Manaus, 4 de maio de 2024
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Cenário

Vices: de aliados a pedras nos sapatos

Manaus e o Amazonas não têm, até então, um bom histórico com vices, sejam eles os vice-prefeitos ou os vice-governadores

Vices: de aliados a pedras nos sapatos

MANAUS, AM – Durante os processos eleitorais, é comum nos depararmos com as figuras dos candidatos a vice. No caso dos vice-presidentes, seu papel é definido na Constituição Federal: substituir o presidente, em caso de impedimento, e sucedê-lo quando a presidência estiver vaga. O princípio é o mesmo em relação ao vice-governador e ao vice-prefeito.

Além disso, já que devem ser eleitos juntos, espera-se que o presidente e o vice-presidente andem unidos e não mantenham rixas. No entanto, não é o que tem acontecido nos últimos anos, tanto na política nacional como na política de Manaus.

O analista político Helso Ribeiro aponta que os vices escolhidos nas chapas dos titulares acabam por ser uma escolha casuística e não têm quaisquer afinidades entre os candidatos. “Traz-se um vice apenas para somar forças dos dois partidos, mas os dois não têm qualquer afinidade. Se eleitos, tanto o prefeito como o vice acabam indo em direções antagônicas. Isso vem desde Deodoro e Floriano, e pode perceber que chega até Bolsonaro e Mourão.”

Leia mais: Vice-governador Carlos Almeida é o mais novo tucano no ninho de Arthur

O Amazonas, inclusive, tem um bom histórico de vices que romperam com os titulares ainda no exercício dos mandatos. O caso mais recente é o do atual vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (PRTB), que cortou as relações com o governador Wilson Lima (PSC) em 2020. Almeida ainda continua no cargo, mas faz questão de dizer que não tem mais “relações de urbanidade com o cidadão Wilson Lima”.

Wilson e Carlos Almeida foram eleitos juntos, em 2018. Foto: Divulgação

Como prova do corte de relações entre governador e vice, Carlos Almeida deixou o PRTB e foi aceito no PSDB de Arthur Neto. O ex-senador e ex-prefeito, inclusive, tem fornecido munição e força para que Almeida continue atacando Wilson Lima.

Arthur x Hissa

Na cidade de Manaus, a situação não é diferente. Desde 2012, os vice-prefeitos têm brigado continuamente com os prefeitos. O primeiro dessa lista é Hissa Abrahão (PDT), vice-prefeito de Arthur na primeira gestão (2013-2016). A briga entre os dois veio logo no primeiro ano de mandato, em 2013. Na ocasião, Hissa queria ser pré-candidato ao governo do Amazonas, o que não foi permitido por Arthur, que o exonerou da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf).

Depois da exoneração, o então vice-prefeito deu entrevista a uma rádio na época, dizendo que Arthur era “mau-caráter”. Em resposta, o tucano deu outra entrevista, dizendo que somente ele teria condições de ser candidato e vencer as eleições, chegando a chamar Hissa de “meninote”.

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Arthur e Hissa chegaram a celebrar missa por vitória nas eleições. Foto: Alexandre Fonseca/Semcom

Depois do escândalo, Hissa renunciou à função de vice-prefeito e voltou para a Câmara dos Deputados. Então filiado ao Partido Popular Socialista (PPS), decidiu ir contra José Melo (PROS), apoiado por Arthur Neto em 2014, e apoiou Eduardo Braga (MDB) na corrida ao governo do Amazonas; acabou sendo derrotado.

Hissa e Arthur voltaram a se “bicar” nas últimas semanas. Em entrevista ao Amazonas1, no dia 22 de julho, Hissa mandou Arthur assumir suas responsabilidades a respeito de “supersalários”, e ainda acusou o tucano de usar a máquina da prefeitura para encobrir a participação de seu enteado, Alejandro Valeiko, na morte do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos. Arthur não gostou e denunciou Hissa ao Ministério Público do Amazonas (MP-AM).

Arthur x Rotta

Nas eleições de 2016, Arthur se candidatou novamente, mas, desta vez, aliado ao MDB, representado por Marcos Rotta como vice. Os dois foram eleitos, e em 2017, Rotta migrou para o PSDB com as bênçãos de Arthur. No entanto, Rotta não achou guarida no PSDB, principalmente por causa da então secretária municipal da Mulher e Assistência Social, Conceição Sampaio, considerada a “queridinha” do primeiro-casal.

Rotta também foi preterido por uma personagem nada convencional: a primeira-dama do município, Elisabeth Valeiko Ribeiro. A gota d’água, no entanto, talvez tenha sido o fato de que o vice pretendia ser candidato ao governo em 2018, mas em vez dele, Arthur decidiu apoiar Omar Aziz (PSD), e Arthur Bisneto, seu filho, como vice de Omar. Foi a gota d’água para Rotta, que se desfiliou do PSDB e pediu licença do cargo de vice-prefeito.

“Se tivessem conversado comigo, eu não teria nenhum problema para acatar a decisão do partido. Só que eu acho que tudo na nossa vida tem limites. Eu acho que a minha paciência chegou naquele ponto no limite”, disse Rotta, durante entrevista em setembro de 2019.

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Arthur e Rotta voltaram às boas em 2019. Foto: Alex Pazuello/Semcom

Rotta se desfiliou do PSDB em 2018, e encontrou guarida em Amazonino Mendes, então governador e candidato à reeleição. Imediatamente, o “Negão” nomeou Rotta como secretário da Região Metropolitana de Manaus, pasta pela qual ele ficou responsável pelas ações de infraestrutura da cidade e da região metropolitana. Foi a deixa que Rotta queria para implementar ações de infraestrutura por toda a cidade.

Amazonino não foi reeleito, e Rotta voltou ao cargo de vice-prefeito de Manaus. Em setembro de 2019, ele se filiou ao Democratas – sigla em que está atualmente, e decidiu não mais apoiar Arthur. Ele também criticou a primeira-dama Elisabeth Valeiko, chamando-a de “prefeita sem voto”. “Acho que o Arthur não tem mais saúde para gerir a cidade e deixou na mão de pessoas que têm vários interesses, menos a resolução dos problemas da cidade.”

Se Marcos Rotta reclama de não ter sido valorizado na gestão de Arthur Neto, o mesmo não se pode dizer da atual gestão da Prefeitura de Manaus. Em 2020, quando David Almeida se lançou candidato a prefeito, chamou Marcos Rotta para ser vice mais uma vez. O democrata aceitou, e além de ser vice pela segunda vez, assumiu, novamente, a Secretaria de Infraestrutura.

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Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom

PLANALTO PROBLEMÁTICO

Em 2016, por exemplo, o então vice-presidente da República, Michel Temer (MDB), rompeu publicamente com a presidente Dilma Rousseff (PT) por meio de uma carta. Dilma sofreu impeachment, e Temer assumiu a Presidência da República até o fim de 2018, sendo sucedido por Jair Bolsonaro (sem partido) e seu vice, o general Hamilton Mourão (PRTB).

No entanto, já existem indícios de um estremecimento nas relações entre Bolsonaro e Mourão. Prova disso foi uma declaração dada na última segunda-feira (26). Nela, o presidente disse que sua relação com o general era como a de “cunhado”.

“O Mourão faz o seu trabalho. Ele tem uma independência muito grande, mas, por vezes, atrapalha um pouco a gente. Mas o vice é igual cunhado: você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Você não pode mandar o cunhado ir embora”, disse.

Foto: Agência Brasil

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