Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Marcelo Amil fala com exclusividade ao AM1 sobre sua pré-candidatura a governo

Porque eu sou amazonense, nascido, criado e quero ser enterrado aqui. Então, como é aqui que vou passar o resto da minha vida, quero que seja um lugar melhor, disse Amil

Marcelo Amil fala com exclusividade ao AM1 sobre sua pré-candidatura a governo

Fotos: ErickBitencourt| AM1

MANAUS – Elson Marcelo Lima de Souza, conhecido como Marcelo Amil, de 39 anos, é advogado e pré-candidato ao Governo do Amazonas pelo PSOL. Foi candidato a prefeito em 2020 pelo PCdoB, já concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados e atualmente é defensor geral do Tribunal de Justiça Desportivo do Amazonas (TJD-AM).

Em entrevista exclusiva ao Portal AM1, Marcelo defendeu sua pré-candidatura como a única que está ao lado da defesa da democracia e alfinetou os outros pré-candidatos ao cargo majoritário, ressaltando que “está todo mundo do meio para o Bolsonaro, do meio para a direita”. O pré-candidato falou ainda da polêmica ‘pernada’ que o destituiu da presidência do PMN no Amazonas em 2020 e um pouco sobre o cenário político nacional.

AM1: Vamos falar um pouco da sua candidatura ao Governo do Estado. Como foi o processo até chegar a essa decisão?

Marcelo Amil: Eu tenho uma história de militância desde os 17 anos. Eu comecei a fazer militância em movimento estudantil e eu nunca andei só, eu sempre fiz parte de grupos, sou um homem de partido, sou um homem de coletivo.

Então, já havia uma decisão de ocupar um espaço majoritário, a gente entende que a esquerda se apequenou com o passar dos tempos e deixou de disputar efetivamente eleições majoritárias, a última vez que nós tivemos uma candidatura de esquerda forte disputando a Prefeitura de Manaus foi em 2012, com a ex-senadora Vanessa Grazziotin, então a gente entende que esse espaço precisa ser ocupado pela esquerda e nós começamos a disputar esses espaços e a candidatura ao Governo foi uma conseqüência disso.

Na época tivemos um resultado qualitativo muito bom com a eleição para Prefeitura e por conta desse resultado qualitativo, a gente entendeu que havia o espaço e estamos construindo a candidatura ao Governo.

AM1: Em 2018, o senhor foi candidato a deputado federal pelo PMN, e em 2020 a prefeito pelo PCdoB. Na sua avaliação como foram os resultados dessas campanhas para a sua história na política?

Marcelo Amil: A gente tem duas perspectivas. Quando terminou a eleição majoritária para prefeito, no primeiro momento eu fiquei desapontado, porque a gente esperava uma votação muito maior, só que depois eu fiz um estudo sobre o partido, peguei as dez maiores cidades do Brasil, onde o PCdoB lançou candidatura e eu fui o melhor candidato do PCdoB no Brasil. Em São Paulo, o Orlando Silva que é deputado federal de mandato teve 0,26% de votação, em Belo Horizonte, o Wadson Ribeiro, deputado federal teve 0,24% de votação.

Em São Paulo, o Orlando recebeu R$ 900 mil de fundo para fazer campanha, o Wadson recebeu R$ 400 mil, eu recebi R$10 mil e tive 0,29%, então, o meu voto foi muito mais eficiente, o mais eficiente do partido e o resultado quantitativo também foi o melhor do partido.

Então, a conclusão que nós chegamos é que o nome PCdoB foi um peso muito grande de carregar, o que é uma injustiça, porque o PCdoB é um partido de 100 anos de história, é um partido que historicamente lutou ao lado dos mais necessitados, só que infelizmente colou-se uma pecha nele: “Ah, comunismo é um mal, comunismo é isso e aquilo”, então, por essa pecha foi um peso muito grande de carregar e a gente atribui a isso o resultado tímido, mas qualitativamente, a própria imprensa foi eloqüente nisso, em falar que a grande surpresa da eleição foi o Marcelo Amil pela desenvoltura nos debates.

