Manaus (AM) – Questões ambientais são sempre levantadas quando o assunto é pavimentar a BR-319, estrada que liga Manaus a Porto Velho e ao restante do país. Para não haver impactos ambientais, uma ponte para os animais foi implantada no km 271 da BR 319, que corta a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó Açu, área protegida pelo governo estadual.
Esta é a primeira estrutura desse tipo instalada numa rodovia na Amazônia “antes da pavimentação”. A ideia é reduzir as chances de colisões entre veículos e animais — protegendo a vida selvagem e os usuários da via.
Para isso, foi proposto um modelo de estrada-parque, com a pista em um plano elevado, isolada por cercas e com monitoramento eletrônico. Serão construídas, conforme o projeto, 170 passagens de fauna, locais onde os animais poderiam atravessar a rodovia com segurança.
Conforme o projeto, as passagens superiores de fauna, também conhecidas como passagens aéreas de fauna ou pontes ecológicas, são estruturas cuidadosamente projetadas para fornecer segurança a animais silvestres, como mamíferos arborícolas, aves e répteis, permitindo que eles atravessem com tranquilidade rodovias, ferrovias ou outras barreiras artificiais, evitando atropelamento e riscos causados pelo contato com o tráfego humano.
A obra é uma realização de entidades como a ONG Wildlife Conservation Society (WCS), a consultoria Via Fauna e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Mas, a professora de Engenharia Ambiental, Michele da Rocha Gomes, disse ao Portal AM1 que a obra é bonita no papel e que é “muito estranho querer podar o animal, e que bicho não tem a inteligência para atravessar as pontes”.
Vai proteger os animais?
Para Michele, as estruturas vão “modificar ainda mais a casa dos animais”, sem resolver o problema da fauna, terá ainda a mudança na paisagem, que junto ao ruído dos veículos pode, ainda, provocar mudança no comportamento dos animais silvestres.
A também engenheira florestal, Lena Prata, também acredita que o ruído dos carros pode influenciar no comportamento dos bichos. Mas acredita que, com o passar dos tempos, os animais, “por curiosidade”, principalmente primatas e felinos, passem a utilizar a estrutura.
“É dinheiro jogado fora. Os animais gostam de terra e não vão olhar para essas estruturas e entender que são para eles atravessarem para outra banda”, disse.
Discorda
Já o veterinário, treinador de cães e especialista em comportamento animal, Fabio Lopes Gato, é enfático em dizer que os riscos serão existentes e permanentes, mesmo que se disponibilize todos os recursos. Porém, o especialista destaca que, “com certeza, esses animais usariam a estrutura, pois túneis e passarelas são utilizadas instintivamente pelos animais”.
Para Fábio, esse é “um meio paliativo para justificar as grandes construções”, que são “essenciais para a permanência, sobrevivência e preservação das espécies ao longo da rodovia”.
O veterinário apontou, inclusive, que é comum se observar estruturas semelhantes em condomínios e residências na zona urbana de Manaus, já que algumas espécies possuem a capacidade de adaptação, permitindo a sua sobrevivência.
“Os animais possuem inteligência prática. As passagens elevadas são utilizadas por algumas espécies de primatas”. Para o bicho-preguiça, Fábio Gato sugere, ainda, além de passarelas, os túneis. “Seria mais adequado a construção de pequenos lagos, para facilitar as travessias, aproveitando a agilidade aquática dessa espécie”, pontuou o adestrador de animais, que disse ter conhecimento e aprovar as passagens de subníveis para travessia de répteis e mamíferos, construídas em Brasília.
Desde 2019, por meio de parceria celebrada com o Instituto Brasília Ambiental e o Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER) medidas de proteção à fauna vêm sendo implantadas em rodovias próximas a unidades de conservação.
O veterinário pontua que a construção dessas estruturas aumenta a segurança dos bichos, pois estruturas parecidas são construídas em cativeiros e zoológicos.
Desejo de ver a BR-319 pavimentada
Seja em períodos de seca extrema ou na cheia dos rios, quem mora, principalmente, na capital amazonense, mas também em Roraima, deseja ver a estrada que já existe há pelo menos 40 anos pavimentada e em boas condições de trafegabilidade.
Com a BR-319 pavimentada, espera-se um estado muito mais competitivo, uma vez que pode atender ao escoamento da produção, inclusive a industrial. A pavimentação desse trecho na floresta, no entanto, enfrenta grande resistência de ambientalistas. Eles argumentam que as obras, em si, e a estrada pronta, irá atrair grileiros de terra e causar aumento nos crimes ambientais.
Contudo, entre um debate e outro, o governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), defende a ideia de tornar a BR-319 uma estrada-parque, alinhando desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Wilson Lima também acredita que “os entráveis para a pavimentação da BR-319 são superáveis”. O governador está cobrando o governo federal para desembaraçar e iniciar, quanto antes, as obras desta rodovia, e assim, tire os amazonenses do isolamento.
O Portal AM1 procurou a deputada estadual Joana Darc (União Brasil), presidente da Comissão de Proteção dos Animais, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), que devido à licença-maternidade, indicou o deputado Dr. Gomes (Podemos), o qual está respondendo pela Comissão.
Porém, a reportagem contatou o deputado Dr. Gomes na sexta-feira (17), depois novamente no sábado (18) e também nessa segunda-feira (20), para saber a opinião da comissão, sem sucesso. O parlamentar ignorou as diversas mensagens sobre o assunto e também as ligações.
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