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Política

TrateCov, cloroquina e contradições: depoimento de Pazuello chega ao fim

Pazuello voltou a negar que tenha ignorado ofertas de vacinas, afirmou que o aplicativo TrateCov foi hackeado e também entrou em contradições

TrateCov, cloroquina e contradições: depoimento de Pazuello chega ao fim

(Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

BRASÍLIA, DF –  O depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à CPI da Covid finalizou na tarde desta quinta-feira (20). Durante o segundo dia da oitiva com Pazuello, ele voltou a negar que sua gestão tenha ignorado ofertas de vacinas da Pfizer, afirmou que o aplicativo TrateCov foi hackeado e também entrou em contradições.

Durante a sessão, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), solicitou que um relatório parcial das investigações seja concluído pelo relator, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Veja os principais pontos do depoimento: 

“TrateCov foi hackeado”

Um dos primeiros assuntos alvos da CPI foi o aplicativo TrateCov. Criado pelo governo, a plataforma receitava hidroxicloroquina até para bebês e é um dos pontos mais polêmicos da gestão Pazuello, sendo um dos motivos pelo qual ele é alvo de inquérito.

Nesta quinta, o ex-ministro da Saúde afirmou que o aplicativo TrateCov foi divulgado ainda em fase de protótipo e que depois acabou hackeado, sendo colocado indevidamente no site do Ministério da Saúde.

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Pazuello explicou que um hacker roubou a plataforma e depois incluiu na rede digital do governo. A intenção, segundo o ex-ministro, era agilizar o processo de diagnóstico de casos de covid-19. “No dia que descobrimos que foi hackeado, eu mandei tirar do ar imediatamente”, afirmou o ministro.

“O hacker é tão bom que ele conseguiu colocar o aplicativo em uma matéria na TV Brasil”, ironizou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), citando o fato de que o aplicativo foi anunciado em evento oficial em Manaus. “Tudo que poderia ter sido para usar o povo amazonense de cobaia foi feito”, disse Omar.

Bate-boca entre os senadores

Ao longo da sessão, houve momentos tensos. Em um discurso duro, o senador Otto Alencar (PSD-BA) criticou duramente Pazuello, afirmando que ele não poderia ter sido titular da pasta, pois “não sabe nada sobre a doença”.

Durante o depoimento, o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) mostrou um vídeo em que reúne falas de governadores e secretários estaduais defendem a hidroxicloroquina.

Rogério afirmou que o intuito era mostrar que existe uma “sanha vingadora” contra o presidente Jair Bolsonaro, desviando o foco dos governadores. “Não estou expondo os governadores para os condenar, porque ainda hoje acho que estão corretos”, afirmou o senador.

Outros senadores, no entanto, rebateram que o vídeo mostra falas do início da pandemia, quando havia ainda incerteza em relação ao tratamento da Covid-19. “Não vou admitir mentiras em relação ao meu estado”, afirmou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Um bate-boca iniciou na sessão. Logo em seguida, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos -RJ) também entrou na discussão e a sessão precisou ser interrompida.

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Oferta de vacinas

O ex-ministro da Saúde negou que a sua gestão tenha ignorado as ofertas de venda de vacinas da Pfizer, afirmando que manteve pressão sobre a empresa para que mudasse as cláusulas impostas.

Pazuello repetiu diversas vezes em sua gestão que a Pfizer impôs cláusulas leoninas, como imunidade para eventuais efeitos colaterais da vacina, aceitar só ser julgada nos Estados Unidos e garantia de pagamento em instituições no exterior.

“Foi constante a pressão para que se reduzisse as cláusulas”, afirmou Pazuello, que completou que os brasileiros não são “caloteiros”. “A minha posição com a Pfizer era que ela flexibilizasse para o Brasil, porque não tínhamos lei para isso”, afirmou.

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O ex-ministro voltou a afirmar que havia proposto mudança na legislação, mas os departamentos jurídicos dos outros ministérios foram contrários, afirmando que a iniciativa deveria partir do Congresso.

Pazuello então afirmou acreditar que uma proposta de medida provisória para alterar a legislação e permitir ao poder público assumir as responsabilidades impostas pelos laboratórios nem chegou à mesa do presidente Jair Bolsonaro.

Contradição

Sobre a crise de oxigênio no Amazonas, o ex-ministro também apresentou uma nova versão sobre uma conversa telefônica que manteve com autoridades do Amazonas a respeito da falta de oxigênio. Manteve que só ficou sabendo do problema na noite do dia 10 de janeiro.

Ao ser confrontado com um documento oficial, encaminhado pelo Ministério da Saúde para a Câmara dos Deputados, de que teria tratado de oxigênio no dia 7 do mesmo mês, Pazuello afirmou que conversou sobre o tema, mas com uma perspectiva diferente.

“Olha só, isso [documento] é o papel, escrevendo, agora eu estou falando pessoalmente aqui sobre esse assunto. O telefonema do secretário de Saúde para mim, no dia 7, à noite, foi exclusivamente para apoio logístico de transporte de tubos de oxigênio que iam para o interior do Amazonas, saindo de Belém para Manaus”, afirmou, negando que tivesse tratado da falta de oxigênio.

No dia anterior, havia afirmado que não tratou do assunto oxigênio. Durante a sessão, o relator Renan apontou mentiras no depoimento de Pazuello e pediu ao presidente da comissão, Omar Aziz, para contratar “um serviço para fazer uma procura online, uma varredura das mentiras ou verdades pronunciadas”.

“Já tivemos uma primeira amostragem das contradições. O depoente em 14 oportunidades mentiu flagrantemente”, afirmou Renan.

“Pazuello Governador”

O ex-ministro da Saúde também afirmou que não procede a informação de que pretende ser candidato a governador ou senador pelo estado do Amazonas. “Ser governador é um caminho que deve ser construído”, disse, ao justificar que não está pronto para ocupar esse cargo.

Pazuello também afirmou que esse movimento de candidatura não partiu dele, apenas colocaram na internet, sem seu conhecimento e que é difícil identificar a origem.

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Em alguns momentos, o general tentou se descolar de Bolsonaro, afirmando que não concordar com algumas de suas posições, em especial em relação à hidroxicloroquina.

Sem influências

Também acrescentou que as ações do presidente não mudaram a sua visão e nem suas ações a frente do ministério, embora reconheça que têm impacto imensurável. “A posição do presidente ou outros ministros são deles, é juízo de valor deles. Há impacto? Isso é imensurável, é incalculável”, afirmou.

“Na minha visão, as ações dele não mudaram a minha visão. Eu não fiz e não faria e não deixei fazer. Se aconteceu em outro nível do ministério, foi sem a minha autorização. Eu não concordo com isso. Eu não comprei nenhuma grama de hidroxicloroquina, não fomentei o uso”, completou, afirmando que apenas distribuiu o medicamento que foi pedido.

 

*Com informações da Folhapress