Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Marcelo Ramos lutará sozinho num ‘campo de batalha’ tomado pela direita?

O AM1 ouviu especialistas para entender se há possibilidade de Lula e Bolsonaro influenciarem a disputa em Manaus e seus candidatos terem sucesso nas eleições em outubro.

Marcelo Ramos lutará sozinho num ‘campo de batalha’ tomado pela direita?

(Foto: Valdo Leão / Semcom/Reprodução/Redes sociais/Divulgação/dejacyfotos/)

Manaus (AM) – A disputa eleitoral está em pleno vapor, apesar do período de campanha ainda não ter iniciado. Os pré-candidatos estão colocando o time em campo, subindo o tom nas críticas aos adversários nas redes sociais e fazendo o conhecido ‘corpo a corpo’ nos bairros da capital para conquistar a simpatia e confiança do eleitor manauara.

No cenário atual, pelo menos seis nomes já foram confirmados como pré-candidatos e outros dois ainda aguardam a definição de suas siglas partidárias.

Com o quadro quase definido é possível concluir, até o momento, que a maioria desses possíveis nomes pertence à direita, extrema-direita como alguns preferem intitular, centro-direita ou simpatizantes do movimento liderado hoje pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto apenas três nomes representam a esquerda.

Os nomes definidos até o momento são: Amom Mandel (Cidadania); Capitão Alberto Neto (PL); Maria do Carmo Seffair (Novo); Roberto Cidade (União Brasil); Wilker Barreto (Mobiliza); David Almeida (Avante), que ainda não oficializou, mas deve ser pré-candidato à reeleição e Marcelo Ramos (PT), este último é o nome apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda há um impasse em relação a outro nome dentro da legenda, o da secretária nacional de mulheres do PT, Anne Moura.

Existe ainda a pré-candidatura de Marcelo Amil e de Natália Demes pelo PSOL, que representam também a esquerda, mas as candidaturas ainda não foram definidas. O partido pode lançar seus próprios candidatos, mas também apoiar o nome de Ramos.

Outro nome que havia se colocado como pré-candidato e ainda não retirou a pré-candidatura é Eron Bezerra (PCdoB)

Somente Marcelo, Anne, Eron e os nomes do PSOL não têm alinhamento algum com a direita.

O que significa dizer, que durante a campanha será um embate de “todos contra um”, já que a tendência é ficar apenas um nome pela federação ‘Brasil da Esperança’, formada por PT, PCdoB e PV ou duas candidaturas, se PSOL não apoiar a federação contra os demais candidatos, todos alinhados de alguma forma às pautas da direita.

Apoio nacional influencia?

Nesse contexto, é preciso analisar se o apoio do atual presidente pode influenciar diretamente no resultado das eleições deste ano.

As últimas eleições realizadas em 2022 mostraram que a capital amazonense é bolsonarista, mas recentes pesquisas mostram uma redução nesse aspecto, o que pode beneficiar o candidato de Lula.

Para especialistas ouvidos pelo Portal AM1, uma possível influência ou transferência de votos em pleitos municipais é algo que historicamente não existe, uma vez que os eleitores fazem uma espécie de separação entre a questão regional da nacional.

Além disso, existe que as movimentações dos principais agentes político-partidários de Manaus, bem como do estado, continuam concentradas em torno de lideranças comprometidas com o conservadorismo.

Tanto Lula, quanto Bolsonaro já demonstraram interesse em vir a Manaus apoiar os candidatos dos seus partidos.

Nas duas últimas pesquisas eleitorais divulgadas, Paraná e Pontual, o ex-deputado federal Marcelo Ramos aparece com 6% das intenções de votos. Mesmo tendo entrado na disputa somente há duas semanas, o político alcança uma boa posição, principalmente se comparado com nomes que já estavam confirmados como pré-candidatos há mais tempo.

Paroquialismo prevalece

(Foto: Arquivo Pessoal)

O cientista político e professor Breno Rodrigo Leite, disse à nossa reportagem que não há uma regra universalmente aceita a respeito do fenômeno de que a maior figura nacional de um movimento político influencie numa eleição municipal, apesar de que os efeitos da política nacional sejam, por vezes, sentidos na política municipal, sobretudo nas capitais e nas regiões metropolitanas.

Na opinião do especialista, a política municipal tem certa autonomia em relação ao debate nacional, uma vez que é na esfera das municipalidades que as agendas políticas tornam-se objetivas.

“É lá que o eleitor demanda por mais escolas, postos de saúde, ruas asfaltadas, etc. Na esfera municipal, a política é pessoal, familiar e bairrista. Muitas vezes, os candidatos das eleições majoritárias não possuem tempo nem recursos financeiros para direcionar a sua propaganda política para assuntos fora de seu reduto eleitoral. As questões abstratas ou excessivamente ideológicas da política nacional passam, em muitos casos, ao largo das preocupações dos eleitores. Por isso, não é difícil entender que nas eleições municipais o paroquialismo (esfera local) prevalece”, explicou.

Sobre a candidatura de Marcelo Ramos, o cientista político afirmou que um embate de ‘todos contra um’, dependerá dos resultados de pesquisas e da performance do candidato na campanha e nos debates.

Breno também disse que é muito provável que as outras candidaturas, mais centristas, direcionem as suas forças para as preocupações locais (as políticas públicas do município), a fim de esvaziar a rivalidade nacional entre Lula e Bolsonaro.

Para o professor, a indicação de Marcelo Ramos aposta em três focos estratégicos, que são: garantir um nome eleitoralmente consistente no campo de esquerda. Em segundo lugar, iniciar a capitalização eleitoral para a próxima eleição, a de 2026, a qual, ao que tudo indica, realimentará a competição estratégica entre as duas forças nacionais: o lulismo e o bolsonarismo. Por fim, garantir através do processo eleitoral amplo a formação de uma bancada de vereadores da coligação dos partidos de esquerda.

“Lula é um exímio estrategista. Sabe que o PT local é balcanizado (dividido), internamente fragmentado e desprovido de uma liderança eleitoralmente competitiva. Diante de tal adversidade, optou por um nome leal, combativo e aprovado pelo eleitorado de esquerda. Parece-me, até o momento, uma aposta acertada”, frisou Breno.

Existe a possibilidade 

(Foto: Arquivo Pessoal)

Já na visão do professor, pesquisador e analista político Afrânio Soares, existe sim a possibilidade de influência do ex e do atual mandatário no voto do eleitor manauara, mas não 100% de transferência de votos.

“O ex-presidente teve uma votação excelente, ganhou com mais de 50% no primeiro turno e com mais de 65% no segundo turno, apesar de ter perdido no interior. Apesar dele ter tido toda essa votação, ele não consegue transferir todos os votos, mas é possível que tenha uma influência sim sobre os eleitores e consiga alavancar o Capitão Alberto Neto que é o candidato do PL”, disse.

Por outro lado, o pesquisador comentou sobre a pré-candidatura de Marcelo Ramos, enfatizando que a federação precisa escolher quem realmente será o candidato.

“Essa escolha é importante por causa do peso do Lula nacionalmente. Sabemos que ainda existe a pré-candidatura da Anne Moura, do Eron Bezerra. O Lula apesar de ter tido em Manaus mais de 30% dos votos no segundo turno, ele provavelmente não vai transferir essa porcentagem, evidentemente e acho que o poder de transferência dele é menor, porque muitos dos votos que ele recebeu eram de anti-bolsonaristas e não de lulistas, então isso influência”, afirmou.

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