Manaus, 20 de maio de 2024
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Cenário

Tony Medeiros diz que seu maior desafio é ser o candidato mais votado em sua cidade natal, Parintins

A questão política é extremamente complicada e, às vezes, as coisas não acontecem do jeito que você quer e planeja e elas podem mudar até o último momento

Tony Medeiros diz que seu maior desafio é ser o candidato mais votado em sua cidade natal, Parintins

Fotos: Erick Bitencourt

MANAUS – João Wellington de Medeiros Cursino, conhecido como Tony Medeiros, deputado estadual, pré-candidato à reeleição pelo PL. Nasceu dia 2 de novembro, em Parintins, é cantor, compositor, poeta popular e arte educador. Além de ser considerado um dos mais conceituados compositores do Amazonas.

Tony em entrevista exclusiva ao AM1 falou sobre sua pré-candidatura à reeleição, sobre sua paixão pelas manifestações culturais do estado do Amazonas, dentre elas, o Festival Folclórico de Parintins, do qual foi por 21 anos, Amo do Boi Garantido. Sobre cenário político e eleições deste ano, quando questionado se a possível candidatura de Mayra Dias, esposa do prefeito Bi Garcia, traria dificuldades para sua reeleição, o deputado foi enfático: “Eu não vejo dessa forma, vejo ao contrário, este é um desafio que eu vou lançar para mim mesmo, o meu desafio hoje é ser o mais votado na minha cidade de Parintins”.

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AM1: O senhor é conhecido como um político que defende os interesses do interior, do setor primário. Fale um pouco dessa luta, e da sua paixão pelo interior:

Tony: Na realidade, o meu curso médio é em agropecuária, sou técnico em agropecuária e tive a oportunidade de trabalhar durante mais de cinco anos como extensionista rural prestando assistência técnica a pequenos, médios e grandes agropecuaristas na época. Trabalhei dentro do programa, naquele tempo, ‘Programa de Desenvolvimento Rural Integrado (PDRI) financiado pelo BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento) e eu tenho um amor muito grande, realmente, pelo setor primário, tenho um envolvimento muito grande na cultura, que todo o mundo sabe desse meu envolvimento. Fui buscar na Academia também, a minha graduação é em Arte com habilitação plena em música, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e também estudei música na Paraíba, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

E eu defendo o interior, porque sou filho do interior e quem mora, quem vive no interior conhece as dificuldades, a realidade. Eu tive a oportunidade de ser eleito duas vezes como vice-prefeito da cidade de Parintins e com isso, participando todo esse tempo, dentro do Poder Executivo, então eu tenho uma visão tanto dentro de um Poder Executivo, como de um Poder Legislativo.

AM1: O senhor tem em seu currículo várias experiências na gestão pública, como já citou. Já foi secretário, presidente de comissões importantes no Poder Legislativo Estadual, presidiu Frentes Parlamentares, foi por duas vezes vice-prefeito. Quais desses cargos o senhor pode destacar?

Tony: Cada um te dar uma visão diferente, cada momento político te proporciona uma visão diferente, por exemplo, quando fui secretário de cultura de Manaus, presidente da Fundação Villa Lobos, você passa a conhecer muito mais sobre todos os segmentos dentro da própria cultura, começa a conhecer mais as manifestações da nossa cidade, da nossa região.

E com essa visão cultural do interior, como militante e não só como secretário, dentro desse processo eu me propus a dar uma nova cara em relação ao Boi, por exemplo. O estado não tinha uma cara cultural, então eu contribui dando uma cara para o estado, em relação a nossa cultura, que hoje é muito mais cantada e decantada no mundo todo. Então, cada momento trouxe uma experiência, no primeiro momento como deputado estadual, tinha uma visão, hoje tenho outra, muito mais apurada, muito mais avançada.

Eu diria que cada momento político nos dá uma visão diferenciada, mas hoje com as emendas impositivas, o deputado estadual tem a possibilidade de atender aos anseios da população, porque você vai numa certa comunidade mais distante e ela tem a necessidade de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), por exemplo, e antes você tinha que pedir do governador, pedia uma, pedia duas, fazia os requerimentos e você não tinha a certeza se iria acontecer, se seria atendido, e hoje é diferente, você pode destinar recursos de bancada, emenda impositiva e dessa forma ajudar o estado do Amazonas, mesmo nas comunidades mais distantes.

