Manaus, 3 de maio de 2024
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Manaus, 3 de maio de 2024

Cidades

Casos de violência contra a mulher envolvendo ‘jiujiteiros’ são destaques em Manaus

Em 2023 e início de 2024, dois casos de agressão e incitação à violência contra as mulheres ganharam repercussão na capital e no país.

Casos de violência contra a mulher envolvendo ‘jiujiteiros’ são destaques em Manaus

Violência contra a mulher (Fotos: Reprodução/Freepik)

Manaus (AM) – Na cidade de Manaus, casos envolvendo violência contra a mulher estão crescendo, ao passo que, só em 2023, foram registrados 441 ocorrências, ou seja, no mínimo, são dois casos por dia, conforme dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Drª. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP/AM).

O Portal AM1 relembra, nesta matéria, dois casos que repercutiram na capital amazonense: um em 2023 e o outro na semana passada. Esses casos chamaram atenção pelo fato de os agressores serem praticantes de artes marciais, como o jiu-jítsu.

Vale lembrar que, apesar de o esporte ser uma das alternativas de autodefesa, não pode ser usado para gerar violência, já que este não é o seu objetivo. E o grande questionamento levantado pela reportagem se refere à conduta de atletas e praticantes dessa arte marcial que estão envolvidos em casos de violência e incitação à violência contra a mulher.

O primeiro caso se trata de um assessor legislativo, que integra o gabinete da deputada estadual Alessandra Campelo (Podemos). De acordo com relatos da ex-esposa, o assessor, que é praticante de jiu-jítsu, incitou sua esposa a agredir fisicamente a sua ex-companheira. A agressão ocorreu no dia 8 de janeiro, no bairro Parque Dez de Novembro, zona Centro-Sul.

Igualmente, em 18 de agosto de 2023, um casal de funcionários públicos agrediu uma babá e um advogado dentro de um condomínio localizado no bairro Ponta Negra, zona Oeste de Manaus. Na ocasião, o homem, que é faixa preta e mestre de jiu-jitsu de 7º dan, assiste e incita a esposa a agredir fisicamente a babá.

Logo, o advogado, que era patrão da babá, viu a agressão e desceu para defendê-la. No entanto, foi agredido pelo jiujiteiro. Nesse momento, o mestre de jiu-jitsu entrega sua arma para a esposa, que atira contra o advogado. O tiro pegou de raspão na perna do homem.

Ligação entre os casos

Além de ambos serem praticantes da arte suave do jiu-jitsu, incluindo um mestre de 7º dan, eles também possuíam relações com Alessandra Campelo, que é uma das parlamentares que luta pela defesa e direitos das mulheres na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam) e, inclusive, preside a Comissão da Mulher, da Família e da Pessoa Idosa na Casa.

No caso mais recente, o autor da violência e da incitação trabalha diretamente com a parlamentar em seu gabinete, ciente das pautas que a deputada defende. Já no caso que aconteceu em 2023, os agressores (o casal) são amigos de Campelo.

O Portal AM1 analisou que, por diversas vezes, Alessandra tomou posturas — consideradas pela população como corretas — e exigiu punições duras para agressores de mulheres; entretanto, durante os casos supracitados, Alessandra apenas emitiu nota afirmando que não compactua com a violência e não “rasgou o verbo” contra os seus amigos, como faz em relação a outros casos pelas redes sociais.

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(Foto: Reprodução/Redes sociais)

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No perfil das redes sociais da parlamentar, adjetivos como covarde, monstro, enjaulado e outros são intitulados em pôsteres do feed. (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Posicionamento

Procurada pelo Portal AM1 e questionada sobre qual seria a sua atitude em relação ao caso em que o seu assessor agrediu e incitou a violência contra a sua ex-companheira, a deputada afirmou que a exoneração imediata é a resposta que a sociedade espera e, dessa forma, ela solicitou à Aleam a exoneração imediata deste. Até a publicação desta matéria, no entanto, não havia publicação da exoneração no Diário Oficial.

Além disso, Alessandra Campelo afirma que toda a sua equipe é orientada a não se envolver, de maneira direta ou indireta, em casos de ocorrência policial, principalmente, em “casos de violência contra as mulheres, idosos, crianças ou adolescentes”.

Veja a resposta da deputada:

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(Foto: Arquivo/Portal AM1)

Opinião profissional 

Para o presidente da Federação Amazonense de Jiu-Jitsu (FAJJE), mestre Luis Neto, a agressão ou a incitação à violência contra as mulheres vem de pessoas que não estão completamente integradas à essência do jiu-jítsu.

Segundo Neto, o esporte era visto como uma forma de vandalismo antigamente, porém, nos dias atuais, já é visto como autodefesa e que 99% dos casos de violência contra as mulheres e contra qualquer outra pessoa vêm de praticantes que não seguem o esporte ao pé da letra.

Também questionado sobre os casos envolvendo atletas em Manaus, Luis Neto afirmou que, geralmente, quem está em quadros de delitos não está na ‘pegada’ do esporte. “O esporte te molda a ser uma pessoa de bem. Eu acredito que se a pessoa está na pegada de violência, a pegada dele não é o esporte, está longe do esporte e se acontece, dificilmente voltará para o jiu-jitsu”, finalizou.

(*) Colaborou Thiago Bernardo, do Portal AM1

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