Manaus, 3 de maio de 2024
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Cenário

Prefeito de Barreirinha contrata fornecedor de madeiras que diz não vender o produto

A informação foi dada pelo próprio gerente do estabelecimento, Kelison Carneiro, nessa semana, enquanto o Portal Amazonas1 esteve na cidade

Prefeito de Barreirinha contrata fornecedor de madeiras que diz não vender o produto

Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Barreirinha/AM – A empresa B D MARCIEL LOPES COMÉRCIO, contratada pelo prefeito de Barreirinha, Glênio Seixas (MDB), por R$ 172 mil para o fornecimento de madeiras a fim de construir pontes e passarelas na cidade, não realiza a comercialização do produto. A informação foi dada pelo próprio gerente do estabelecimento, Kelison Carneiro, nessa semana, enquanto o Portal Amazonas1 esteve na cidade para verificar o caos da cheia dos rios Andirá e Paraná do Ramos.

Também atendendo pelo nome de Mercadinho Ferreira, conforme consta no cadastro da empresa no site da Receita Federal, o estabelecimento fica localizado no Centro de Barreirinha. Pelo que foi possível perceber, a empresa possui duas lojas funcionando no mesmo terreno, sendo uma voltada para produtos de supermercado e outra para comercialização de ferragens e materiais de construção.

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Mercadinho Ferreira e Ferreira Ferragens. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Porém, não é feito fornecimento de madeiras, conforme revelado pelo gerente da loja. No momento em que o Portal Amazonas1 foi até a empresa, estavam sendo construídas pontes de madeira em frente ao local e no resto da Rua Tavares, área central do município, onde a enchente já toma quase toda a extensão da rua.

Questionado sobre as madeiras usadas naquele momento, o funcionário afirmou que parte foi adquirida pela prefeitura e outra parte pelo dono da loja ao lado, dando a entender que ocorreu uma união de esforços para a construção das pontes nessa rua.

“A madeira que foi construída a partir do comércio do Jander, né, foi madeira adquirida através da prefeitura né, com os madeireiros. Do comércio do Jander, até onde está dando acesso ali na rua, foi ele que conseguiu a madeira, né! Ele que comprou a madeira”, disse.

Kelison Carneiro, gerente do Mercadinho Ferreira, em Barreirinha. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

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Em nenhum momento foi dito que havia um contrato do Mercadinho Ferreira com a Prefeitura de Barreirinha e, inclusive, o gerente negou a operação.

“Nós não fornecemos madeira para a prefeitura. Que eu saiba, nós não temos contrato com a prefeitura municipal. Aqui, é o Comercial Ferreira. Nós não temos nenhum contrato com a prefeitura para venda de madeira, de forma alguma”, respondeu ao Portal Amazonas1.

Após algumas dificuldades, a reportagem conseguiu falar com exclusividade com o prefeito Glênio Seixas. Na ocasião, em contradição ao que o gerente da loja revelou, o prefeito confirmou a contratação da empresa e disse, ainda, que o município vem recebendo carregamento de madeiras desde o início da semana.

“Essas pontes estão sendo feitas. Essa empresa foi contratada para fornecer os materiais. Portanto, ontem, nós recebemos um carregamento, anteontem a gente recebeu outro carregamento, a semana inteira estamos recebendo carregamento de madeira”, disse.

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Carregamento de madeiras em Barreirinha. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Questionado sobre o Mercadinho Ferreira, contratado por ele, não realizar o serviço pelo qual está responsável e recebendo R$ 172 mil, Glênio Seixas pareceu ter sido pego de surpresa pela pergunta e se resumiu a dizer que não sabia dessa informação.

“Essa informação eu não detenho. O que foi feito é que a prefeitura fez essa contratação junto com essa empresa e essa empresa está fornecendo as madeiras, tudo dentro da orientação da Defesa Civil”, disse.

