Manaus, 3 de maio de 2024
×
Manaus, 3 de maio de 2024

Cenário

Após ser bombardeada por críticas sobre a BR-319, Marina retorna ao AM

Marina Silva retornou ao Amazonas para lançar a pré-candidatura de Marivelton Baré para a prefeitura do município de São Gabriel da Cachoeira pelo partido Rede Sustentabilidade.

Após ser bombardeada por críticas sobre a BR-319, Marina retorna ao AM

(Foto: Lula Marques/ABr)

Manaus (AM) – Após ser bombardeada por críticas e acusada por parlamentares do Amazonas de impedir a recuperação da BR-319, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, retorna ao estado, neste final de semana, quando deve lançar a pré-candidatura de Marivelton Baré, pelo Rede Sustentabilidade para a Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira.

Marina, que foi ministra nos dois primeiros mandatos de Lula, e deixou a pasta após divergências, por ser considerada um entrave entre o agronegócio e o ambientalismo, ao defender o não-desmatamento de forma radical, tem sido, constantemente, criticada por parlamentares do Amazonas por ser contra a pavimentação da BR-319.

Apesar de a notícia ter circulado durante a semana, até as 15h04, não havia a informação na agenda do Ministério do Meio Ambiente. 

agenda-de-marina

(Fonte: MMA)

Fogo amigo

O vereador Sassá da Construção Civil (PT), único vereador do partido de Lula na Câmara Municipal de Manaus (CMM), afirmou em maio do ano passado, que a ministra desconhece o tema principal da pasta que ocupa.

“Ela [Marina] não entende nada de meio ambiente. […] Nossa BR tem que sair, sim, porque existem maneiras da gente não prejudicar o meio ambiente”, disse Sassá da Construção.

O petista continuou as críticas, alegando que Marina é uma “traidora” do governo Lula, e também disse que a pavimentação da BR se tornou uma questão política.

“Em todos os governos anteriores eu sempre fui a favor da BR-319 e não é diferente no governo Lula, porque é uma rodovia que vai fazer o Amazonas avançar. Então se tiver de escolher entre briga de partido, tendências, seja lá o que for, eu fico com o meu povo do Amazonas”, afirmou.

A crítica contra Marina foi após a ministra questionar se a BR-319, única ligação terrestre do Amazonas com o restante do país, seria apenas “uma estrada para as pessoas andarem de carro”. A fala foi durante audiência no Congresso em que Marina afirmou que o assunto é complexo.

“Há 20 anos, eu já falava sobre o assunto. Eu não dou aval, a priori e nem negativa a priori. O que posso afirmar, como eu dizia há 20 anos atrás, é que a obra tem altíssimo impacto ambiental. O trecho, o do meio, com cerca de 450 quilômetros), “é onde nós estamos tendo agora os maiores índices de desmatamento”, disse Marina.

Marina também defende a ideia de que uma estrada para atividades econômicas terá alto impacto no coração da Amazônia. “E, se a Amazônia ultrapassar os 20%, ela entrará em ponto de não retorno”.

Moção de repúdio

Um dia após a vinda da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), em comitiva de ministros, liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para avaliar de perto os problemas causados pela estiagem, os deputados estaduais aprovaram uma moção de repúdio contra a aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O petista Sinésio Campos foi o principal crítico de Marina durante a sessão plenária. Sinésio criticou o desinteresse de Lula em acabar com o isolamento do estado.

“Ficou bem claro que estamos isolados, hoje, e a ministra Marina, desde o primeiro governo [Lula I], teima na questão ambiental de não sair a BR-319, algo que é de interesse de todos nós, o presidente Lula tomou como interesse de ter esta BR aberta ao direito de ir e vir”, disse Sinésio.

A vinda de Marina a Manaus coincidiu com o período de maior poluição do ar na capital, provocado por incêndios florestais. O Índice de Qualidade do Ar (IQA) apontou a capital do Amazonas como a terceira cidade com a pior qualidade do ar do planeta, segundo o World Air Quality Index. Os incêndios ocorreram tanto na capital como na região metropolitana e encobriu a cidade com extensas nuvens de fumaça.

‘Injustiça’

O governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), expressou seu descontentamento com a ausência de respostas da ministra sobre a reconstrução dos trechos da BR-319. As críticas ocorreram após as declarações de Marina Silva à CPI das ONGs, ao questionar a viabilidade econômica para reconstrução.

