Manaus, 2 de maio de 2024
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Manaus, 2 de maio de 2024

Opinião

Ruy Marcelo

Por que tanto alarde sobre as fumaças das queimadas?

Nos últimos meses, de estiagem severa e crise climática, é com frequência que Manaus amanhece envolvida em densa fumaça proveniente das queimadas.

Por que tanto alarde sobre as fumaças das queimadas?

(Foto: Ibama/AM)

Por Ruy Marcelo (*)

Nos últimos meses, de estiagem severa e crise climática, é com frequência que Manaus amanhece envolvida em densa fumaça proveniente das queimadas.

Em consequência disso, varia de ruim a péssimo o nível de poluição atmosférica na região metropolitana, como classifica a Universidade do Estado do Amazonas por suas estações de monitoramento da qualidade do ar. Acompanhe pelo aplicativo Selva (www.appselva.com.br)

A imprensa não se esquiva de informar toda vez que o fato se repete.

Bem que o faça. Exerce, assim, relevante serviço de utilidade pública de alerta à população.

É que não se trata de uma inofensiva fumacinha passageira, como algum leigo poderia julgar pela aparência.

Além de causarem desequilíbrio climático (aumento do calor, impedindo as chuvas e subida dos rios) e dano ambiental (envenenando plantas, animais e a floresta), as fumaças, ainda que intermitentes, ameaçam direta e imediatamente a saúde da população.

Os indivíduos mais sensíveis e vulneráveis precisam de pronto atendimento médico por sintomas respiratórios e cardiovasculares (doentes crônicos, gestantes, idosos, crianças). Pode ser letal neles, conforme pesquisa publicada no jornal brasileiro de pneumologia em 2021, de autoria de Marilyn Pereira et al.

Não obstante, os demais cidadãos não estão livres da intoxicação. Não se descartam adoecimentos a curto, médio e longo prazos.

A exposição a material particulado e outros poluentes pode gerar doenças inflamatórias, enfisemas, câncer no pulmão e em outros órgãos. Confiram pesquisa de Paulo Artaxo et al (USP) publicado na revista Nature em 2017.

“O material particulado PM 2.5, são partículas muito finas que podem ter o diâmetro de 2,5 mícrons ou até menos e tem capacidade de penetrar profundamente nos pulmões, causando graves problemas respiratórios, podendo afetar outros órgãos e inclusive podendo causar acidentes vasculares cerebrais (AVC)”, conforme explica a pesquisadora da Fiocruz Amazônia Alessandra Nava.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a poluição atmosférica seja responsável por cerca de sete milhões de mortes prematuras por ano, embora os serviços de saúde nem sempre façam a associação causal.

Até que o Poder Público seja capaz de debelar os ilícitos ou que a Providência Divina nos conceda as chuvas de misericórdia para aplacar parcialmente os efeitos das iniquidades humanas (parcialmente, pois com a chuva os poluentes vão contaminar rios e solos, o pescado, a fauna e a flora), restam-nos as medidas de proteção.

Em momentos de poluição do ar, evite atividades ao ar livre. Se inevitável, use máscara. Mantenha-se hidratado. Feche portas e janelas. Use depuradores e umidificadores em ambientes internos. Procure o posto de saúde mais próximo em caso de sintomas tais como dor de cabeça, irritações, sangramento nasal, cansaço, tosse, falta de ar e crise hipertensiva.

Para além do socorro à saúde, o Poder Público deve auxiliar limitando as queimas nos momentos críticos de poluição no ar, com restrição à circulação de veículos à combustão e a fontes de emissão fixas (chaminés) de gases poluentes.

(*) Mestre em Direito Ambiental, professor de Direito e procurador de contas

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