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No único debate que teve com a participação de uma agência de checagens, todos os dados que eu apontei foram verificados e confirmados, com uma variação de 0,1 ou 0,2 para mais ou menos, mas eles todos batiam com muita consistência. Então, a gente teve uma grande vitória qualitativa, a vitória quantitativa a gente entende que agora é o momento da esquerda se afirmar e buscar esse espaço quantitativo.

AM1: Em 2020 o PMN tentou construir uma frente ampla da esquerda, mas ocorreram algumas divergências entre os partidos. Fale um pouco sobre isso

Marcelo Amil: Eu à frente do PMN tentei construir essa frente. Houve cinco reuniões entre todos os partidos de esquerda do Amazonas, PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e PMN e dessas cinco reuniões, três foram no meu escritório. Então, a gente forçou muito para que houvesse essa união, depois veio a pandemia, o distanciamento teve que acontecer, e em seguida a gente foi surpreendido com o PSB declarando apoio ao Ricardo Nicolau, o PDT por outro caminho também e se fragmentou, nós lamentamos, mas nós tentamos construir isso por muito tempo.

O PT participava das reuniões, e falo isso com muita tristeza, porque tenho vários amigos lá, o partido chegou a ir para algumas dessas reuniões, uma delas foi marcada na sede do PT e não havia ninguém do PT presente, ele (o partido) foi bem desrespeitoso com as esquerdas nesse processo de construção.

Depois nós tivemos o Zé Ricardo na candidatura, que era legítima, o PT é o maior partido de esquerda das Américas, o PT tem deputado federal, deputado estadual então é legítimo que eles apresentem candidaturas e até que reivindiquem um capitanear desse processo.

Só que isso tem que ser construído, as pessoas entendem que o bom senso em algum momento nos leva a convergir para um determinado ponto, só que isso precisa ser construído e não como uma imposição.

AM1: Em março de 2020, o senhor ainda era presidente estadual do PMN e foi veiculado em vários lugares que o senhor havia levado uma ‘pernada’ do empresário e hoje, pré-candidato a deputado federal, Orsine Júnior. Pode nos falar como foi isso?

Marcelo Amil: Eu não sei se o Orsine me deu uma pernada, porque para dar pernada tem que estar acima e eu não vejo que o Orsine estava acima. Ele me ligou sim, conversamos e ele me fez uma proposta de composição política que eu não tinha interesse nenhum, porque ele sempre foi ligado ao grupo do Amazonino (Mendes) e eu combati o grupo do Amazonino a vida inteira, então não tinha o menor sentido eu mudar, dar um giro de 180 graus na minha vida.

O Orsine foi um instrumento da pernada, não acho que ele tenha me dado essa pernada, porque eu não acho que ele tenha envergadura política para me dar pernada, tanto que eu já existia, eu era presidente de um partido, uma vez que o maior momento de projeção política da história do PMN no Amazonas, e falo isso sem falsa modéstia, foi durante a minha administração, foi quando o PMN passou a existir.

Então, não acho que foi ele quem deu a pernada e sim alguém superior a ele, alguém a que ele se reportava, alguém de quem ele cumpria ordens articulou isso para tentar primeiro me cooptar, quando viram que não poderiam me cooptar foram acima e fizeram o que fizeram. O fato é que dormi sábado presidente do partido e no domingo de manhã, em grupos de whatsapp circulava que eu havia sido destituído.

AM1: Em entrevista à nossa reportagem ele falou que pegou o partido por uma questão de sobrevivência e que com a gestão dele o partido colheu bons frutos, citando a conquista de três cadeiras na Câmara Municipal de Manaus. O PMN estava morrendo?

Marcelo Amil: Talvez sobrevivência política dele, porque quando eu assumi o PMN, ele foi alçado à condição de disputar a Prefeitura de Manaus, mas durante a gestão dele o PMN indicou o vice de um candidato alinhado ao bolsonarismo.

Então, eu entendo, ele dizer que foi sobrevivência, acho que quem está desprestigiado politicamente tem que sobreviver mesmo, mas acho que ele tem a liberdade de falar o que ele quiser. Foi uma sobrevivência dele próprio, porque se o partido não existisse durante a minha gestão porque eles teriam olhado para o partido? Ninguém chuta cachorro morto.

