Manaus, 11 de maio de 2024
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Manaus, 11 de maio de 2024

Cenário

Exclusivo: Praciano quer ser deputado estadual ‘para participar da campanha do Lula’

"Aliança não é um indulto, aliança é um momento, então eu não tenho candidato ao governo estadual e nem a senador", afirma Praciano

Exclusivo: Praciano quer ser deputado estadual ‘para participar da campanha do Lula’

O ex-deputado federal Francisco Praciano concedeu, na última segunda-feira (2), uma entrevista exclusiva ao Portal AM1, na qual relembrou as vezes em que foi tirado da disputa eleitoral em busca de uma cadeira no Senado Federal pelo próprio partido do qual é filiado e conhecido: o Partido dos Trabalhadores. Apesar de já ter afirmado que não guarda mágoa, o petista afirmou que não gostou das atitudes e, por isso, pensou em se filiar a outra sigla para disputar o pleito deste ano.

Para ele, a esquerda no Amazonas perdeu a força a partir do momento que tiraram quem tinha chances de se eleger e, com isso, houve uma “debandada” dos nomes de esquerda após as eleições de 2014.

Praciano também disse que pretende ser deputado estadual para contribuir com pautas que realmente representem a Amazônia, o Amazonas. O ex-deputado afirmou, ainda, que instituições que deveriam fiscalizar não cumprem o seu papel há muito tempo no Amazonas,

AM1: Conte um pouco sobre a sua decisão em voltar ao cenário político. O senhor chegou a afirmar que não pretendia se candidatar. Por que o senhor quer ser deputado estadual?

Praciano: Eu saí do cenário político porque eu perdi uma eleição. Na minha última eleição, eu tive mais de 560 mil votos, mais de meio milhão [..] perdi o mandato de federal e assim que eu terminei, depois de quase trinta anos de mandato, quatro de vereador, dois de federal, eu não tinha nenhuma poupança, eu só tinha uma casa, a de sempre, um cachorro e uma kombi, de coisas materiais. Vendi minha casa para completar uma aposentadoria e decidi ir para o Ceará, onde minha família nasceu, eu tinha uma casa na beira da praia, não iria pagar aluguel, olhando para o mar, embora simples, na minha casa iria viver até me aposentar, um ano e três meses depois, porque não quis me arriscar, buscar mercado, arranjar emprego em prefeitura, eu, como oposição, ninguém gostava de mim.

Pedi para o governador, pedi do PT, nunca pedi nada até hoje. Então, eu fui para lá por aspecto financeiro, eu tinha intenção de voltar, passar apenas um ano com a família, depois de muitos anos ausente, mas chegando lá, eu adoeço, morri e ressuscitei, passei três anos para recuperar, cadeira de roda, muleta, tudo que se imagina. E depois disso, a minha mulher pega um câncer no intestino e passa mais dois anos para se recuperar, se recuperou recentemente, mas está recuperada assim como eu. Esse foi o motivo da minha ausência.

No meio disso, me chamaram para ser candidato ao Senado, com convite, inclusive da nacional e quando eu chego aqui, véspera de decisão, de convenção, me substituíram pela Vanessa (Grazziotin), eu voltei de novo ao Ceará e agora tentei ser senador e o PT, por uma estratégia nacional, decidiu que o senador é o Omar. Pela terceira vez, o PT me tira essa oportunidade de sair candidato, até porque eu estou livre, eu saio hoje candidato pelo PT, independente se ganho ou não, eu não tenho mais essa preocupação. Voltei agora por um motivo: participar da campanha do Lula e para participar da melhor forma é também sendo candidato, esse é um dos motivos.

O outro é algo de coração, toda vez que digo que moro na beira da praia, casinha na beira da praia, numa vila de pescador, alguém fala: “é um paraíso” e não é, não tem paraíso quando você não está com os seus amigos. Eu me sentia um tanto exilado pela ausência dos amigos e decidi sair (candidato) por conta do Lula e pela vontade de fazer política.

“Eu aplaudo a iniciativa, como a minha, da gente se unir e buscar a eleição do Lula, mas isso não significa que obrigatoriamente eu tenha que me aliar.”

AM1: Em meados de maio do ano passado, chegou a ser cogitado uma possível candidatura do senhor ao Governo ou Senado. Ela estava condicionada a um não fechamento de aliança com Braga e Omar. Esse é um dos motivos para não vir ao cargo de senador. Foi uma decisão nacional?

