Manaus, 28 de abril de 2024
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Manaus, 28 de abril de 2024

Cenário

‘Desgastado’, avaliam especialistas sobre candidatura de Carlos Almeida

O ex-vice-governador Carlos Almeida (Sem Partido) tenta se viabilizar politicamente para colocar seu nome à disposição do eleitorado manauara.

‘Desgastado’, avaliam especialistas sobre candidatura de Carlos Almeida

(Foto: Pedro França/Agência Senado)

Manaus (AM) – A disputa pela Prefeitura de Manaus, em 2024, tem movimentado intensamente o cenário político amazonense, e, uma das possíveis pré-candidaturas ao cargo majoritário é a do ex-vice-governador Carlos Almeida (Sem Partido), que tenta se viabilizar politicamente para colocar seu nome à disposição do eleitorado manauara.

No entanto, o defensor público tem encontrado dificuldades em alavancar uma possível candidatura, começando pelo partido pelo qual irá concorrer, já que desde junho ele viabiliza a sua filiação ao Partido dos Trabalhadores, mas tem encontrado resistência dentro partido, especificamente da direção estadual da sigla, comandada pelo deputado estadual Sinésio Campos.

Por outro lado, Almeida tem a simpatia e apoio de outro dirigente do PT, o presidente do diretório municipal, Valdemir Santana. Antes de pleitear uma vaga nas fileiras da sigla de esquerda, Carlos estava filiado ao PSDB.

Dentro do PT, existem diversos nomes que já manifestaram o interesse em disputar e conquistar a cadeira de prefeito em 2024, como o do ex-deputado federal José Ricardo e de Anne Moura, secretária nacional da sigla, que concorreu como vice-governadora nas eleições de 2022, na chapa do senador Eduardo Braga (MDB).

No dia 22 de novembro, a filiação do defensor público ao PT foi negada por 8 a 2. Os que não concordam com a entrada do ex-vice-governador afirmam que ele quer fazer parte da sigla por conveniência e o acusam de ser ‘bolsonarista’.

A mais recente manifestação pública de Almeida em relação ao assunto foi no último sábado (25), quando o defensor publicou uma foto junto a Santana e outras pessoas e escreveu nos stories do Instagram: “A construção é feita de forma coletiva”.

Início

O defensor iniciou sua trajetória no meio político em 2018, quando ao lado do governador Wilson Lima (União Brasil), saiu vitorioso, inclusive, era a primeira disputa eleitoral dos dois, que venceram na onda do “novo”, livres da velha política, bem como dos caciques políticos, embalados também pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Carlos ocupou o cargo de secretário de Saúde e foi chefe da Casa Civil, no início do primeiro mandato de Lima, mas os dois se afastaram após um ano de governo.

Em meio à turbulência na relação de Wilson e Carlos, o ex-vice-governador se afastou da política, ficando alguns períodos de sua carreira política sem partido para chamar de seu, como no caso atual.

No ano de 2018, o político conquistou a cadeira de vice-governador pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB); em abril de 2020 assumiu a direção estadual do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, em maio de 2021, já estava no PSDB, ex-partido de Arthur Neto, que foi quem enviou, na época, uma nota à imprensa sobre a chegada de Almeida à sigla tucana.

Perda de capital político

Davyd Spencer Ribeiro de Souza, sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), disse Portal AM1 que Carlos sofreu um grande desgaste nos últimos anos, o que, consequentemente, gera uma redução do seu capital político.

“O Carlos Almeida é uma dúvida nesse processo, ele não conseguiu estabelecer uma estratégia política de sobrevivência e de acumulação de capital político, quando esteve na condição de vice-governador, então, teve uma imagem muito desgastada. Foi uma janela e uma oportunidade, não necessariamente perdida, mas que ficou bastante prejudicada. A condição de vice-governador é uma condição extremamente relevante na cena política, no jogo político, de se viabilizar como uma alternativa ao público”, explicou o professor.

Na opinião do sociólogo, devido aos acontecimentos na época em que estava como vice-governador, Almeida precisa, agora, fazer um esforço muito maior de reconstrução da sua imagem, de demonstração da sua capacidade e de que ele tem projeto para o estado.

“Além do desgaste que ele sofreu, tem agora essa incerteza de sua filiação ao PT e isso coloca mais ainda uma incógnita, coloca em dúvida a sua capacidade de se viabilizar para o próximo pleito”, destacou Davyd.

Mesmo com as dificuldades, Spencer pontuou que ainda há tempo, certamente, para as construções políticas, articulações e viabilizações para as eleições do próximo ano.

Já quer ir para a janela?

Na visão do cientista político, antropólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Ufam, Ademir Ramos, filiar-se a um partido e já querer ser candidato a prefeito é algo “estranho”.

“Parece que ele tem uma grande resistência dentro do PT. Ele não é muito bem-aceito. Ouvi um papo nos bastidores assim: ‘O cara entra no ônibus e já quer ir para a janela?’, essa é a discussão que está se fazendo internamente. Não há um consenso, ele pode até se filiar no partido, mas não quer dizer que ele seja candidato, então, filiação pode, mas candidatura é duvidosa”, afirmou.

Ficha-suja

Ramos frisou, ainda, que o antigo governador do estado é ficha-suja, uma vez que é réu no Superior Tribunal de Justiça (STJ), desde setembro de 2021, devido ao caso de desvio de recursos na compra de 28 respiradores pulmonares para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Almeida e 13 pessoas respondem ao processo que ainda não foi julgado definitivamente.

“Ele faz parte daquele grupo réu no STJ, e, a qualquer hora, aquele processo pode voltar à baila (voltar), não foi transitado e julgado. Não se sei o PT vai referendar a vontade dele. É preciso levar em consideração toda a sua trajetória, inclusive, a posição de réu em processo”, lembrou Ademir.

Para o cientista político, o ex-vice-governador tem direito de ser candidato, mas em sua opinião é ruim para um partido, como o PT, sair com um candidato réu em processo.

“Mas como ele é jovem, tudo é possível, mas não sei se ele tem capital eleitoral para tanto, não sei. De qualquer maneira, vamos ver, não vejo muita aptidão nessa vontade”, concluiu.

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