AM1: Além do setor primário, o senhor tem outras bandeiras, como a do turismo, cultura, desenvolvimento econômico do interior como um todo. Quais delas, em sua opinião, precisa de mais atenção atualmente?

Tony: Eu acho que educação nunca é demais, só a educação vai transformar. Hoje, o estado do Amazonas tem uma população, que segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 49,7% da população vive abaixo do nível da pobreza e essa realidade só vai mudar através da educação. E quero entender aqui os esforços e as competências, a estadual, municipal e de que forma nós podemos chegar no interior.

A interiorização das universidades, no caso, da Universidade Federal, da Universidade Estadual, ela praticamente já aconteceu, mas a gente precisa interiorizar muito mais, precisamos chegar nas comunidades. Nós temos 330 mil pessoas que já terminaram o seu curso médio, mas que sonham com o curso superior e é justamente por isso, que nós trabalhamos o projeto da Universidade Rural, onde você vai aproveitar essa estrutura tecnológica que já existe em mais de 3.500 comunidades rurais e onde mais de 330 mil pessoas já concluíram o seu curso médio e dar a ela, através da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), através do CETAM (Centro de Educação Tecnológica do Amazonas), que também pode oferecer cursos em nível de graduação e pós-graduação, essa oportunidade através dessa estrutura tecnológica para que àqueles que vivem nos lugares mais distantes do interior do estado sejam alcançados, não só caboclos, mas também os índios.

AM1: Agora vamos falar um pouco sobre cenário político. O senhor deixou o PSD e se filiou ao PL, qual foi o critério, uma vez que chegou a ser veiculado que o senhor iria para o Avante, do prefeito David Almeida?

Tony: A questão política é extremamente complicada e, às vezes, as coisas não acontecem do jeito que você quer e planeja e elas podem mudar até o último momento. Na realidade, essa eleição é diferente e na composição do Avante havia um acordo onde só poderia ter um deputado estadual com mandato, esse era o acordo e ficou entre eu e o deputado Abdala Fraxe, o deputado tem proximidade e uma amizade muito grande também com o prefeito David, que comanda hoje o Avante, talvez uma mesma amizade que eu tenho, mas que politicamente está muito mais próximo do David. Então, eu preferi deixar que o deputado Abdala continuasse o seu trajeto, a esposa dele, inclusive, foi secretária de saúde de Manaus e eu resolvi ir para o PL.

Eu fiquei no PSD pouco mais de dois anos, mas eu saí do PSD, não foi porque eu quis, mas sim porque o PSD no projeto político dele, ele não tem como prioridade deputados estaduais, mas sim deputados federais e numa conversa amigável, numa conversa muito boa com o senador Omar Aziz (PSD), ele me expôs o projeto, eu agradeci e tive que procurar outras fileiras.

AM1: Hoje o senhor compõe a base aliada do governador. Como é a sua relação com o chefe do Executivo Estadual?

Tony: Sim, sou da base do governador. Nossa relação é muito boa, relação respeitosa. Muitos avanços só se fazem possíveis através de articulação, não adianta só falar, você tem que resolver. O estado quer resultado e aí nós tivemos, por exemplo, como resultado da nossa articulação, a interiorização da alta complexidade. Uma notícia que mais indignou o nosso país foi saber que nenhuma cidade do interior do Amazonas tinha UTI (Unidade de Terapia Intensiva), então nós articularmos, o governador autorizou todo o estudo necessário e nós já temos as primeiras dez UTIs instaladas, temos em Parintins, num segundo momento será entregue a de Tefé. Parintins no Baixo Amazonas, Itacoatiara no Médio Amazonas, teremos em Manacapuru, que também é um polo, apesar da proximidade com Manaus, aí nós temos Tefé que fica no Médio Solimões, Tabatinga no Alto Solimões. Por calha de rio teremos: Rio Madeira – Humaitá, Rio Juruá – Eirunepé e no Rio Purus, que teremos em Lábrea.

Então, sem essa boa relação com o Executivo, você não consegue nada e o mais importante para mim nesse momento, não é a minha vaidade política, mas sim os avanços que eu posso conseguir através dessa proximidade e respeito com o governador.

AM1: Em julho do ano passado, foi aprovado um PL de sua autoria que flexibiliza licenciamentos ambientais, o projeto Nº 207/2021. A matéria foi criticada por especialistas ambientais que argumentaram que ele é uma forma de contribuir com o desmatamento e nesse contexto, saíram algumas reportagens lhe criticando afirmando que a sua defesa pela preservação dos rios e floresta era apenas discurso. Qual a sua opinião?

