Manaus, 27 de abril de 2024
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Política

Em depoimento, Bolsonaro acusa Moro de pedir vaga no STF para trocar diretor da PF

No depoimento, presidente disse que o ex-ministro aceitou nomear Alexandre Ramagem em troca de ser indicado para vaga no STF

Em depoimento, Bolsonaro acusa Moro de pedir vaga no STF para trocar diretor da PF

Foto: Marcos Corrêa/PR

BRASÍLIA, DF – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) prestou depoimento nesta quinta-feira (4) à Polícia Federal. Ele foi convocado no âmbito do inquérito que investiga uma suposta interferência sua na corporação, denunciada pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. A íntegra do depoimento foi tornada pública pela CNN Brasil.

Bolsonaro foi ouvido após uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O depoimento é um dos últimos estágios do inquérito ainda na Polícia Federal. Após isso, ele vai ser encaminhado par ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que vai decidir se denuncia ou não o presidente por crime de responsabilidade.

A defesa de Moro se disse “surpreendida” pelo depoimento de Bolsonaro sem a intimação dos representantes do ex-ministro. Em nota, os advogados disseram que isso impediu seu comparecimento “a fim de formular questionamentos pertinentes. “A adoção de procedimento diverso no que concerne aos dois investigados não encontra justificativa plausível, tendo em vista a necessária isonomia legal que sempre deve existir entre os depoentes”, diz a nota.

Leia mais: PF tem 30 dias para ouvir Bolsonaro, determina Moraes

Interferência e troca de favores

No depoimento, Bolsonaro disse nunca ter interferido na corporação, mas que pediu a troca do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, porque havia uma “falta de interlocução” entre o presidente e o diretor geral. O presidente disse que não havia insatisfação ou falta de confiança com o trabalho de Valeixo, e que nunca teve a intenção de, “com a alteração da direção geral, obter informações privilegiadas de investigações sigilosas ou de interferir no trabalho de Polícia Judiciária ou obtenção direta de relatórios da PF.

Bolsonaro ainda disse que indicou o nome de Alexandre Ramagem para Moro, por causa de sua “competência e confiança construída” durante a campanha eleitoral de 2018. Ramagem foi o chefe da segurança pessoal de Bolsonaro após o segundo turno, e conheceu o presidente ainda durante o primeiro turno, juntamente com seus filhos. Segundo o presidente, Moro teria concordado com troca, desde que fosse indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Relatórios e vazamentos

No depoimento, o presidente foi confrontado sobre uma de suas declarações na reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando disse que a PF não lhe dava informações. Bolsonaro respondeu que não obtinha informações de “forma ágil e eficiente dos órgãos do Poder Executivo”. O chefe do Executivo ainda disse que se referia a relatórios de inteligência de “fatos que necessitava para a tomada de decisões”, mas não sobre investigações.

Leia abaixo a íntegra do depoimento

Segundo Bolsonaro, ele nunca obteve relatórios produzidos pela PF de forma direta, e que não tem acesso ao Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin). O presidente ainda teria reclamado que muitas informações relevantes para a sua gestão chegavam a ele primeiro pela imprensa, quando deveriam chegar “por meio do Serviço de Inteligência”.

Bolsonaro também relatou à PF que desconfiava que haviam vazamentos de informações sigilosas de investigações da PF para órgãos de imprensa. Ele se referiu a uma matéria do site O Antagonista, que dizia que a corporação estava “na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. O presidente teria encaminhado a mensagem para Moro, dizendo que seria mais um motivo para a troca do diretor geral da Polícia Federal.

Casos Adélio e Marielle Franco

Jair Bolsonaro também foi questionado se a troca do diretor geral teria sido motivada pela falta de empenho da corporação na investigação do atentado contra ele em 2018. Na ocasião, em setembro de 2018, Bolsonaro foi esfaqueado por Adélio Bispo de Oliveira durante um compromisso de campanha na cidade de Juiz de Fora (MG).

O presidente respondeu que cobrou de Moro uma investigação mais célere e objetiva sobre o atentado, mas não observou “nenhum empenho do ex-ministro em solucionar o assunto”. Bolsonaro também afirmou, em seu depoimento, que só conheceu o delegado responsável pela investigação do atentado, mas que não fez nenhum pedido sobre a investigação ou qualquer interferência no andamento dos trabalhos.

Bolsonaro também reclamou que Moro não era proativo, principalmente no caso Marielle Franco. Durante as investigações, o porteiro do condomínio onde fica a casa pessoal de Bolsonaro, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), teria dito que Renan Bolsonaro, filho do presidente, teria namorado a filha do ex-policial militar Ronnie Lessa, envolvido na morte de Marielle. Semanas mais tarde, a alegação teria se provado falsa.

Segundo o presidente, não houve qualquer empenho ou preocupação de Moro em solucionar o caso, e que o esclarecimento sobre o namoro entre Renan e a filha de Ronnie Lessa só veio à tona por causa dos insistentes pedidos do presidente para que Moro investigasse o caso.

(*) Com informações da CNN Brasil.

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