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AM1: Antes de o senhor assumir a sigla, ela era comandada pelo ex-vereador Chico Preto. Como o senhor encontrou o PMN na época? Comente:

Marcelo Amil: Ele (Chico Preto) ficou durante alguns anos na presidência do partido, depois foi destituído. O PMN era um partido cartorário, tinha pouca estrutura de militância. Eu nunca pedi para ser presidente do PMN, eu fui chamado à São Paulo para uma convenção do partido, da qual eu sequer era convencionado e lá o presidente informou na plenária: “Ah, o Marcelo vai ser presidente do Amazonas” e sem nem me avisar, posteriormente sentei com ele e perguntei: “qual o projeto, presidente?” e ele me deu uma informação que eu já sabia porque eu tinha estudado o estatuto do partido, mas ele falou: “o PMN é um partido socialista e eu gostaria de trazer o partido de volta para a esquerda” e eu concordei.

Então, fizemos campanha de filiação, montamos o Diretório Estadual de Manaus, começamos a organizar diretórios no interior e sempre trazendo o partido para esse campo político onde o estatuto dele determina, que é o campo da esquerda.

Nunca na história aconteceu de todos os partidos de esquerda do Amazonas terem se reunidos por cinco vezes consecutivas na mesma mesa e nós conseguimos fazer isso. Nós demos vida ao partido, mas eu não desejo mal nenhum, lamento que o PMN tenha saído do campo pro onde seu estatuto determina que ele esteja, mas também não tenho mágoa de ninguém, gente feliz não enche o saco dos outros.

AM1: Agora vamos falar um pouco dos seus objetivos, suas propostas. Porque o senhor quer ser governador?

Marcelo Amil: Porque eu sou amazonense, eu sou daqui, sou nascido, criado e quero ser enterrado aqui. Então, como é aqui que vou passar o resto da minha vida, é aqui que eu quero que seja um lugar melhor.

Eu não consigo achar normal você pegar seu carro no Parque Dez para chegar até o Centro, na Eduardo Ribeiro e você passe por cinco, seis semáforos e veja pelo menos quarenta pessoas no estado de mendicância, isso não é normal, Manaus nunca viveu um estado de miséria tão acentuado quanto a gente está vivendo agora e isso se reflete no interior também, que historicamente tem sido refém de contracheques, tem a economia baseada nos repasses estaduais, nos repasses federais e isso mantém minimamente uma economia no local, o interior também está numa miséria como nunca esteve antes. A forma de mudar isso é a política, é a gestão pública.

Sobre as propostas, o PSOL é um partido ideológico, só teremos as propostas em si na campanha, nós temos diretrizes ideológicas. O PSOL é favor do respeito aos povos originários e o Amazonas tinha que ser exemplo nisso, nós temos a cidade com a maior população indígena do Brasil, que é São Gabriel da Cachoeira, uma cidade onde oficialmente se falam dialetos indígenas, a nossa construção cultural inteira está baseada no respeito aos povos indígenas, essa é uma diretriz que o PSOL preza muito. Uma obsessão que nós temos agora é a busca pela geração de empregos, a média de desemprego no Brasil hoje, está em 11,4%, média de janeiro; a do Amazonas estava em 13,8%, então nós estamos com uma média de desemprego acima da média brasileira e esse número nacional é ainda maior, porque o Governo Federal mudou a forma de cálculo e a gente caiu de uma média de desemprego de 21,22% para esses 11,4%, ou seja, eles mudaram os números para tentar camuflar a realidade, mas o desemprego é muito maior do que isso.

A gente tem um quadro hoje, de insegurança alimentar no Brasil em que 25% das pessoas não têm certeza sobre a sua próxima refeição, um quadro de insegurança alimentar grave. Isso não é normal, então todas as diretrizes do PSOL são baseadas em pensar primeiro no ser humano, o estado tem que funcionar para garantir que todo o amazonense vá dormir de barriga cheia, que todo o amazonense quando acordar tenha condição de tomar um bom café da manhã para trabalhar, para produzir pelo estado e assim a gente conseguir uma sociedade menos sofrida, menos desigual e com oportunidades para todo mundo.