Praciano: A decisão nacional, ela é de não ter governo (candidato) e nem a Senado, mas hoje eles já decidiram ter o Omar como Senado e buscando um palanque, através de um governador, que pode ser qualquer um deles. Eu continuo com a mesma visão, respeito esse objetivo, acho que a volta do Lula é uma necessidade diante do governo atual. E é por isso que eu respeito a estratégia e respeito todos os governadores, todos os políticos que fizeram esse esforço de recolocar o Lula lá em nome da soberania do país, em nome da democracia, da recuperação de direitos, dos programas sociais, eu concordo com tudo isso, mas eu não obrigado a admirá-los, não sou obrigado a ser eleitor.

Hoje, as nossas candidaturas são as candidaturas da frente, principalmente a candidatura do Zé Ricardo, da Vanessa e a minha para estadual.

AM1: Por que o senhor foi substituído pela ex-senadora Vanessa Grazziotin a uma cadeira no Senado, em 2018? Explique.

Praciano: Porque a Vanessa fez um bom papel na defesa da Dilma e esse bom papel da Vanessa, por conta disso, decidiram que a prioridade era dela, para ser sincero, eu não gostei. Achava que eu, na época, assim como a Gleisi (Hoffmann) não saiu do Senado, porque estava com a rejeição muito alta no Paraná, achava também que a Vanessa poderia sair para estadual e eu que não precisava nem de mandato, acho que ela buscava muito mais do que eu isso.

Poderia sair para estadual para fortalecer o time, ganhando ou perdendo, mas o que aconteceu foi um desastre, eu saí da política, e, sem modéstia, eu sair da política acho que não foi bom para o estado. A Vanessa saiu e foi outra perda para o movimento. Houve uma perda de qualidade política no estado.

AM1: Em agosto do ano passado, o senhor disse ao Portal AM1 que se concorresse às eleições seria fora do PT. Por quê?

Praciano: Se eu quisesse teria saído num partido equivalente ao PT, teria ido para o Psol, mas por que eu disse isso? Porque no momento cabia, e ainda cabe. Eu sou petista, não precisa ser de carteirinha, acho que de comportamento, eu nasci petista; pelo jeito que eu penso, para qualquer partido que eu for; eu vou levar os mesmos pensamentos. Isso é um assunto meio delicado. O que você faria na seguinte situação? Fui quatro vezes vereador, de esquerda, mandatos dinâmicos, muitas lutas de massa, transporte, estudantes, saio daqui vou ver o segundo deputado, junto ao Carlos Souza – mais votado de Manaus, fiz um mandato no estilo do PT, petista, fui o mais votado do estado e saio para Senado com meio milhão de votos. Sendo petista, primeira vez que saí candidato ao Senado por pressão da nacional, e depois coloca a situação na Justiça para me tirar, a pedido do Omar, e assim eles me tiraram, fiquei dois meses sem fazer campanha porque eu estava sub judice, a pedido do meu partido, por conta de aliança nacional.

Consegui participar e ganhei, na segunda vez, o PT também me tirou e colocou a Vanessa, na primeira, por conta da Justiça, não me tirou; na segunda, me tirou mesmo e agora de novo. O que me sobra? Falaram para ‘mim’ [sic] sair para federal, eu estou representado pelo Zé (Ricardo), seu eu sair (a candidato), com certeza, o Zé não vai gostar, porque não há espaço para os dois, os nosso eleitores são quase iguais.

A Vanessa também não vai gostar e a nacional também, porque o Zé é um candidato eleito, para quê perturbar esse processo? Então não saí para federal por conta disso e me incentivaram para sair para estadual e saí, mas também estou com dificuldade de consolidar meu nome a esse cargo, porque tem deputados candidatos dentro do PT que não estão gostando da minha concorrência. Se não havia espaço para mim, e eu quisesse sair, eu sairia candidato onde? Por isso, falei aquilo.

“Se eu ganhar essa eleição, vou buscar uma pauta do tamanho da Amazônia, de índios, principalmente. Aqui na Assembleia (Legislativa do Amazonas), eles têm um comportamento como se fosse uma Assembleia na Paraíba”, disse Praciano

AM1: O senhor estava morando desde 2015 no interior do Ceará, como é voltar a Manaus depois de sete anos?

Praciano: Eu me sentia um tanto exilado. Eu sou um cearense amazonense com muita história, muita vida aqui em Manaus. Casei aqui, fiz faculdade aqui, trabalhei aqui, tive quatro mandatos de vereador. E eu penso que não há felicidade, não há paraíso distante dos amigos. É uma alegria grande estar de volta, não vim mais vezes porque a condição financeira não me permite. A minha decisão de sair para estadual também é uma experiência que eu ainda não tive, quero assumir uma pauta mais amazônica sendo deputado estadual.

