Manaus, 6 de maio de 2024
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Cenário

Com Lula ou Bolsonaro no poder, Amazônia não para de bater recordes de queimadas

O recorde de queimadas na Amazônia trouxe à tona novamente a questão política sobre os números nos governos Lula e Bolsonaro.

Com Lula ou Bolsonaro no poder, Amazônia não para de bater recordes de queimadas

(Fotos: Greenpeace/Ricardo Stuckert e Agência Brasil)

Manaus (AM) – A Amazônia mais uma vez se vê assolada por um recorde alarmante de queimadas. Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados na terça-feira (27), o mês de fevereiro registrou a maior quantidade de focos desde o início da série histórica, iniciada em 1999. Até o último dia 26, foram registrados 2.924 pontos de incêndio.

Comparado com o mês de fevereiro do ano anterior, que registrou 734 focos de incêndio, a Amazônia apresentou um aumento preocupante de 298% em apenas um ano. O número pode aumentar até o fechamento do mês, na quinta-feira (29).

Ao longo dos últimos anos, a questão das queimadas na Amazônia se tornou uma arena onde a direita aponta o dedo para a esquerda e vice-versa, num jogo de responsabilização que ofusca a necessidade urgente de ações concretas para preservar esse ecossistema vital.

Atualmente, o governo de Lula enfrenta críticas por parte de bolsonaristas. Um deles é o deputado federal Capitão Alberto Neto (PL), que atribui as queimadas à gestão do petista.

Para Alberto Neto, que é pré-candidato à Prefeitura de Manaus, o atual governo não demonstra respeito pela região Norte do país. Segundo ele, a Amazônia é utilizada como uma bandeira em discursos falaciosos sobre preservação ambiental e gestão climática, enquanto, na prática, nada é feito para conter as queimadas que assolam a região.

“Quanto mais a Amazônia precisa queimar para que o Governo tome uma atitude e pare de colocar a região Norte em segundo plano”, escreveu o deputado nas redes sociais.

Em outra postagem, ele tece críticas à ministra do Clima e Meio Ambiente, Marina Silva (REDE), após ela afirmar que o Amazonas teve uma redução de 64% no desmatamento, em outubro de 2023. “O povo do Amazonas passa por um momento difícil e neste Governo omisso e incompetente, fica cada vez mais claro que somos tratados como povo de segunda categoria. O Amazonas faz parte do Brasil e a Amazônia é um patrimônio de todos os brasileiros”, disse Alberto.

De fato, em outubro do ano passado, de acordo com o Inpe, o ritmo de desmatamento teve queda na Amazônia, com o mês de outubro sendo o sétimo mês consecutivo de redução na devastação. Entretanto, o acumulado de 2023 ainda é o sexto maior em 16 anos, desde 2008, quando o instituto de pesquisa implantou o monitoramento por satélite. E equivale à destruição de três vezes a cidade do Rio de Janeiro ou 1,2 mil campos de futebol por dia.

Com isso, a incapacidade de prevenir incêndios tem sido uma fonte de pressão para o governo, que havia prometido colocar a proteção ambiental como uma de suas principais prioridades.

No entanto, não tão distante, assim como o Capitão Alberto Neto, políticos da esquerda também criticavam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por suas políticas ambientais, como é o caso do ex-deputado federal Zé Ricardo (PT), que por meio das redes sociais declarava que Bolsonaro mentia sobre dados de queimadas e desmatamentos na Amazônia.

“Bolsonaro mente ao dizer que não houve queimadas na Amazônia este ano”, diz opetista em uma postagem no X, antigo Twitter.

Em outro comentário, Zé Ricardo afirmou que Bolsonaro incentivava a grilagem e queimadas. Na época, o então deputado federal disse que o ex-presidente desmantelou toda a estrutura do Ibama e de outros órgãos de fiscalização que atuavam na Amazônia para conter a ação de grileiros, desmatadores, fazendeiros à margem da lei, madeireiros e outros criminosos socioambientais.

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Manaus sufocada

No ano passado, precisamente no segundo semestre, o Amazonas registrou picos de incêndios, o que deixou algumas cidades do estado cobertas por fumaça, principalmente Manaus. O Inpe apontou que o estado liderou o ranking de queimadas no período em relação a todos os focos da Amazônia Legal.

Manaus registrou por dias seguidos o pior ar para se respirar no mundo, de acordo com o World Air Quality Index (WAQI). O estado, na época, decretou emergência ambiental.

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Nem direita e nem esquerda

O Portal AM 1 procurou a socioambientalista Muriel Saragoussi para saber, na avaliação dela, como é possível transcender a polarização política e agir de forma eficaz para deter as crescentes taxas de queimadas na Amazônia.

A especialista afirma que o problema não é culpar esquerda ou direita, mas sim o modelo de desenvolvimento baseado em desmatamento e queimadas para tomar terras públicas. Segunda Saragoussi, a mudança climática é o que precisa ser combatido com absoluta urgência para que esses incêndios não se tornem parte do cotidiano.

“Porque nesse modelo de desenvolvimento em que as pessoas acreditam que desmatar é se apropriar da terra, que acreditam que para fazer pasto você tem que queimar a terra, que acreditam que para fazer lavoura precisa queimar e que não procuram outros métodos de trabalho, você acaba sempre tendo a faísca necessária para que o fogo se espalhe”, pontuou, reafirmando que combater as mudanças climáticas radicalmente é diminuir o desmatamento, inclusive o “desmatamento legal”.

“O desmatamento ilegal é crime, tem que parar de qualquer jeito. E o desmatamento legal não deve ser nem pensado como uma opção na Amazônia. Precisamos criar uma economia de floresta em pé. Isso não é uma questão de direita ou esquerda, é uma questão de sobrevivência da humanidade”, ressaltou.

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(Foto: Divulgação/PMAM)

A preservação do bioma, a floresta tropical com maior biodiversidade do planeta, é considerada fundamental para frear o agravamento das mudanças climáticas. A maior fonte de origem dos gases de efeito estufa lançados pelo Brasil na atmosfera é o desmate.

Portanto, é fundamental que a questão das queimadas na Amazônia seja tratada com seriedade e urgência, independentemente de quem esteja no poder. É necessário adotar políticas ambientais responsáveis e eficazes, que promovam o desenvolvimento sustentável e a preservação dos recursos naturais, garantindo a proteção da Amazônia e de sua biodiversidade única para as gerações futuras. Enquanto isso não acontecer, o registro de recordes de queimadas na região continuará a ser uma triste realidade que demanda a atenção e a ação de todos os setores da sociedade.

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