Manaus, 19 de maio de 2024
×
Manaus, 19 de maio de 2024

Cidades

Tinta em cascos de embarcações pode intoxicar peixes na Amazônia

O trabalho encontrou danos como fusão das lamelas, proliferação celular, descolamento da parede celular, entre outras patologias.

Tinta em cascos de embarcações pode intoxicar peixes na Amazônia

Peixe Foto: Susana Braz Mota/ Inpa

Substâncias anti-incrustantes, presentes nas tintas aplicadas em cascos de embarcações, podem causar intoxicações em peixes na Amazônia. A conclusão é da pesquisa realizada pelo Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (Leem), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

O grupo liderado pelos biólogos Vera Almeida-Val e Adalberto Luís Val observou que a presença de nanopartículas de cobre é capaz de causar danos no aparelho respiratório de peixes de pequeno porte de grande importância comercial para a região.

O estudo começou em 2015 com a pesquisa de mestrado da estudante Susana Braz-Mota. A ideia era saber como os peixes lidam com agentes tóxicos despejados nas águas em quantidades relativamente pequenas.

O cobre na sua forma de nanopartícula está presente na composição das tintas usadas para pintar cascos de embarcações.

A pesquisa foi publicada em uma importante revista científica internacional, a Science of The Total Environment.

Respiração

Uma das principais conclusões da pesquisa de Braz-Mota é que as nanopartículas aderem às brânquias, órgão respiratório dos peixes, popularmente conhecido como guelras, modificando as estruturas e, em longo prazo, dificultando a respiração dos peixes.

“O dano às brânquias afeta toda a estrutura de modelagem respiratória, o que tem como consequência alterações na fisiologia do peixe. Isso foi notado em análises histológicas, que mostraram que os animais expostos tiveram o aparelho respiratório danificado”, explica Braz.

O trabalho encontrou danos como fusão das lamelas; proliferação celular, descolamento da parede celular; entre outras patologias que afetam diretamente a respiração; osmorregulação e metabolismo desses animais.

A brânquia é o órgão responsável pela respiração dos peixes. Exatamente  nas referidas estruturas ocorrem as trocas gasosas entre o sangue desses animais e a água.

Espécies avaliadas

As espécies avaliadas na pesquisa foram o cardinal (Paracheirodon axelrodi) e o cará-anão (Apistogramma agassizii). Esses peixes são muito apreciados por praticantes de aquarismo.

O cardinal tem grande importância para a economia do município de Barcelos, localizado na região do Médio Rio Negro, no estado do Amazonas e distante 401 quilômetros da capital, Manaus.

No local, famílias inteiras dependem da pesca e comercialização do peixe ornamental, que responde por cerca de 50% da economia da cidade.

Tintas anti-incrustantes

As nanopartículas presentes nas tintas anti-incrustantes têm o objetivo de impedir a incrustação ou retardar o crescimento de organismos que aderem à superfície de embarcações e afetam a velocidade na água. Elas também protegem o casco de efeitos da corrosão.

Além do impacto no aparelho respiratório dos peixes foi possível detectar problemas secundários como o aumento de radicais livres e alterações na capacidade de manter os sais internos nos organismos dos animais.

Os radicais livres são moléculas de oxigênio que podem causar danos em proteínas, no DNA, em lipídios e até na membrana das células. Já a desregulação iônica afeta o transporte de sais, como sódio e potássio, importantes para a homeostase, que é a capacidade de adaptação do corpo do animal ao meio ambiente de forma equilibrada.

Os danos mais leves provocam o envelhecimento das células e o pior, provoca o aparecimento de células cancerígenas- o que preocupa vários estudiosos.

Saiba mais: Nova espécie de mosca é identificada em São Gabriel da Cachoeira

 

(*) Com informações da assessoria