Manaus, 8 de maio de 2024
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Manaus, 8 de maio de 2024

Cidades

Os desafios do turismo de barco causados pela seca no Amazonas

O Portal AM1 conversou com agentes de turismo regional que revelaram buscar outras alternativas para superar o período da seca no AM.

Os desafios do turismo de barco causados pela seca no Amazonas

Turismo de barco em Manaus (Fotos:Acervo pessoal)

Manaus (AM) – As condições climáticas, como temperaturas elevadas e baixa umidade, podem ser mais extremas durante a estiagem  no Amazonas, tornando alguns locais turísticos inacessíveis. É o caso do turismo de barco que precisa do rio Negro para se manter.

A estiagem é um fenômeno que acontece anualmente e apresenta uma série de desafios que afetam tanto o meio ambiente quanto as comunidades locais. Por isso, o Portal AM1 conversou com empreendedores que revelaram buscar outras alternativas para superar o período da seca.

O empresário Olímpio Carneiro, dono de uma agência de turismo de barco, relatou que apesar de a estiagem acontecer anualmente, é importante que os operadores de turismo ajustem seus roteiros ou escolham destinos alternativos para manter o negócio em funcionamento.

Olímpio destaca que, mesmo com a estiagem e seus desafios, a procura pelo safári amazônico, carro-chefe de seu negócio, continua a todo vapor.

“É normal [a seca], mas a gente continua funcionando normalmente. Hoje, por exemplo, saíram quatro lanchas daqui para o safári. Hoje, a mídia está mostrando só o lado ruim, que o Amazonas está pegando fogo e tudo mais, mas não é só isso. O rio continua aqui, claro que neste ano a seca está maior, porém, nosso roteiro continua normalizado, visitando as aldeias, o banho com botos e outros pontos que contêm no pacote”.

Na agência de Carneiro, embora as lanchas estejam saindo todos os dias para os passeios de barco, o empresário revela que o seu custo aumentou em 20% comparado ao que gastava antes da seca — maior custo nesse período vem do diesel — mas não alterou no valor que o cliente paga.

No catálogo da agência de Carneiro, há várias opções de safári que variam tanto em paisagem quanto em valores. A agência oferece desde visitação a museus até experiências na selva para quem busca desafios intensos na Amazônia.

Interrupções e alternativas

Comunidade flutuante Catalão (Foto: Acervo pessoal)

Atividades como a visitação à comunidade flutuante Catalão [casas flutuantes] tiveram de ser interrompidas porque, neste ano, o nível de descida das águas foi maior que o ano passado, fazendo com que o rio Negro secasse por completo naquela região. Assim como outras comunidades similares, o Catalão enfrenta desafios únicos relacionados à estiagem e à cheia dos rios na região.

Pesca do pirarucu (Foto: Acervo pessoal)

Essas comunidades têm uma relação especial com os rios e a natureza e, muitas vezes, dependem da pesca, agricultura e turismo para sua subsistência. Elas também contribuem para a rica diversidade cultural da região. No passeio turístico, por exemplo, existe a pesca de pirarucu e venda de artesanatos oferecidos aos visitantes, porém, devido ao tamanho da dificuldade da estiagem, também foram interrompidos.

Quem também relata os seus desafios com a seca é o operador de turismo Will Torres. Assim como Olímpio, Will vive do turismo regional e ressalta a importância do planejamento antecipado para sobreviver à estiagem amazônica. Nisso, está incluso verificar as condições dos rios, as previsões meteorológicas e as restrições de navegação, bem como garantir que haja suprimentos adequados para a viagem.

Torres afirma que é fundamental adotar o ecoturismo responsável para minimizar o impacto ambiental. Com esses objetivos, o turismo de barco pode permanecer em funcionamento.

“Durante a estiagem, é fundamental adotar práticas de ecoturismo responsável. Isso envolve a observação de animais silvestres à distância, a não perturbação dos ecossistemas frágeis e o descarte adequado de resíduos. No banho com botos, não se deve usar cosméticos, pois eles podem fazer mal aos animais. Apesar de os animais serem domesticados, eles vivem livres na natureza e é importante manter isso”.

Conforme o operador, o turismo de barco pode desempenhar um papel importante no apoio às comunidades locais, especialmente aquelas que dependem do turismo como fonte de renda, nesse caso, os ribeirinhos. Durante a estiagem, é feito todo um planejamento para mudar os locais de visitação e isso inclui os indígenas que vivem desse ramo.

“A aldeia indígena que nós visitamos é a aldeia Tuyuca e, com a seca, fica inviável de chegarmos até lá. Então, os indígenas têm um flutuante que usam nesse período para se apresentar aos turistas dentro desse flutuante. Para que não haja acumulação de pessoas e para que o turista possa aproveitar a viagem, é feito todo um controle com as outras embarcações. Enquanto um está na aldeia o outro está no encontro das águas, o outro está na interação com os botos e por aí vai”.

A mudança de local de visitação varia conforme cada período do ano. “O flutuante onde tem a interação com os botos é levado no início de julho para o Furo Grande e retorna ao local de origem em fevereiro. Com as tribos indígenas, a mesma coisa. O encontro das águas não é só naquele meio da  Ponta das Lajes. Existe o chamado início do Encontro das Águas, que fica localizado entre o rio Negro e a entrada do parque ecológico Janauari, no qual a gente leva o turista nesse período”.

Clima

Torres chama atenção para um detalhe importante que, muitas vezes, é ignorado: o clima amazônico. Segundo o operador, o turista estrangeiro está acostumado com um clima ameno de seu país, e quando chega a Manaus, depara-se com o clima quente e abafado.

Ele conta que já houve casos de turistas passarem mal nas viagens por causa do calor e, nesse período de seca, se agrava mais ainda. Por isso, a equipe resolveu treinar os funcionários para atendimento de primeiros socorros.

“O turista da Holanda, Espanha, Estados Unidos, estão acostumados com clima diferente e quando chegam aqui nessa seca é totalmente diferente – o que torna o passeio mais cansativo. Por causa disso, nós diminuímos o horário, que antes era até 16h, encerramos às 14h. Na embarcação, tem o kit de primeiros socorros e, além disso, acionamos os catraieiros para atendimento a essas pessoas”, relata.

Fumaça

As fumaças de queimadas no estado do Amazonas têm incomodado a população e prejudicado, principalmente, a respiração. A fumaça causa inúmeros problemas, inclusive, uma pessoa morreu na semana passada por complicações.

Nesse final de semana, a estiagem deu uma trégua e choveu na capital do Estado “aliviando”, temporariamente, o clima de Manaus, que atingiu a pior qualidade do ar do mundo na mesma semana.

Para o turismo de barco, essa problemática tem sido um divisor de águas, porque, além de mostrar a beleza dos rios, das comunidades e da cultura local, o turista pode viver de perto o que o desmatamento faz com a floresta. Will ressalta que é necessário manter o controle de queimadas e cuidar mais da floresta que é o pulmão do mundo.

É importante lembrar, ainda, que a estiagem na região amazônica é uma parte natural do ciclo hidrológico da região, e o turismo de barco pode ser uma maneira incrível de explorar essa paisagem única. No entanto, a sustentabilidade e o respeito ao ambiente e às comunidades locais devem ser prioridades ao planejar e realizar viagens de turismo de barco na estiagem.

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