Lima fez as observações durante o anúncio da agenda do Amazonas na COP28. Segundo Lima, o Amazonas é cobrado, mas na hora de dar um retorno, o povo fica mendigando.

“Infelizmente, isso é mais uma injustiça que o Amazonas sofre sob o discurso de preservação ambiental. Não tem como o governo federal atuar com um discurso de preservação colocando a nossa população de joelhos”, disse.

Marina e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em Manaus, para ver de perto a situação provocada pela estiagem severa que isolou comunidades ribeirinhas em todo o Estado. A visita foi acompanhada pelo governador Wilson Lima e o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).

marina-cadu-gomesvpr

(Foto: Cadu Gomes/VPR)

Lenda Amazônica

A ministra Marina Silva rebateu a tese de que a pavimentação da BR-319 não avançou no primeiro governo do presidente Lula por culpa dela.

“Virou uma lenda de que era a ministra Marina Silva que não deixava fazer a estrada. O problema era a ministra. Saí em 2008, se esse empreendimento fosse fácil, não tivesse altíssimo impacto ambiental ou tivesse comprovado a viabilidade econômica social e ambiental passando pela avaliação dos técnicos do Ibama sem que sejam pressionados, é possível que já tivesse sido feito”, disse a ministra durante audiência na comissão de meio ambiente e desenvolvimento sustentável ao ser questionada pelos deputados federais Capitão Alberto Neto (PL) e Amom Mandel (Cidadania).

CPI das ONGs

O senador Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou, após a participação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na CPI das ONGs, que a titular da pasta do Meio Ambiente deixou claro seu “absoluto desprezo pelas condições de vida dos moradores da Amazônia”.

Segundo o parlamentar, a ministra minimizou o fato de ONGs internacionais enriquecerem na região enquanto os moradores passam por diversos tipos de sofrimento.

“O mais esclarecedor foi o que a ministra disse sobre a BR-319, rodovia vital para a Amazônia, para nós amazonenses e para os rondonienses. A 319 se transformou em lamaçal por conta de negativas do Ibama para liberar sua recuperação, seu asfaltamento. A ministra Marina Silva disse textualmente que sua posição não mudaria, ou seja, não haveria rodovia e não haverá porque faltava viabilidade econômica e ambiental”.

Outro senador que criticou a ministra foi Omar Aziz (PSD), que ressaltou que a seca do ano passado, a maior do estado, fez com que a população ficasse sem o abastecimento de alimentação e combustíveis e outros itens.

“Pois eu declaro que, se algum amazonense passar fome, a culpada é a senhora, ministra Marina Silva; que por vaidade não permite a recuperação da BR-319 e sentencia o Amazonas ao isolamento”, criticou.

Oposição ao governo de Lula, o deputado federal Alberto Neto (PL) repudiou a fala da ministra. Alberto Neto lembrou que a população passou por dificuldades durante a pandemia, quando os hospitais ficaram sem oxigênio, causando a morte de vários pacientes com Covid-19. Alberto afirmou que a BR-319 é uma “pedra no sapato” do povo do Norte. 

“Vocês viram as imagens, os horrores dos caminhões tentando chegar na cidade de Manaus. E muitos morreram por causa disso. Muitos morreram por causa dessa política ambiental desmedida, xiita, que tem isolado o povo do Amazonas”.

Movimento da Rede

O partido quer formar uma espécie de bancada do cocar, com a já filiada Vanda Ortega Witoto e Eliezer Marubo. A expectativa é filiar o coordenador da Funai, Emilson Munduruku, Marcos Apurinã, que concorreu a deputado estadual em 2022 pelo PSC-AM (candidato a deputado estadual na última eleição), Almir Narayamoga Suruí, que concorreu para deputado federal pelo PDT-RO.

Marina quer aumentar a base política com defensores dos temas ambientais, já que logo no início, quando assumiu a pasta, sofreu derrotas importantes no Congresso Nacional, quando os parlamentares votaram a Medida Provisória que retirou os poderes da pasta de Marina Silva.

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e a Política Nacional de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente deixou de fazer parte do Ministério e passou para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Outra mudança foi o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que deixou a área de influência de Marina e foi para o Ministério da Gestão.  

LEIA MAIS: