Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Candidaturas evangélicas devem crescer nas próximas eleições, dizem especialistas

O número pode ser bem maior, já que nem todos têm um nome de candidato que seja possível identificar se a pessoa pertence a alguma instituição evangélica.

Candidaturas evangélicas devem crescer nas próximas eleições, dizem especialistas

Vereadores (Foto: Divulgação/CMM)

Manaus (AM) – As candidaturas de pessoas que se intitulam evangélicas têm tendência de crescimento nas próximas eleições em Manaus, segundo a avaliação de especialistas consultados pelo Portal AM1. O aumento também pode ser afirmado com base nos números registrados nas últimas quatro disputas realizadas na capital e no Amazonas.

De acordo com informações do Sistema de Divulgação de Candidaturas e Contas, o ‘DivulgaCand’, pelo menos 130 evangélicos disputaram uma vaga na Câmara Municipal de Manaus (CMM) e na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) e até como chefe do Poder Executivo, da capital e do Estado, nos pleitos de 2016, 2018, 2020 e 2022.

O número pode ser bem maior, já que nem todos têm um nome de candidato que seja possível identificar se a pessoa pertence a alguma instituição evangélica, além dos políticos evangélicos já conhecidos pela população amazonense.

Alguns deles são: Silas Câmara; Dan Câmara; Luís Mitoso; Joelson Silva; Raiff Matos; Roberto Sabino; João Luiz; Felipe Souza; Amauri Colares; Pastora Luciana; Marcel Alexandre; Francisco Souza; João Carlos e André Luiz.

Outros nomes entram na lista de candidaturas desse movimento cristão pela identificação no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que são candidatos que se intitulam como ‘apóstolos’, ‘bispos’, ‘evangelistas’, ‘missionários’, ‘pastores’.

Por eleição

O AM1 fez um comparativo entre as duas últimas eleições municipais (2016 e 2020) e as duas últimas gerais (2018 e 2022).

A disputa de 2016 para prefeito de Manaus contou com um nome da ala evangélica: Silas Câmara. Já a briga por uma das 41 cadeiras da CMM contou com 31 nomes do segmento.

No ano de 2020, dois nomes evangélicos disputaram a vaga de chefe do Executivo de Manaus: Chico Preto e o atual prefeito, David Almeida. A corrida por uma vaga no Parlamento Municipal, naquele ano, contou com 45 evangélicos, um aumento de 45,16% em relação à eleição de 2016.

Por sua vez, a eleição geral de 2018 contou com 25 nomes como candidatos ao cargo de deputado estadual e apenas um evangélico concorreu ao de governador: David Almeida.

Em 2022, que foi a última eleição realizada até o momento, o número de candidatos a uma vaga na Aleam foi o mesmo da disputa de 2018 e não teve candidato evangélico que concorreu à cadeira de governador.

Maioria conservadora

Na visão do professor e analista político Carlos Barros, para compreender esse fenômeno político é preciso entender que a sociedade brasileira – em sua maioria – é conservadora e, consequentemente, os valores conservadores são essencialmente cristãos.

“Há por parte das figuras políticas, quando em campanha, uma estratégia de se identificar com segmentos específicos dos cristãos, como evangélicos das diversas denominações ou católicos, para angariar simpatia ou voto. Porém, isso não reflete necessariamente a vinculação do político a um ideário conservador ou cristão”, explicou.

Carlos pontuou, ainda, que do ponto de vista estritamente numérico, quantitativo, há uma sub-representação dos conservadores e cristãos.

“Penso que devem aparecer mais candidatos com este perfil, sim. Mas isso só se reverterá em políticas públicas efetivamente conservadoras e com valores cristãos, a partir da cobrança do eleitorado desse segmento”, disse o professor.

Perigo para a democracia

A reportagem também conversou sobre o assunto com Ademir Ramos, cientista político, antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que chamou atenção para o perigo que esse crescimento representa para a democracia, uma vez que, segundo o professor, essas pessoas estão muito mais organizadas e aparelhadas do que os próprios partidos políticos o que, para ele, é algo negativo para o processo democrático.

Na visão do especialista, o movimento bolsonarista conseguiu unificar forças para o segmento evangélico, mas é preciso avaliar se o ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL), ainda vai ter esse poder de transferência de voto, já que está fora das próximas disputas eleitorais por estar inelegível.

“Manaus é uma cidade que votou com o Bolsonaro, então, os candidatos estão correndo atrás desses votos bolsonaristas. Esse voto é pautado pelos costumes, valores ortodoxos e contra a ciência, que é o negacionismo e é possível que cresça esta tendência dos evangélicos”, frisou.

Para Ademir, os evangélicos estão organizados, têm as igrejas e suas células em toda a Amazônia, em todo o Brasil, mas, sobretudo, particularmente em Manaus, com uma base forte, devido à organização, rede de comunicação intensa, por meio de rádio, televisão, mídias sociais da igreja, cultos, pastores, apóstolos, e toda uma rede de células que cresce cada vez mais.

“É uma situação delicada, porque essas células crescem e minimizam a questão partidária, a ideologia, e isso faz com que o conteúdo programático desses partidos fique fragilizado e desse modo passam a valer cada vez mais os interesses religiosos, interesses que são muitas vezes anticiência e antidemocráticos. Quanto mais se fortalece essas células religiosas dentro da estrutura democrática, mais se enfraquece ideologicamente os partidos, e, sobretudo, a democracia. Por quê? Porque a democracia está assentada nos partidos políticos”, lembrou.

Ramos defendeu seu pensamento pelo fato de que, segundo ele, a concepção religiosa que existe, hoje, é uma concepção bastante fisiologista, patrimonialista, que se aparelha o Estado para os seus interesses, se aparelha para os interesses privados, particulares e religiosos, fazendo com que as instituições democráticas se debilitem.

“Desse modo se perde a dimensão coletiva, a dimensão social, a questão da cidadania e da soberania popular. Por outro lado, a estrutura atual permite tal decisão. Dessa forma, então, temos que respeitar e vamos avaliar no sentido de que o povo possa despertar para uma crítica social sobre a religião. Nesse sentido, infelizmente, a religião pode ser um instrumento de dominação contra o processo de conscientização e emancipação do povo pelos seus algozes”, defendeu Ramos.

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