AM1: Qual a sua opinião sobre o atual cenário político?

Marcelo Amil: O que a gente está vendo no cenário político é uma perpetuação do ‘mais do mesmo’. Em 2018, o Amazonas votou no governador Wilson Lima porque queria algo diferente, infelizmente não foi isso que nós vimos, nós vimos um governador que trouxe para ser secretário de estado o irmão de Roberto Jefferson, então a esperança que o amazonense tinha de uma mudança, de algo diferente, ela não se concretizou. Eu entendo que essa esperança do amazonense não se exauriu, o amazonense continua querendo algo melhor, continua querendo algo que traga motivos para sonhar, que traga perspectivas diferentes das que estão aí, essa é a posição do PSOL.

AM1: Fale um pouco sobre os pré-candidatos ao cargo majoritário no Amazonas. Qual a sua opinião sobre eles?

Marcelo Amil: A gente enxerga que esta havendo na própria política uma diferenciação natural. Porque quem são os pré-candidatos postos? Wilson Lima, Eduardo Braga, Amazonino Mendes, Ricardo Nicolau, Carol Braz, se você prestar atenção, de todos esses está todo mundo do meio para o Bolsonaro, do meio para a direita. Pode-se até dizer: “mas a Carol Braz é de centro, ela está com o PDT”, só que ela foi secretária de estado na gestão do Wilson, a Carol Braz tentou ser candidata a prefeita pelo partido do qual o governador pertencia na época, então por não ter conseguido espaço ela migrou e eu não falo isso com demérito, não tenho nada contra ela, não a conheço pessoalmente, mas é um fato: ela foi secretária.

Então, nesse momento em que a gente tem essa lacuna é mais importante ainda que se afirmem os campos: quem está do lado do campo democrático do Brasil, que é necessariamente àqueles que combatem o autoritarismo de Bolsonaro e quem está do outro lado. Hoje a única candidatura posta do lado da defesa da democracia efetivamente é a candidatura do PSOL. É preciso que se fique claro. Criou-se um discurso de que “O Brasil está polarizado”, o Brasil não está polarizado porque Lula e Bolsonaro não são os dois extremos da mesma moeda, eles são extremos no seguinte ponto: o Lula defende radicalmente a democracia e o Bolsonaro faz de tudo, todo dia para defender o autoritarismo, então são esses extremos.

AM1: Qual sua opinião sobre a confirmação de Geraldo Alckmin como vice do ex-presidente Lula?

Marcelo Amil: Eu não concordo 100% com todas as diretrizes do Lula, eu nunca me imaginei na vida votando em Geraldo Alckmin, por exemplo. No entanto, eu preciso reconhecer que no cenário que nós temos, hoje, essas duas candidaturas são as que estão defendendo um quadro democrático.

Então, eu prefiro que a gente tenha um Brasil governado por um viés democrático onde eu vá poder discutir institucionalmente as nossas diferenças, onde eu vou poder usar as ferramentas da democracia para tentar mudar aquilo que não concordo, do que o outro lado, uma vez que o outro lado, por exemplo, pelo Bolsonaro, hoje teríamos tido um golpe de estado, tinha militar na rua, tinha tanques de guerra fechando o Congresso. E isso a gente espera não precisar combater, na verdade, a gente está combatendo diariamente isso. Porque ele não conseguiu, mas ele tenta e com certeza a hora de dar a resposta principal para isso vai ser na eleição geral, em outubro.

Obrigada pelo espaço, um dos preceitos que a gente tem no PSOL também é a imprensa livre, o trabalho de vocês é fundamental, ele deve ser sempre respeitado e protegido, porque não existe nação que se queira democrática sem uma imprensa livre. Quando há excessos vocês têm as ferramentas de vocês para conter os maus profissionais, mas esses excessos eles têm que ser ditos pelos profissionais do jornalismo, não por alguém de fora se utilizando de uma ferramenta até mesmo truculenta para isso. E quero afirmar aos amazonenses: Não percam a esperança.