Manaus, 20 de maio de 2024
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Manaus, 20 de maio de 2024

Brasil

Brasil tem ao menos 27 possíveis reinfecções por covid-19

São Paulo, que é o estado com maior número de casos e mortes pelo coronavírus, também é o maior em número de possíveis casos de reinfecção

Brasil tem ao menos 27 possíveis reinfecções por covid-19

Foto: Márcio Silva - Portal Amazonas1

Cerca de 27 pessoas estão sendo investigadas por terem supostamente testado positivo para a covid-19 duas vezes – são os possíveis casos de reinfecção da doença no país. Os dados foram levantados pela CNN com as Secretarias de Saúde dos estados.

São Paulo, que é o estado com o maior número de casos e mortes pelo coronavírus no Brasil, também é o com o maior número de casos investigados: 10 do total. Na capital paulista, segundo o Hospital das Clínicas, sete pessoas procuraram a instituição alegando sintomas da doença após já terem testado positivo anteriormente.

Leia mais: Em Hong Kong, cientistas confirmam 1º caso de reinfecção por covid-19

Já no município de Santa Bárbara D’Oeste, no interior de São Paulo, a prefeitura informou em nota para a CNN que a Secretária Municipal de Saúde, Lucimeire Cristina Coelho Rocha, testou positivo para covid-19 duas vezes, uma em maio e outra em julho.

Em Araraquara, foi registrado um caso pela prefeitura da cidade. De acordo com a nota do órgão municipal, um funcionário do Samu apresentou sintomas em abril, quando testou positivo para a doença. Depois, voltou a apresentar sintomas em julho – quando testou positivo novamente. Segundo a prefeitura, o caso foi encaminhado para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto para ser investigado.

No HC de Ribeirão Preto, no entanto, eles já estavam investigando outro caso. Publicada em 5 de agosto, a pesquisa, denominada “Recorrência de Covid-19: um relato de caso”, analisa uma técnica de enfermagem de 24 anos que, com comorbidades, apresentou sintomas da  covid-19 em maio e, segundo o estudo, testou positivo duas vezes para a doença.

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto garante no estudo que “o presente relato confirma que, ainda que extremamente rara, a reinfecção por SARS-CoV-2 e o adoecimento por covid-19 em mais de uma ocasião são eventos possíveis”. “Essa constatação traz implicações clínicas e epidemiológicas que precisam ser analisadas com cuidado pelas autoridades em saúde”, conclui.

O segundo estado com o maior número de possíveis casos de reinfecção no Brasil é o Ceará. Segundo nota publicada em julho, mas que ainda é considerada válida pela Secretaria de Estado da Saúde, nove profissionais de saúde testaram positivo para a covid-19 em duas ocasiões diferentes.

De acordo com o documento, as amostras foram colhidas e a infecção confirmada por RT-PCR entre março e abril. No entanto, após a reaparição dos sintomas, os testes foram realizados novamente e os resultados resultaram em positivo entre os meses de maio e junho.

No Goiás, todos os possíveis casos de reinfecção identificados também foram em profissionais de saúde. Ao todo, a secretaria de saúde identificou 6 casos de pessoas que testaram positivo duas vezes. Segundo a pasta, um grupo técnico do Centro de Operações de Emergências (COE) em Saúde Pública de Goiás analisa os casos.

Em Minas Gerais, um caso está sendo investigado em Divinópolis, junto à secretaria municipal de Saúde. Já no Rio de Janeiro, há também o registro de um possível caso de reinfecção, de uma mulher moradora de Volta Redonda, que teria sido infectada em maio e agosto. Segundo a Secretaria de Saúde do Rio, a pasta e o Ministério da Saúde investigam o caso.

Isso significa que todos esses casos, de fato, tiveram covid-19 duas vezes? Embora os casos ainda estejam em investigação, o Hospital das Clínicas de São Paulo possui três hipóteses que podem explicar o diagnóstico duplicado: longa permanência do vírus no corpo, reativação do vírus e possível reinfecção.