Tony: Que bom que você me dá essa oportunidade de defesa, a minha filha tinha a mesma dúvida. Em momento nenhum o meu projeto de lei pede flexibilização das leis ambientais, na realidade, só estabelece prazo, até a própria bíblia diz: sim, sim, não, não. Então, ficaram estabelecidos prazos, o que não pode é uma licença ambiental passar cinco, seis anos para se dizer sim ou não e por isso, hoje nós temos em lei, esse prazo estabelecido, onde o Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) tem a obrigação de se manifestar se aquele pedido cumpre todas as regras da preservação ambiental ou não.

Em nenhum momento a lei flexibiliza, ela só estabelece prazo para a emissão de licenças ambientais, tudo depende de licença ambiental. Quando se fala em licença ambiental, as pessoas só pensam na floresta ou no rio, elas não pensam que para asfaltar uma rua, você precisa de licença ambiental, assim como para construir uma casa, um hospital, um prédio, tudo você precisa de licença ambiental. Então, não poderia durar tanto tempo sem nenhuma regra que definisse um prazo, o quê que é a lei? ela é uma regra e hoje o Ipaam tem prazo de 120 dias para se manifestar e dizer se sim ou se não.

AM1: No último dia 8, o senhor criticou a Suframa, chamando-a de ‘pseudo’ órgão de regularização fundiária, por conta da abertura de um edital de concessão de uso de terras do Distrito Agropecuário. Sua fala foi em defesa dos agricultores estabelecidos nessas terras e o senhor disse que a medida prejudicava o setor primário. Fale um pouco sobre isso:

Tony: Na realidade, nós temos alguns órgãos que tratam da regularização fundiária no nosso país. Na esfera federal nós temos o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e a SPU (Secretaria de Patrimônio da União), na esfera estadual temos hoje a Sect (Secretaria de Cidades e Territórios), além da municipal e aqui no Amazonas, nós temos outro órgão que tem umas terras que foram doadas pelo estado para cumprir uma função de um Distrito Agropecuário que não foi cumprida até hoje. Essas terras pela proximidade de Manaus, parte delas foram ocupadas e tem gente que se estabeleceu, essas terras foram doadas em 1968, então são mais de cinqüenta anos, e essas pessoas moram ali há trinta, quarenta anos e com o lançamento desse edital, ficamos bastante preocupados, porque a insegurança é muito grande, onde o produtor já não consegue dormir tranqüilo, porque não consegue entender como funciona o processo.

E eu tratei de outra questão, que são os aglomerados urbanos que existem hoje. Nós temos bairros dentro da área da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), então aproveitei e me reuni ontem com vários representantes da Suframa, além de produtores. E por que eu chamei de pseudo órgão de regularização fundiária? Porque nós temos muitos órgãos de regularização fundiária que não cumprem o seu papel e eu questionei que se a Suframa não dá a destinação correta às terras que foram doadas pelo estado, que ela devolvesse as terras e não funcionasse como um pseudo órgão de regularização fundiária.

Ontem (dia 19), nós tivemos reunidos com o general Polsin (Algacir), que é o superintendente e para a nossa surpresa, o objetivo desse edital é fazer aquilo que não fizeram lá trás, é fazer com que as terras da Suframa cumpram a sua finalidade inicial, esse é o objetivo e a procura é muito grande, inclusive de empresas de fora do Brasil.

O problema que existe hoje são as ocupações. Nós temos a lei que diz que as ocupações até 2008 podem ser regularizadas e após 2008 não podem ser regularizas. A reunião foi muito boa, o superintendente se comprometeu que toda a área licitada que tiver alguma ocupação ele vai tirar da licitação para resolver o problema para que somente depois a área seja licitada. Então, nós avançamos bastante, essa informação me deixou em paz, porque alguém depois de cinqüenta anos depois entende que as terras têm que cumprir a função original. O nosso maior questionamento eram essas terras, mas junto com a gente nessa mesma reunião estava um grupo de empresários interessados no edital e os produtores que ali se estabeleceram e também os aglomerados urbanos que existem dentro da área da Suframa.

AM1: Vamos falar agora um pouco sobre especulações sobre sua reeleição. Foi veiculado que o senhor teria sérios problemas em conseguir se reeleger, uma vez que a Mayra Dias, esposa do prefeito de Parintins, Bi Garcia será candidata a deputada estadual e sabemos que muitos dos seus votos vêm de Parintins. Como o senhor avalia esse quadro?

