acontecimento, pois seus eleitores o conhecem e confiam em seu trabalho, e que Simão Peixoto só se tornou prefeito graças aos eleitores do vice.

“Eu não me senti constrangido porque os meus eleitores e os meus correligionários sabem que eu não sou burro. […] Eu fui muito bem-avisado pelos meus amigos e até pela minha família, porque o Simão só ganhou porque nós trouxemos o nosso cunho político para o lado dele. Porque ele era o último candidato [nas pesquisas eleitorais]”, afirma Zé Pedro.

O vice-prefeito também afirma que a sua relação com Peixoto se complicou porque o chefe do Executivo municipal “achou” que houve traição de seu vice durante a sua ausência do posto.

“Quando ele voltou, a nossa relação ficou muito complicada, porque ele achou que eu fiz tudo com uma certa traição a ele, mas a própria Constituição me dá o direito. O prefeito foi afastado, automaticamente, eu tenho que assumir. Lógico que eu assumi com algumas regras, com algumas mudanças e o que o Ministério Público me pedia de informação, eu não podia me omitir”, relata.

Procurado pelo Portal AM1 sobre as declarações de Zé Pedro, Simão Peixoto nega as acusações do vice e disse que a relação entre eles é apenas institucional, pois não confia mais em seu vice. Além disso, Peixoto critica o fato de Zé Pedro “viver mais em Manaus do que em Borba, deixando ele sozinho para governar a cidade”.

O chefe do Executivo municipal ainda convidou o vice para se juntar a ele para juntos governarem Borba até o final do ano, quando encerram seus mandatos.

Quem comandará Borba em 2025?

A disputa pela prefeitura está cada vez acirrada e não é briga só pelas eleições municipais, pois, o município está sendo visado já com o objetivo de garantir uma cadeira no Senado Federal. Com isso, nos últimos dias, o vice-prefeito Zé Pedro se encontrou com o governador Wilson Lima (UB) no dia 6 de fevereiro, em Manaus.

Em foto publicada em suas redes sociais, Zé Pedro aperta a mão de Wilson Lima após uma reunião para “alinhar coisas importantes para o bem-estar do município”, segundo consta na legenda da imagem. O vice-prefeito disse, em entrevista exclusiva ao Portal AM1, que em nenhum momento o governador lhe convidou para fazer parte do União Brasil, porém, disse que “apresentou a ele a sua situação e Lima iria lhe apoiar nas eleições municipais”.

Em 2026, Wilson deve disputar uma das três cadeiras do Senado Federal, e irá brigar por essa vaga com o senador Eduardo Braga (MDB) ou com o senador Plínio Valério (PSDB). Braga pode lutar pela vaga ou deixar o caminho aberto para Wilson Lima, se resolver concorrer ao governo do Amazonas.

Mas enquanto isso não acontece, Braga já se mantém aliado do atual prefeito de Borba, Simão Peixoto, que migrou para o MDB no dia 1º de outubro do ano passado, uma forma de marcar território politicamente.

Pré-candidatura

À reportagem, Zé Pedro afirmou que já é pré-candidato a prefeito e confia que irá ganhar a eleição deste ano. Questionado sobre o que irá mudar na cidade caso seja eleito, o atual vice-prefeito afirmou que haverá muitas mudanças, principalmente, na área da administração pública.

“Na questão pública administrativa, nós vamos mudar tudo. “Botar” tudo novo, pessoas novas, pessoas que tenham, principalmente, o comprometimento. E acima de tudo, nós vamos dar autonomia e condições para cada secretário, para cada chefe de setor trabalhar, que hoje, infelizmente, Borba não está muito legal. A gente não tem uma previsão de quando começam as aulas no município, [sendo que] amanhã iniciam as aulas do interior. A cidade, em si, está meio que abandonada”, afirma.

Conforme explica o vice-prefeito, durante os três anos de mandato ao lado de Simão Peixoto, ele “nunca teve autonomia para tomar decisões” e, quando decidiu fazê-lo, foi intitulado pelo prefeito como “traidor”.

“Eu fui aliado três anos, e nesses três anos, nunca tive autonomia para nomear uma pessoa; eu não tive autonomia de pedir um favor para um secretário [..] quando o prefeito viajava, eu ficava [no cargo] só para dizer que eu era vice, mas nunca tive autonomia porque ele nunca deixava”, relata Zé Pedro à reportagem.

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