Aqui é Amazônia, aqui tem assassinato de índio e ela não se pronuncia, nem o povo fica comovido, nenhuma instituição foi forte na defesa e na Assembleia ninguém se manifesta. Quero fazer com que a Assembleia se apaixone pela Amazônia.

Outra coisa que me incomoda: eu não vejo mais as instituições cumprirem o seu dever, por exemplo, o TCE (Tribunal de Conta do Amazonas) é um absurdo de dinheiro gasto, vejo um TCE pior, como nunca vi. Sempre critiquei e, como deputado estadual, eu poderei ficar fiscalizar mais para cobrar que ele cumpra a sua obrigação. Sabe por que eu falo isso? O orçamento do Amazonas, a arrecadação é R$ 25 bilhões, que dá R$ 100 bilhões por ano na mão de uma Assembleia que não fiscaliza, na mão de um governador que não tem nenhuma experiência.

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AM1: O Partido dos Trabalhadores tem um histórico de divergências internas em relação a candidaturas majoritárias. É o que também aconteceu este ano. Como o senhor vê isso?

Praciano: Como eu disse, eu aplaudo toda iniciativa de quem quer que seja, Amazonino, Omar, Braga no sentido de eleger o Lula, ele é prioridade e uma necessidade, o Lula está proibido de perder essa eleição. Então isso justifica aplaudir essa turma, muito obrigado, o Brasil agradece vocês, mas isso não me obriga a fazer aliança com eles; o meu candidato se chama Lula e não Omar.

AM1: O seu desejo era ser candidato ao governo, Senado ou a deputado estadual? Qual a vontade do Praciano?

Praciano: Eu queria ao Senado, nunca neguei isso.

AM1: Vamos falar novamente sobre sua saúde. Em 2016, o senhor teve uma forte pneumonia, ocasião em que ficou em coma, mas se recuperou. Como o senhor está de saúde atualmente, se sente preparado para enfrentar uma eleição a deputado estadual?

Praciano: Eu estou igual o Lula, me sinto um menino ainda, queimando “óleo vinte”. Minha saúde está em dia, perfeita, os indicadores de saúde estão todos certinhos. Estou preparado.

Estou voltando agora e estou sentindo que está pior do que antes, acho que a qualidade da Câmara, da Assembleia, tem exceções, obviamente, como nosso companheiro Sassá da Construção

AM1: Como o senhor vê o cenário político atualmente, regional e o nacional?

Praciano: Vejo de forma preocupante. O nacional, acho que não dá nem para falar, não tenho dúvida que o nazifascismo penetrou na burocracia do estado, o neoliberalismo define toda a ausência do governo na economia, e isso é bom para eles, estamos entregando patrimônios, estamos tirando a presença do Estado na fiscalização e controle da economia do estado, estamos vendendo riquezas, perdendo soberania, credibilidade, economia parada, Brasil dividido entre o bem e o mal, entre o ódio e o amor. Moral da história: é necessária a volta do Lula por conta dessa conjuntura.

Aqui, localmente, não vejo nenhum avanço. Estou voltando agora e estou sentindo que está pior do que antes, acho que a qualidade da Câmara (Municipal de Manaus), da Assembleia, tem exceções, obviamente, como nosso companheiro Sassá (da Construção), que tem uma boa vontade de fazer política e do nosso companheiro Serafim (Correa), sou PT, mas não posso deixar de falar das qualidades dele, temos pensamentos diferentes muitas vezes, mas é um deputado que tem que se manter e é bom para o estado. Muito escândalo, instituições que deviam fiscalizar, e não funcionam, prefeitos no interior à vontade, emendas que não são fiscalizadas, o Tribunal de Contas da União, que também devia fiscalizar, está quase desativado. Precisamos de uma Assembleia mais forte e reativar as funções das instituições.

