Manaus, 17 de maio de 2024
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Manaus, 17 de maio de 2024

Cidades

A ‘indulgência do crime’ por trás da operação ‘Guará’

Uma das presas na operação tinha uma espécie de 'guru espiritual'. Ela ligava para se confessar, relatando tudo, pedia perdão e depois mandava dinheiro

A ‘indulgência do crime’ por trás da operação ‘Guará’

A “compra do perdão” feita por uma das presas da operação Guará, deflagrada pelas polícias do Amazonas, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Santa Catarina em julho deste ano, e que resultou na prisão de 17 pessoas, ajudou a polícia a montar parte das peças de um quebra-cabeça que resultou no massacre de 55 detentos do sistema penitenciário do Amazonas, em maio deste ano.

Uma das linhas de investigações do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) conseguiu chegar aos autores da execução de Magdiel Barreto Valente, o “Magnata”, assassinado dois dias antes do massacre,  bem como quem foi buscá-lo no aeroporto de Teresina (PI) e os carros usados no dia do crime. 

Esta é a terceira  matéria de uma série de reportagem feita com exclusividade pelo Amazonas1 sobre a trama por trás da maior facção do Norte e a busca pelo poder, envolvendo traição, dinheiro e morte, resultando na chacina ocorrida em maio.

Veja também: Massacre nos presídios: mortos foram escolhidos a dedo

Jogo de poder: a conspiração que causou o massacre com 55 mortos no AM

A ação foi possível graças à interceptação telefônica feita com autorização da Justiça, em ligações feitas por Sinélia Silva Prata, 48, mãe de Leandro dos Santos Chaves, ambos presos também na operação. No organograma feito pela Polícia Civil do Amazonas, com a participação de todos os envolvidos na operação Guará, Leandro figura como um dos executores e Sinélia como uma das colaboradoras para a execução de Magnata.

Conforme a interceptação, Sinélia tinha uma “guru espiritual”, uma pastora no Estado do Pará na qual ela ligava para se confessar e pedir perdão. “Ela pegava o telefone, falava por 40, 50 minutos. E como se fosse um padre, ela confessava tudo. Você não vai confessar mentiras, né? Pra essa pastora, ela confessava tudo, como é que foi, quem foi. Quem mandou buscar o menino (Magnata) no aeroporto. Então ela pedia perdão da irmã Madalena e depois pedia para ela orar. Na verdade era a compra do perdão”, declarou um dos investigadores que prefere manter o anonimato.

Segundo ele, a cada 15 dias Sinélia mandava dinheiro para a pastora evangélica, como se fosse o “dízimo”.

Com base nessas informações e em outras colhidas durante as investigações, a polícia conseguiu chegar ao cativeiro na qual Magnata foi feito refém e obrigado a gravar um vídeo na qual dizia que Sheila, que é esposa do narcotraficante João Pinto Carioca, o “João Branco”,  conspirava contra José Roberto Fernandes, o “Zé Roberto da Compensa”, considerado o líder da facção criminosa Família do Norte (FDN) e que está preso em presídio federal.

Como a residência já estava limpa, a polícia usou técnicas forenses e identificaram vestígios de sangue no chão, ainda sem poder associar com Magnata. No entanto, um corpo encontrado a mais de 80 quilômetros de distância, na cidade de Caxias, já no Maranhão, despertou desconfiança da equipe de investigação, pois o corpo estava prestes a ser enterrado como indigente. 

Então, com a coleta de DNA na residência e a comparação com o corpo encontrado em Caxias (MA) foi possível afirmar que se tratava da mesma pessoa.

A partir de então, a polícia foi ligando os pontos, identificando os suspeitos, até a deflagração da operação Guará.