Prefeito Glênio Seixas (MDB), em entrevista ao Portal AM1. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

O contrato foi firmado no mês passado e visa ao fornecimento de madeiras para construção de pontes e passarelas na cidade, uma vez que a cheia de 2021 já registra o nível de 9,43 metros, sendo a maior desde 2009, alagando a maioria das ruas em Barreirinha.

Mesmo com esse contrato ainda em vigência, a equipe de reportagem verificou que poucas ruas possuem pontes construídas para a população transitar. Sobre isso, durante a entrevista, o prefeito afirmou que não possui recursos suficientes para a construção de mais passarelas ou fazer doações de madeiras para as pessoas que não têm condições financeiras e estão tendo que usar dos recursos próprios para fazer marombas nas suas casas.

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Morador de Barreirinha construindo a própria ponte. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

O Hospital Regional de Barreirinha, escolas municipais, quadras, praças, Unidades Básicas de Saúde (UBS), Centros Culturais, a própria sede da Prefeitura de Barreirinha, o Mercado Municipal, a Usina de Energia Elétrica, várias casas e até mesmo a residência do prefeito Glênio Seixas já estão cercadas por água ou com risco de alagamento.

Casa do prefeito Glênio Seixas. Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Oposição

Para o vereador de oposição, Van Alexandrino (PSC), que conversou com a reportagem do Portal Amazonas1 em Barreirinha, as alegações do prefeito Glênio Seixas sobre a contratação para fornecimento de madeiras são surreais.

“Se o prefeito alega que é legal e depois alega que não sabe que o mercadinho não vende madeira é realmente surreal […] Se a empresa não trabalha com madeiras, ela ia ter que comprar de terceiros. E esses terceiros, vendo a necessidade, com certeza irão pedir um preço maior do que comprar direto de quem trabalha com madeira, não é necessário, nesse momento, licitação”, disse o parlamentar.

Vereador de oposição, Van Alexandrino (PSC). Foto: Márcio Silva/Portal AM1

De acordo com Alexandrino, o prefeito teve tempo suficiente para se organizar e encontrar outra empresa qualificada para a aquisição.

“Esse contrato foi assinado no dia 16 de abril. As ruas começaram a inundar na última semana de abril. Então, houve tempo desse fornecimento dessa madeira, porque o processo licitatório foi feito, o contrato foi feito, e vocês presenciaram a falta de madeiras. Eu fui totalmente contrário, pedi do prefeito”, afirmou o vereador.

Sem pontes

Van Alexandrino reforçou que a Prefeitura de Barreirinha tem realizado um serviço precário quanto ao auxílio às pessoas afetadas pela cheia na região.

“Em Barreirinha, hoje não está se fazendo nada. O que que pode fazer com a cidade toda alagada? Nós já recebemos de ICMS e FPM pouco mais de R$ 10 milhões este ano. Então, eu avalio que é possível a prefeitura dar esse auxílio. Um dia desse, eu encontrei com duas senhoras aposentadas, que foram encaminhadas à Defesa Civil, à Semas. Elas foram pela ponte, foram pelo sol, foram por dentro d’água, onde não tem ponte, e voltaram de lá com as mãos abanando, sem uma tábua. E as duas choraram me relatando essa situação”, relatou.

Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Foto: Márcio Silva/Portal AM1

Ele disse, ainda, que algumas novas pontes começaram a ser erguidas em algumas ruas da cidade, porém, possivelmente em decorrência da presença da equipe de reportagem do Portal Amazonas1 no município.

“Hoje (sexta-feira), onde eu já andei aqui na cidade, sinceramente, fiquei até surpreso, porque achei que já fizeram algumas pontes agora. Mas eu tenho certeza que é devido à presença de vocês aqui. Muita cobrança e, quando vai para a mídia, sem dúvida nenhuma há um resultado. E eu acredito que a presença de vocês aqui já trouxe esse resultado positivo para a população”, disse.