Para constatar qualquer uma das hipóteses, os pacientes devem ser acompanhados com exames adicionais para que os hospitais e órgãos que investigam os casos tenham o diagnóstico final se é ou não possível a reinfecção por covid-19.

Outras hipóteses

A reinfecção é apenas uma das hipóteses estudadas pelos médicos brasileiros. Os pesquisadores da USP de Ribeirão Preto classificam como “evento raro” porém “possível”. Em entrevista à CNN, o pesquisador Max Igor Banks elencou três outras possibilidades. A primeira é uma infecção por outro vírus, como o da gripe, que promova sintomas semelhantes aos do coronavírus. Neste caso, a pessoa tem sinais como febre, tosse e dor de garganta, mas provocadas por outra doença. No entanto, como o corpo ainda não teria se livrado completamente do coronavírus, fragmentos dele são detectados no teste.

Uma segunda possibilidade é o vírus ter “adormecido” por meses. É como se ele continuasse no corpo, mas não manifestasse sintomas num intervalo de tempo entre a primeira e a segunda vez. Isso não significaria uma reinfecção, mas sim uma duração mais longa da covid-19, diferentemente do que os médicos imaginavam inicialmente. “Essa é a possibilidade que eu menos acredito”, disse Banks.

Há ainda uma nova hipótese elencada pelo grupo do Hospital das Clínicas. É de que o vírus fique “esquecido” pelo organismo por semanas. Como se o corpo não o percebesse mais ali. E quando ele descobre o vírus esquecido e decide reagir, os sintomas voltam nessa batalha para eliminar de vez o novo coronavírus.

Pesquisador desconfia

Em entrevista à CNN, o pesquisador da USP de Ribeirão Preto Fernando Bellissimo-Rodrigues disse desconfiar do caso de reinfecção em Hong Kong. Ele aposta que a técnica de enfermagem de 24 anos estudada pela universidade se trata, sim, de um caso de reinfecção, mas não teve o relato publicado por nenhum periódico científico brasileiro ou reconhecido por um órgão técnico.

“No caso de Hong Kong não teve o pilar epidemiológico e nem o clínico, quem me garante que o segundo caso não foi o falso positivo?”, diz ele.

Belíssimo-Rodrigues chama de “pilar epidemiológico” o contato com o coronavírus nos dois episódios distintos do surgimento dos sintomas. Já o pilar clínico é a manifestação de sinais da doença – no caso da paciente estudada por eles, entre os primeiros sintomas (que duraram 10 dias) e os novos sinais de coronavírus, ela ficou 38 dias assintomática. O pilar laboratorial é o exame positivo nas duas oportunidades, item comum no caso brasileiro e no caso oriental.

Acontece que os brasileiros não guardaram o resultado do primeiro exame positivo da paciente – nem ela própria guardou. “Nós não temos a e evidencia ultramolecular com em Hong Kong porque nós não guardamos a amostra dela, então a gente não tem como fazer essa evidência de fazer a identificação do vírus e tal. Mas eu, sinceramente, acho que essa prova é desnecessária para o ‘julgamento do crime’”.

“Muitos médicos valorizam extremamente a prova molecular em detrimento das demais, como a prova clínica e a prova epidemiológica. No meu entender isso é um viés”, defende.

Perguntado se pode cravar se o caso de Ribeirão Preto trata-se de uma reinfecção do coronavírus, o pesquisador alegou que “tanto na medicina quanto no amor, a gente não diz nem nunca nem sempre”. “Eu não posso te falar que é 100%, mas eu posso te dizer que essa explicação [de outras hipóteses] é muito improvável (…), se fosse um outro vírus ou um processo de ‘clarificação’, como é que explicaria ela ter tido o sintoma só depois que um familiar ter tido a doença e transmitido pra ela?”, diz ele.

Ao final da entrevista, a CNN questionou o pesquisador quanto ele apostaria que o caso estudado por ele trata-se de reinfecção se tivesse R$1 milhão de reais para apostar. “Apostaria R$2 milhões. Estou bastante convicto de que a evidência é forte o suficiente”, declarou Belíssimo-Rodrigues.

 

 

(*) Com informações da CNN