AM1: Agora, vamos falar um pouco do seu planejamento para a campanha. O senhor chegou a falar que manteve, durante muito tempo, o perfil que atacava os adversários e que agora queria trilhar mais o caminho das propostas. Fale um pouco:

Praciano: Na Câmara Federal eu já mudei o estilo. Eu dizia: “não vou mais me preocupar com o corrupto, isso só dá mídia, holofote e barulho”, nós temos que nos preocupar com o nosso estado, uma vez que ele está desenhado para a corrupção, para permitir a corrupção. Se coloca membros do Tribunal Federal indicados pelo presidente, que possivelmente esse cara tenha que fiscalizar, julgar esse presidente, então isso tem que acabar. O TCU e TCE têm que ser aperfeiçoados, a primeira coisa é acabar com a indicação do governador, todos os conselheiros, basicamente tem o aval do governador, embora tenha uma época que a indicação é do Ministério Público, o auditado sempre indicando o seu auditor, o fiscalizado sempre indicando o seu fiscal, isso precisa ser aperfeiçoado.

Uma proposta que nós fizemos, uma chamada quarta Câmara, três desembargadores do Tribunal compõem essa Câmara que trata especificamente casos de corrupção. Então quando tem um caso de corrupção que chega nos tribunais, têm três desembargadores prontos para isso, o que acontece hoje, por exemplo, tem 6 milhões de processos e quando chega um caso de corrupção ele fica no fim da fila, se mistura roubo de R$ 200 milhões com roubo de galinha. É preciso criar uma Câmara, uma Vara de primeira instância só para isso, no interior, principalmente tem muitos casos de corrupção. Temos que criar na estrutura do Estado mecanismos para fazer com que o Estado não permita a corrupção, o aperfeiçoamento do Estado é mais importante do que o tiro no corrupto.

Praciano fez severas críticas aos órgãos de controle. Hoje, nós estamos convivendo com um decreto que não me espantou, esse decreto tira 25% da alíquota do IPI, não é do valor do produto.

AM1: Qual sua opinião sobre a polêmica envolvendo a Zona Franca de Manaus, a redução de IPIs?

Praciano: Fui gerente da Philips por 12 anos, então vivi o ataque à ZFM do lado do capital, como gerente e como político, do lado social. Isso é muito claro, que os ataques à Zona Franca são permanentes desde que ela foi criada, antigamente se atacava de outra forma, como diminuir o volume de importação, porque quando se fazia isso você parava fábricas. Outros entraves burocráticos, existia um índice de negociação por produto, tinha que ter apenas certa porcentagem de produtos nacionais.

A produção de moto tem uma alíquota de 35%, a de TV, eletrônicos, tem uma de 15%, o Bolsonaro diminui 25% dessas alíquotas, se ela valia 100%, se pagará apenas 75% fora de Manaus, em Manaus não paga nada, esse decreto, em específico, diminui a competitividade, mas não acaba a Zona Franca, porque em média o lucro presumido, depois de tirar todos os custos passa de 48% a 42%.

O problema não é o decreto, é o Bolsonaro, que vai querer a cada dia aumentar, como já o fez, para 35% e aí complica, como a dos concentrados, acaba sim com a ZFM. O que é que temos que trabalhar? Outros poderão vir e como a gente combate isso? Combatendo o Bolsonaro, tem gente que não quer bater no Bolsonaro e fica batendo só no tal decreto.

O nosso segundo inimigo é a manutenção depois de cinquenta anos, que não conseguimos fazer uma fábrica de ‘ticar jaraqui’, por exemplo.

Cadê a biodiversidade, a exploração de fármacos, a piscicultura, o turismo; uma das regiões que é a marca do mundo? Os aviões passam aqui por cima e se vão, só têm promessas em sessenta anos, por exemplo, a Zona Franca Verde, que não deu em nada; Terceiro Ciclo, que também não deu em nada, acabou a eleição, acabou o Terceiro Ciclo, a Amazonas Rural; se elegeu e acabou o Amazonas Rural; a Cidade Flutuante - tudo papo furado. Se elegeram [sic], uns estão buscando se eleger novamente e buscam o poder, acho que deve ser o poder de mentir, de enganar. Precisamos criar uma economia alternativa, somos obrigados.

Existe uma insegurança jurídica muito grande, e é preciso constitucionalizar as mudanças, permitir que haja mudanças apenas através da Constituição, colocar na Constituição essa regra, não por meio do Guedes (Paulo – ministro), Bolsonaro, decretos.

Perfil

Francisco Praciano nasceu em Itapipoca, Ceará, 18 de fevereiro de 1952 e é economista. Foi eleito deputado federal em 2006 pelo Partido dos Trabalhadores do Amazonas e reeleito em 2010. Ele disputou uma vaga ao Senado nas eleições de 2014, ficando em 2º lugar. Além disso, foi vereador de Manaus durante quatro mandatos consecutivos. Disputou as eleições municipais de 2008 por Manaus, conseguindo apenas a quarta colocação.