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Manaus, 12 de maio de 2024

Brasil

Ataque em Terra Indígena Yanomami expõe ações de facção nos garimpos

Ataques do PCC aos yanomami se estendem a agentes do Ibama e Funai, gerando investigação da Polícia Federal e exposição de casos antigos

Ataque em Terra Indígena Yanomami expõe ações de facção nos garimpos

Polícia Federal vem intensificando ações na Terra Indígena Yanomami (Foto: Comunicação PF em Roraima)

Manaus (AM) – A Polícia Federal (PF) investiga possível participação do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) nas ameaças a agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que atuam na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

Um dos quatro garimpeiros mortos no último dia 30 em confronto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Terra Indígena Yanomami, um seria integrante do PCC, o que teria gerado a onda de ameaças. O suspeito morto seria Sandro Moraes de Carvalho, 29 anos, foragido da Justiça do Amapá.

Sandro Moraes de Carvalho, um dos mortos na incursão da PRF (Foto: Acervo pessoal)

Levanta-se a hipótese de que membros da organização criminosa atuem como síndicos nos garimpos, sublocando maquinário para extração de minérios. Outros crimes seriam a grilagem de terras e pistolagem.

“Nosso serviço de inteligência tem encontrado indícios muito fortes de que alguns pontos de garimpo são mantidos com o apoio de organizações criminosas. Isso está sendo investigado. Uma das pessoas que morreu na operação de domingo [30] tinha envolvimento muito forte com uma das organizações criminosas”, disse o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, em entrevista a jornalistas em Boa Vista, capital roraimense.

Ataque e revide

Na tarde de 29 de abril, um ataque de garimpeiros armados à Comunidade Uxiú terminou com dois indígenas Yanomami feridos e um morto a bala. Já no dia seguinte uma incursão da PRF foi ao local averiguar o clima e tentar realizar prisões. Ao serem recebidos a bala iniciou-se o confronto que matou o integrante do PCC e mais três suspeitos.

A apreensão de armamento pesado chamou a atenção. A lista da PRF tinha um fuzil, três pistolas, sete espingardas, duas miras holográficas, 38 munições, três carregadores de pistola, uma capa de colete, um coldre de pistola, um coldre de revólver.

Investigados há 20 anos

Os primeiros indícios da atuação do PCC na região são de 2003. Atraídos pela facilidade de lavar dinheiro com madeira e ouro retirados das terras yanomami. Em 2018 os criminosos passaram a fazer escolta armada de empresários que iam a Roraima negociar o minério extraído de forma ilegal, se fortalecendo cada vez mais. Estima-se que do sistema prisional roraimense existam 25 foragidos do PCC escondidos entre os garimpeiros.

Deflagrada em julho de 2019, a Operação Érebo, da PF, havia interceptado telefonemas de criminosos planejando a expansão dos negócios do PCC na região. A chegada em massa da facção às terras indígenas era um dos assuntos das conversas.

Em 2021, Janderson Edmilson Cavalcante Alves, traficante de entorpecentes foi preso em Boa Vista. Alves era procurado por uma onda de ataques, que durou 10 dias, a comunidade yanomami Palimiú. Conhecido pela violência, o criminoso foi o responsável pelo roubo de 100 fuzis de uma base do exército venezuelano e estava em uma das 12 embarcações que atacaram a comunidade. Alves negou participação nos ataques mas se declarou membro do PCC.

Ações

Na quinta-feira (4), a PF, em ação conjunta com o IBAMA, no âmbito da Operação Libertação, destruiu três aeronaves que dariam suporte a criminosos na Terra Indígena Yanomami (TIY), durante ação de fiscalização em pistas clandestinas localizadas em regiões próximas à reserva, no estado de Roraima. Também foram destruídos combustíveis e uma oficina clandestina, localizada na mata, que realizaria manutenção de aeronaves de garimpo.

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