Manaus, 17 de maio de 2024
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Manaus, 17 de maio de 2024

Cidades

Guarda Municipal treina com armas e psicóloga alerta: ‘é injusto com eles ativar uma mudança tão brusca’

O treinamento busca capacitar a Guarda Municipal no uso de arma de fogo para a proteção do patrimônio municipal

Guarda Municipal treina com armas e psicóloga alerta: ‘é injusto com eles ativar uma mudança tão brusca’

Foto divulgação

A Guarda Municipal de Manaus iniciou o módulo teórico do treinamento para o uso de armas letais para garantir a “segurança da população manauara”, como afirma o prefeito David Almeida (Avante). O evento sucedeu na sede da Casa Militar nessa segunda-feira (18).

A reportagem do AM1 entrou em contato com uma psicóloga, que alertou sobre os cuidados necessários para o processo de armar uma guarda cujo trabalho primordial é resguardar o patrimônio público e não o policiamento ostensivo.

Visão profissional

A reportagem procurou a psicóloga Taiana Silva (CRP: 20/09871), especialista em terapia cognitiva e comportamental, para explicar a importância do preparo psicológico no manuseio das armas de fogo.

Psicóloga Taiana Silva (@psi.taianasilva)

“A arma de fogo na mão de um profissional de segurança possui o objetivo de proteger a população, mas para que esse papel se cumpra é necessário 3 fatores: a preparação física, psicológica e prática. Portanto, uma avaliação psicológica é indispensável para saber se o profissional tem o perfil ou não para o uso de uma arma de fogo. A avaliação física cumpre o mesmo papel no quesito de preparo físico. Já a prática e manuseio só será adquirida com um rigoroso e repetido treinamento”, disse a psicóloga.

A profissional da saúde ainda alertou sobre a situação encontrada no processo, a Guarda Municipal inicia o trabalho com armas de fogo e a mudança na forma de operar pode causar danos se não for bem coordenada.

“Penso que todos esses profissionais estão cientes de tudo o que a profissão envolve e dispostos a todo esse processo. Já os profissionais da Guarda Municipal efetiva não entraram na profissão cientes desse processo, é até injusto com eles ativar uma mudança tão brusca, em tão pouco tempo, sem levar em consideração o consentimento e a disposição dos mesmos em passar por esses três fatores básicos para a sua proteção e da população”, ressaltou.

Guardas municipais que receberão capacitação para o uso das armas letais – Foto divulgação

A doutora finalizou alertando os passos necessários para que a situação, em suma gerada pelo prefeito, não se torne prejudicial.

“Então sim, a arma de fogo na mão da guarda municipal pode ser uma boa ideia, mas se não houver preparo físico, psicológico, prático, e principalmente consentimento e disposição dos profissionais, acabará colocando em risco como toda a população”, finalizou a profissional.

O treinamento

A capacitação para o uso das armas está sendo feita pela Escola de Serviço Público Municipal e Inclusão Socioeducacional (Espi), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Administração, Planejamento e Gestão (Semad), conforme nota divulgada pela prefeitura.

A nota ainda afirma que os instrutores foram contratados, mas seguindo as normativas da Polícia Federal.

Abertura do treinamento – Foto divulgação

David Almeida garantiu, em seu discurso, a efetividade na Guarda Municipal na segurança da população e realizou promessas que garantem a confiança daqueles que são mais afetados com o problema.

O prefeito prometeu viaturas da Guarda em terminais, feiras e em áreas de grande concentração de pessoas. “Teremos viaturas em terminais, em grandes locais de concentração de pessoas, e principalmente nos pontos estudados pela nossa equipe de Inteligência”, destacou David Almeida.

Ano passado, durante ataques orquestrados de facções em Manaus, David disse que daria autorização para atirar, mesmo que isso não seja nem o dever estatutário da Guarda e nem a competência legal do prefeito. “Eu tinha três guardas municipais lá na Bola das Letras quando chegaram três marginais, bandidos, vagabundos. Eles (os guardas) ficaram assistindo aos caras tacarem fogo. Se eles tivessem armas, eles teriam autorização de derrubar aqueles três vagabundos para servirem de exemplos para todos os outros”, disse o prefeito na época.

Resta ao prefeito, agora, dizer se a “ordem” será a mesma e se, em caso de erro, ferimento e morte de um inocente, o prefeito assumirá a responsabilidade pelo comando.