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Política

Dia de Malhar Judas: como a traição está presente na política?

Assim como na religião, a política brasileira também já contou com muitos casos de traição

Dia de Malhar Judas: como a traição está presente na política?

Tradição gera reflexão sobre o cenário político (Foto: Câmara de Povoa de Lanhoso/ Divulgação)

BRASÍLIA (DF) – O Sábado de Aleluia, comemorado hoje, em celebração à ressurreição de Jesus na Páscoa, também reacende uma tradição antiga: “Malhação do Judas”, discípulo que entregou a localização de Jesus aos romanos por 30 moedas de prata, ocasionando a morte do Messias.

Assim como na religião, a política brasileira também já contou com muitos casos de traição. Em 12 de maio de 2016, por exemplo, a palavra traição foi citada no discurso de Dilma Rousseff (PT) logo após o seu afastamento da Presidência da Republica por impeachment.

“Estou vivendo a dor da traição”, declarou a petista aos apoiadores do seu governo, em frente ao Palácio do Planalto.

Na época, sem mencionar nomes, Dilma se referia ao então vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que se tornou presidente interino após a sua saída, garantida por votação majoritária no Senado.

Curiosamente, no mês seguinte, a revista britânica “The Economist” estampou em sua capa o título “A traição do Brasil”, sobre uma montagem do Cristo Redentor pedindo socorro.

Além de defender novas eleições presidenciais, a publicação da britânica afirmou que o país sofreu na época uma “grande traição” tanto pela presidente afastada quando pela classe política.

Na época, um caso envolvendo o amazonense e ex-ministro dos Transportes da petista, Alfredo Nascimento, foi visto como uma traição.

Isso porque, após o partido presidido por ele até então, orientar sua bancada na Câmara a votar contra o impeachment da petista, ele surpreendeu o parlamento ao renunciar seu cargo no comando da legenda para votar a favor da saída de Dilma do comando presidencial.

Alfredo foi ministro dos Transportes em 2011 no governo Dilma por pouco mais de sete meses, e deixou o cargo depois de ter sido acusado de participar de um esquema de corrupção dentro do ministério. Nascimento nega as acusações.

Além de Nascimento, que hoje faz parte do Partido Liberal, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro e oposição no Congresso ao governo Lula, outros 25 deputados do partido votaram pela admissibilidade do processo de impeachment.

Alckmin e Lula

Depois dos conflitos de Dilma e Temer, curiosamente o atual mandato de Lula conta com um antigo adversário político como vice-presidente. Rival do petista na eleição presidencial de 2006, Geraldo Alckmin, já vinha sendo estudado para compor a chapa presidencial desde 2021, com as articulações de Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PDT), ex-secretário de educação do governo de Alckmin em São Paulo entre 2002 e 2006.

Na época, a situação de Alckmin no PSDB e o fato de que seu principal antagonismo (e mágoa, dizem pessoas próximas) no momento serem contra João Doria, facilitaram a aproximação.

Agora, na condição de vice-presidente, aliados de Alckmin afirmam que ele tem também a expectativa de assumir a cadeira presidencial diversas vezes, já que Lula tem dito que pretende viajar para “recuperar a imagem e o prestígio” do Brasil no exterior.

Entretanto, nos bastidores da política em Brasília, existe o comentário de que Alckmin, na verdade, possa assumir a cadeira de forma definitiva após cassação política de Lula.

Em matéria divulgada pela Jovem Pan, na última quinta-feira (6), com o título “Geraldo Alckmin está de olho na Presidência?”, o jornalista Reinaldo Polito é incisivo ao dizer que “tem gente dizendo, por exemplo, que o vice-presidente Geraldo Alckmin está esfregando as mãos para trocar a Granja do Torto pelo Palácio do Alvorada. Está certo que Lula tomou posse com o pé esquerdo e os números da economia não são lá muito animadores”.

O primeiro passo para que Alckmin assuma segundo a matéria, é que Lula cometa crime de responsabilidade, e já existem inúmeros pedidos de impeachment direcionados ao petista, que foram protocolados no Congresso com base nesta alegação.

“Quando deixou claro que o impeachment de Dilma foi um golpe, pois nesse caso pôs em dúvida a lisura da atuação do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Ao declarar que a descoberta do plano de uma organização criminosa para eliminar o ex-juiz e senador Sergio Moro e sua família foi uma armação. Neste caso desqualificou o trabalho da Polícia Federal e do seu ministro da Justiça. Ao enfatizar que, como vingança, sua intenção era f… o senador, deixando evidente seu desejo de se vingar e prejudicar o ex-juiz. Essas são as munições dos críticos, pois não consideram esse comportamento digno de um Presidente da República”, afirma o portal.

Traição faz parte da política

Para o diretor-superintendente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira, a traição faz parte da disputa política, seja no campo do débito ou do crédito, e é sempre comemorada pelos que ganham e lamentada pelos que perdem, como se o julgamento fosse pelo resultado, e não pelo princípio.

“Se o político conquista o voto nessa negociação, como esperar que ele faça diferente quando tiver no exercício do seu mandato? Mas a sociedade continua a condenar o fisiologismo de seus representantes, apesar de utilizar dessa mesma arma quando tem oportunidade”, cita o diretor, afirmando que a traição sempre fará parte do meio político.

O fato é que a política brasileira tem um histórico de traições ou de poderes, onde se prevalece quem está por cima. O que nos resta é esperar os próximos capítulos desse filme.

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