Manaus, 5 de maio de 2024
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Cenário

Ativista afirma que Sassá não se reconhece como negro e preconceituoso

Ao Portal AM1, o vereador Sassá afirmou que a "linguagem" dele é do Nordeste e que não vai mudar porque o que importa não é a cor, mas o "caráter".

Ativista afirma que Sassá não se reconhece como negro e preconceituoso

(Foto: Alinne Bindá/CMM)

Manaus (AM) – As expressões pejorativas que o vereador Sassá da Construção Civil (PT) reproduziu, nessa quarta-feira (6), reforçam o racismo, e ele se revela de diversas formas. É o que afirma a vice-presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro-AM), Regina de Benguela sobre a declaração do vereador, que precisava votar no Projeto de Lei que trata da criação da Secretaria Municipal de Relações Institucionais e Promoção da Igualdade Racial, que tramita na Câmara Municipal de Manaus (CMM).

Sassá disse, na sessão plenária da Câmara Municipal de Manaus (CMM), não se reconhecer com uma pessoa não branca. “Eu não sou escuro, eu sou branco, mas me considero igual a eles [negros], porque somos seres humanos. Dependendo de quem gosta dessa cor ou não, nós temos que votar, porque é ser humano e tem meu respeito”, disse o vereador. Porém, o termo “escuro” é considerado pejorativo.

Projeto de Lei PL 10/2022

Curiosamente, o vereador defendia o Projeto de Lei PL 10/2022, do vereador Wallace Oliveira (DC), que impõe infrações administrativas por atos de racismo nos complexos esportivos e culturais, centros de eventos e ginásios poliesportivos.

Mas o que era para ser uma defesa positiva, acabou se transformando em revés negativo para o petista, que diz ser de um partido que defende populações que mais sofrem no país com a falta de oportunidades e a má distribuição de renda, além da violência.

Racismo estrutural

Segundo Regina de Benguela, a fala do vereador configura racismo estrutural – que se revela de diversas formas– afeta e prejudica toda essa sociedade.

“Vivemos em uma sociedade que reconhece o Brasil como um país racista, porém, essa mesma sociedade não reconhece a si própria como preconceituosa no seu dia a dia. E enquanto o Brasil não se considerar racista de fato, a população negra será oprimida”, disse.

Para Regina, essas microagressões, além de reproduzirem o discurso racista, identificam a negritude como inferioridade social e afetam o bem-estar enquanto pessoa negra.

“Infelizmente, esse vereador Sassá da Construção não constrói em nada para o combate ao racismo e preconceito. Falta a ele o letramento racial e uma autoidentificacão como pessoa negra. Falta o saber linguístico, e a ignorância de usar termos racistas, inclusive já abolidos da língua portuguesa”, afirmou Regina, que vai a Salvador (BA), justamente, para participar do 6º Congresso da Unegro para discutir racismo e diretrizes para 2024.

‘Falta de letramento racial’

Para a advogada Ana Carolina Amaral, presidente da Comissão de Igualdade Racial da Ordem do Advogados (OAB-AM), a fala do vereador é sintomática. Conforme Ana Carolina, a fala demonstra falta de letramento racial e desconhecimento da profunda desigualdade racial existente, hoje, no Brasil.

“Referir-se a pessoas negras (pretas e pardas) como “escuras”, por si só, já é péssimo. Afirmar que ‘somos todos humanos’ reforça uma ideia de democracia racial e discurso meritocrático que vai de encontro à luta histórica dos movimentos sociais negros brasileiros”, afirmou a advogada.

Além disso, a presidente da Comissão de Igualdade afirma que o ponto mais crítico da fala do vereador foi “dependendo de quem gosta dessa cor ou não”. Segundo a advogada, esse tipo de discurso reforça a normalização do racismo. “Como se o racismo fosse uma questão de ‘gosto’ ou ‘preferência’ pessoal, e não um processo de desumanização, discriminação e violência sistêmica contra pessoas negras”, disse.

Ao Portal AM1, o vereador afirmou que não vai mudar o seu tipo de linguagem (nordestina) e que não quis ofender ninguém em sua declaração.

“A minha linguagem do Nordeste é essa. Eu não mudo minha linguagem. Eu não tenho preconceito com ninguém; eu sou um cara que defende as minorias, eu sou a pessoa que defende LGBT; eu defendo qualquer seguimento. Eu sou verdadeiro, eu falei que eu sou branco, mas tenho orgulho dos claros, dos morenos, eu tenho orgulho, porque meu partido defende essa bandeira”, afirmou.

Sassá disse, ainda, que se considera “claro-branco”, mas “o que importa é o caráter. “Jamais eu vou ser contra as minorias, porque eu sou um de vocês”, afirmou o parlamentar.

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