Tony: Eu nunca precisei do prefeito Bi para ganhar uma eleição, eu ganhei a minha primeira eleição sem ele. Eu tenho uma relação muito boa com ele, mas o Bi é meu amigo, mas não é o dono de Parintis e também não se sente o dono de Parintins. Eu vejo da seguinte forma: qualquer pessoa pode ser candidato, são os interesses dele, ele vai buscar por um lado e eu vou buscar por outro lado, mas isso não vai importar jamais na relação que a gente tem de proximidade, de amizade, isso não importa nada.
Eu não vejo dessa forma, vejo ao contrário, este é um desafio que eu vou lançar para mim mesmo, o meu desafio hoje é ser o mais votado na minha cidade de Parintins. Acho que todo mundo pode ser candidato, inclusive ela. Agora eu tenho que mostrar o meu trabalho, ela tem que mostrar o dela, mas no mundo político isso é muito natural, até porque onde está escrito que os outros candidatos não podem ir a Parintins, por exemplo? Eles sempre foram e na realidade, eu não tenho só ela como adversária e sim, todos os candidatos do estado do Amazonas são potenciais adversários nessa corrida, mas eu vou fazer a minha parte e não vejo de forma nenhuma um empecilho a candidatura dela à minha reeleição até porque eu tive mais votos na última eleição fora de Parintins do que no próprio município.

AM1: Agora vamos falar um pouco sobre a sua paixão pela arte, música, pelo Festival de Parintins. Falando em Festival, em maio do ano passado, o senhor afirmou que o município estava ficando cada vez mais pobre devido a não realização da festa por dois anos consecutivos. Comente um pouco sobre isso e sobre sua vida que também foi e ainda é dedicada ao Festival, à música, à arte:

Tony: Bem, vamos lá. Manaus tem a Zona Franca e o quê que tem o interior, além do setor primário? O festival, então, a economia de Parintins é linkada também no setor primário, mas nós buscamos através das nossas manifestações culturais encontrar outra alternativa econômica de desenvolvimento.
O Festival Folclórico de Parintins injeta mais de R$ 100 milhões na economia por ano, então se deixar de acontecer é inevitável que não haja uma queda na economia, e por isso, eu afirmei que o nosso povo empobreceu em pelo menos R$ 200 milhões. Todo o interior busca alternativas, além do setor primário e Parintins encontrou na indústria cultural um suporte forte e uma alternativa econômica viável de desenvolvimento para a região do Baixo Amazonas.

Sobre a minha paixão pela arte e pela música, pela cultura em geral é algo mais forte do que tudo para mim. Dentro de tudo que a gente faz parte na vida, a gente encontra problemas, só que quando você fica fora você fica infeliz, eu não consigo ficar distante das manifestações culturais do meu estado, Festival Folclórico e todas as outras manifestações, como o da comunidade de São Sebastião, aqui em Manaus, da Festa do Divino, dos cantos, das bandeiras do Divino. Então, nós temos muitas manifestações, temos os Marujos lá em Freguesia do Andirá (Barreirinha), todos os anos eu vou para a Festa do Divino, tem a procissão das bandeiras no pôr do sol, é a coisa mais linda.

Então, eu sou um apaixonado pelas manifestações culturais do estado do Amazonas e não consigo ficar distante. Só para você ter uma idéia eu não consigo escutar alguns tipos de músicas hoje, mas se você me der um ‘Cantochão’ eu escuto cem vezes a mesma coisa, eu sou apaixonado declarado pela cultura popular, tanto que a minha formação é em arte com habilitação plena em música. Fico feliz quando vejo hoje Parintins com a possibilidade de realizar o maior Festival de todos os tempos, se eu tiver vida e saúde, é claro que farei todo o esforço do mundo para estar lá.

Falar de cultura muda até o meu semblante porque eu sou tão apaixonada pelas manifestações culturais do meu estado, do meu país, que eu sinto certa êxtase. Mas vou revelar aqui outra coisa que pouca gente sabe, eu sou muito católico e muitas vezes até dentro da arena, naqueles intervalos do amo do boi, mesmo saltitando no meio da arena estava fazendo orações. Eu tenho comigo algo de que onde eu estiver que ninguém esteja rezando eu começo a rezar, tipo num estádio de futebol, sou muito religioso e sou um apaixonado declarado pelas manifestações culturais do meu estado.