Manaus, 27 de abril de 2024
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Cidades

Sem romantismo: mulheres precisam manter dupla jornada de trabalho

O Portal AM1 conta a história de duas mulheres que em meio as dificuldades se profissionalizaram ao mesmo tempo, em que cuidavam da família.

Sem romantismo: mulheres precisam manter dupla jornada de trabalho

(Foto: Seminf/Arquivo Pessoal)

Manaus (AM) – As brasileiras gastam, em média, 21,3 horas semanais em trabalhos domésticos e cuidados com pessoas da família, enquanto os homens gastam 11,7 horas, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua 2022. Esta é a realidade de milhares de mulheres de todo o Brasil, mas que, às vezes, passa despercebida ou simplesmente não é valorizada.

A jornalista Islânia Lima contou ao Portal AM1 que acorda 5h30, arruma a filha caçula para levar ao colégio. “Ajudo ela a se arrumar, tomar café, pois tem apenas 10 anos e é preciso ajudar a ter mais agilidade”, disse Islânia, que é divorciada, mora só com as duas filhas, Clarabella, de 10 anos e Luana, de 17.

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Islânia e os filhos (Foto: Arquivo Pessoal)

Islânia conta que também tem um filho de 20 anos. “Por enquanto, mora com a avó, pois trabalha e faz faculdade e onde ele está morando fica mais perto do trabalho para ele, mas o monitoro no telefone. Mãe nunca deixa de ser mãe, mesmo com os filhos já grandes e quase independentes”, disse.

A jornalista, que já passou por várias redações, diz que consegue conciliar as atividades mesmo com uma rotina agitada.

“Tem dias que é bem cansativo, pois busco no colégio no intervalo dos trabalhos, depois, à noite, preciso revisar cadernos com tarefas, ainda tendo que conciliar com vida de dona de casa e estudante”, revela.

Como em muitos lares de Manaus, todas as responsabilidades recaem sobre ela, mas Islânia também tem o apoio da mãe e do irmão mais velho. A jornalista não esconde o orgulho da mãe – a qual diz saber que os filhos também tem esse mesmo sentimento por terem uma mãe cuidadosa e protetora.

Mas até chegar a conquistar uma profissão com a formação em Jornalismo, Islânia chegou a vender trufas para ajudar nas despesas de casa e pagar a faculdade. Esse foi o período mais desgastante física e emocionalmente, mas com o apoio da mãe e do ex-marido, ela conquistou o primeiro objetivo.

“Não foi fácil, tinha dias que saía de casa e deixava meus filhos dormindo e, quando chegava, eles já estavam dormindo. Eu continuava conciliando trabalho e faculdade. Chorava com saudade dos meus filhos, mas sabia que, com estudos, eu poderia ter a possibilidade de garantir a eles um futuro melhor; e assim tenho feito, hoje, minha maior prioridade são eles. Agora tenho as noites livres e me dedico a estudos e a elas e ele”, disse.

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(Foto: Arquivo Pessoal)

Na fé em Deus e no foco, a mãe, dona de casa e jornalista busca mais determinação para alcançar os objetivos.

“Saber que seu tempo é valioso e que você precisa usar ele da melhor forma possível com seu trabalho, seus estudos, sua família, mas também não esqueço que sou ser humano e mulher e tiro um tempo para ver meus amigos e passear um pouco com eles e a família”.

Hoje, a maior meta, além de trabalho, é seguir estudando, segundo Islânia “é encaminhar os filhos na vida, dando a eles muito amor, aprendizados, cuidados, atenção e educação de qualidade. Sou feliz por ser mulher, mãe, dona de casa, profissional em comunicação, estudante e uma guerreira, que consegue fazer um pouco de tudo e feliz com a vida que tenho.”

Exemplo em casa

Para a maioria das mulheres, as atividades diárias começam de madrugada, quando o Sol ainda não raiou, como a engenheira Márcia Pantoja, que acorda por volta das 5 horas da madrugada para finalizar o almoço pré-pronto deixado da noite anterior.

Segundo Márcia, ela se organiza e os serviços domésticos são compartilhados em família, a mãe de 66 anos, que Márcia faz questão de dizer que ela também trabalha fora, o filho Marcos, 24 e Maria de 21. A engenheira também revela que não foi fácil até chegar até aqui.

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(Foto: Seminf)

“Difícil foi quando eles eram menores, que tinha que conciliar a educação deles, trabalho, serviços domésticos e estudo. Ser mãe é uma benção; todos os sacrifícios não foram em vão, tenho filhos maravilhosos, trabalhadores, estudiosos, companheiros. Não me sinto só nessa jornada de mãe solteira, tenho minha família que são meus irmãos — um casal, minha mãe e meu cunhado, que sempre me ajudaram na criação deles, somos muito unidos, graças a Deus”, disse.

A organização também faz parte do cotidiano de Márcia no trabalho. Ela conta que passa todos os serviços que serão executados, no dia anterior, para o chefe de núcleo, que é como um gerente do Distrito e, quando tem mudança, bem cedo, repassa a nova programação.

Como em tantas histórias de dedicação das mulheres, para a engenheira foi um trabalho árduo até chegar aqui. “Organizar os horários, aproveitar ao máximo o dia com eles (filhos), e os estudos eram noites adentro, poucas horas de sono…deu tudo certo, sou graduada, pós-graduanda; vou iniciar o mestrado no próximo semestre. Não fiz estágio, já atuava na área, amo minha profissão, me dedicando ao máximo em tudo que faço, na vida profissional e familiar”, afirmou.

Um dos momentos marcantes para Márcia foi quando os filhos tiveram que falar sobre um exemplo de herói e eles escolheram a mãe. “Me emocionei ao ler, o que os meus filhos escreveram, que eu sou a heroína deles, mãe dedicada, que batalha pelos nossos sonhos, que queriam ser igual a mim, não são, hoje, são melhores que eu. Fiz um bom trabalho e me orgulho disso”, concluiu.

Sobrevivência

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(Foto: Arquivo Pessoal)

Questionada se uma mulher com várias atividades consegue ter uma vida saudável, a especialista Mirian Cumino, pós-graduada em Espiritualidade e Estudos da Consciência pela PUC, reponde, sem hipocrisia, que uma mulher com dupla jornada de trabalho está lutando para sobreviver e a condição social é tão crítica, que ela não tem tempo nem para respirar.

O que faz uma pessoa ter dupla jornada são os custos fixos, a responsabilidade com familiares e afins. Mirian explica que se uma mulher está 12h/15h servindo os outros, 6h dormindo, ela vive tão atarefada, que não tem tempo para pensar em soluções para a vida.

 

 

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