Manaus, 27 de abril de 2024
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Cenário

Ao final do 1º ano do mandato, relação de Wilson e Tadeu é oposta a de antigo vice-governador

Tadeu de Souza tem sido o responsável por agendas, reuniões e discussões importantes no âmbito da administração estadual.

Ao final do 1º ano do mandato, relação de Wilson e Tadeu é oposta a de antigo vice-governador

(Foto: Facebook/David Almeida)

Manaus (AM) – O primeiro ano do atual mandato do governador Wilson Lima (União Brasil) está chegando ao fim e um detalhe chama atenção: a relação amistosa e de confiança entre o chefe do Executivo e o vice-governador Tadeu de Souza (Avante), o que se difere em importantes aspectos da relação do governador com o seu antigo vice-governador, o defensor público Carlos Almeida (Sem Partido).

Tadeu tem sido o responsável por agendas, reuniões e discussões importantes no âmbito da administração estadual, bem como por diversas vezes tem sido o escolhido para representar o Governo do Amazonas em encontros oficiais com o Governo Federal.

É a primeira vez que Tadeu ocupa um cargo eletivo, mas possui longa experiência no serviço público, uma vez que é procurador de carreira do Estado, cargo que ocupou do ano de 2000 até ser indicado pelo prefeito David Almeida (Avante) para compor a chapa de Wilson nas eleições do ano passado.

O novo vice-governador tem um perfil técnico, disciplinado e não entra em questões polêmicas, sendo bem avaliado por seus pares, principalmente quando se trata de pôr em prática o princípio da boa governança para cumprir as missões para as quais é escolhido.

Desde quando, a relação de Lima e Carlos Almeida ficou estremecida no mandato passado, o governador não se ausentava do comando do estado, o que vem sendo diferente com Tadeu, que já assumiu a cadeira de governador interino em julho deste ano.

Agendas

A mais recente agenda em que o vice-governador esteve no Governo Federal foi no último dia 15, quando participou das comemorações pelos 134 anos da proclamação da República, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro da Justiça Flávio Dino, em Brasília.

Em agosto, o político representou o Amazonas na ‘Cúpula Judicial Ambiental da Amazônia’, além de outras pautas, em que foi protagonista em parcerias com o Governo Federal e agendas locais, em que são tratados assuntos importantes para o Amazonas, em diversas áreas, como tecnologia, meio ambiente e outras.

No último dia 23, por exemplo, o vice representou Wilson em um evento que criou a ‘Rede de Proteção e Conservação da Biodiversidade por meio de Tecnologias’ (Redt/AM). O projeto é uma parceria do Governo do Estado com a Embaixada da Coreia do Sul, com foco em investimentos em tecnologia para monitorar os 62 municípios do Amazonas.

Carlos Almeida

O ex-vice-governador Carlos Almeida também começou bem a sua trajetória política ao lado de Lima, quando foram eleitos em 2018. O defensor era alguém em quem o governador confiava, mas a relação azedou após um ano de governo.

Almeida foi chefe da Casa Civil, mas antes disso esteve à frente da Secretaria de Saúde do Amazonas (SES) e foi responsável por uma reestruturação da pasta.

O caminho exitoso entre os dois começou a desmoronar em meados de fevereiro, abril de 2020, quando Carlos deixou a chefia da Casa Civil por não concordar, segundo ele, com questões relacionadas à gestão. Em seguida, servidores que trabalhavam na vice-governadoria foram exonerados por Wilson, iniciando então, uma batalha judicial entre os dois.

Após o rompimento, o ex-vice-governador abandonou o cargo para o qual foi eleito, não participando de nenhuma ação do Governo a partir de então e nem comparecendo à sede do Governo, na Compensa, zona Oeste de Manaus.

Em junho deste ano, Carlos se filiou ao Partido dos Trabalhadores, após dois meses de negociação. Mas o ato foi apresentado em reunião ordinária da Comissão Executiva do PT Manaus para análise.

No último dia 22, a filiação foi negada pelo diretório do partido por 8 a 2. Na impugnação contra a sua filiação é defendido que Almeida é ‘bolsonarista’ e queria fazer parte da sigla de esquerda apenas por conveniência.

A ida de Carlos para o PT conta com o apoio do presidente do PT Manaus, Valdemir Santana.

Viabilização política

O AM1 conversou com o sociólogo e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Davyd Spencer Ribeiro de Souza, sobre a possível diferença entre Tadeu e Carlos ou alguma especificidade das figuras políticas.

Na visão do sociólogo, há duas dimensões num processo político que envolve a transição ou uma alternância de poder, em que o chefe do Executivo estadual não possa mais se reeleger, como é o caso de Lima nas eleições de 2026.

A primeira, é que é comum que os vice-governadores tentem viabilizar a sua condição de agente político para ocupar um espaço que se abre e a partir disso, trabalhar para viabilizar essa candidatura, mesmo que ainda de forma discreta. Inclusive, para o professor, a discrição de Tadeu é uma diferença entre ele e o ex-vice-governador.

“Parece-me que há uma diferença entre o Tadeu de Souza e o ex-vice-governador, Carlos Almeida, que tem a ver justamente com essa discrição política, em um momento em que o processo político ainda não está aberto de uma maneira geral ou pública, mas o fato dele estar assumindo posições de diálogo, de liderança, de articulação, de encaminhamento de projetos é num fundo um teste da sua capacidade de administrar a coisa pública e demonstrar que ele tem uma capacidade de realização de governo’, explicou.

A segunda dimensão avaliada por Davyd se refere a viabilização política, de Tadeu, que é especificamente uma construção política muito mais ampla, que tem a ver com uma correlação de forças político-partidárias.

“A sua eventual candidatura ao governo, depende da manutenção desses apoios e mesmo da sua ampliação. O vice-governador está numa condição favorável, em razão da institucionalidade, ele está no cargo de vice-governador, isso realmente abre muitas possibilidades de trabalho, de articulação, de proposição de projetos. Ele necessariamente acaba assumindo determinadas responsabilidades, uma vez que o governador assume outras frentes de atuação e articulação política, então, essa é uma condição a ele favorável”, afirmou Spencer.

Para o professor, Tadeu é uma figura nova, se for levado em consideração o seu perfil técnico e administrativo, o que para ele, se for bem trabalhado, pode configurar em uma vantagem significativa para o público, para a sociedade.

“Então, em nível da ação pessoal, ele deve aproveitar essas oportunidades para que esse perfil, essa imagem seja viabilizada e potencializada na esfera pública, porque é preciso que o conjunto dessas ações vá para a esfera pública, precisar ter um reflexo na esfera pública. É preciso saber se ele vai ser capaz de viabilizar do ponto de vista partidário, do ponto de vista das coalizões essa possível candidatura”, pontuou Davyd.

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