Manaus, AM – O rápido aumento no nível do Rio Negro por conta do período chuvoso preocupa moradores de zonas que são afetadas. No entanto, a Prefeitura de Manaus não tem demonstrado interesse em adiantar planos de ações para frear o impacto da cheia em 2022, mesmo que tenha dinheiro o suficiente para a elaboração.
Diferente da realidade de muitas famílias, o prefeito David Almeida usou o período chuvoso para se concentrar em tornar Manaus um lugar turístico, espalhando cores por toda a cidade e ignorando os problemas básicos da capital, que podem ser solucionados, mas são deixados de lado.
Entre infraestrutura, saneamento básico, transporte coletivo, etc., o manauara ainda precisa se preocupar com o que deveria ser obrigação da prefeitura. Somente em dezembro deste ano, o Rio Negro já subiu mais de dois metros, totalizando 23,17 metros. A medida que é feita todos os dias já mostra que o nível deste ano ultrapassou o de 2020, em que terminou o ano medindo 21,11 metros.
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Vale lembrar que a subida dos rios é determinada pelas chuvas que caem entre dezembro e março, nas bacias dos rios Negro e Solimões. Conforme os dados, neste período o Rio Negro estava medindo dois metros a menos do que o coletado em dezembro de 2021, uma vez que a cheia deste ano foi a maior da história do Amazonas, com 30,2 metros.
Apesar dos dados disponibilizados apontarem uma preocupação, o Serviço Geológico do Brasil afirma que as chuvas estão 85% acima dos registros, mas que a subida do nível das águas nesse ritmo é normal.
Em novembro, o Portal Amazonas 1 esteve no bairro do Educandos, zona Sul, uma das áreas mais afetadas pela enchente. Na ocasião, embora o período da cheia esteja longe, as famílias contaram que já estão se organizando para a próxima enchente. Os moradores ainda comentaram com a equipe de reportagem que têm medo da força da natureza ser pior do que a cheia enfrentada em 2021.
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Enquanto uns temem a subida das águas, David Almeida promove o maior Natal da história em Manaus. Segundo o prefeito, a cidade sofreu com a segunda onda da pandemia da covid-19 e com a enchente e, por essa razão, merece um final de ano alegre. Porém, o espírito natalino do prefeito não é o mesmo na realidade das famílias do bairro Educandos.
A recicladora Alcione Mafra afirmou que se a Prefeitura de Manaus fizesse um trabalho antecipado para prestar auxílio aos moradores que vivem na beira dos rios, o cenário seria outro, tanto para as famílias, quanto para as autoridades e a cidade.
“É uma má situação para quem mora aqui, difícil. Não digo só eu, essas pontes são tudo [sic] malfeitas, o rapaz caiu, nas últimas semanas e está internado no Hospital 28 de Agosto, por quê? Porque a prefeitura não libera mais tábuas para fazer as pontes, sabendo que aqui a pessoa vive de passar nessas pontes, é difícil!”, disse.
“Quando está na época de eleição, eles vêm atrás e sabem nos procurar, depois, quando eles ganham, nos esquecem!”, desabafou o morador Armando Moraes, que também sofre com a falta de atenção do órgão municipal.
Ele afirmou que na cheia de 2021, a estrutura da casa acabou se rompendo por conta da pressão das águas. O morador não tem como se antecipar para estruturar a casa e se preparar para uma nova cheia, pois está desempregado e não recebe auxílio das autoridades, além de ser ignorado por elas.
“Eles nos deixam desamparados, essa parte aqui toda é esquecida. Não falo só por mim, falo por todos. Todas as casas estão na mesma situação, estão balançando. Essa enchente foi muito grande e danificou muitas casas”, comentou.
Sem planos para 2022
Prestes a entrar no segundo ano de mandato, o prefeito David Almeida ainda não abordou sobre a cheia do ano que vem, mas destacou que Manaus terá o maior Natal da história, uma vez que esta é a prioridade do parlamentar.
Com o orçamento transbordando, para 2022 a Prefeitura de Manaus terá R$ 7,1 bilhões para gastar. O valor foi aprovado pela Câmara Municipal de Manaus em uma sessão com tempo mínimo para discussão, deixando a oposição sem chances para questionar o dinheiro previsto para o ano que vem.
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De acordo com o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2022, 43% do dinheiro serão destinados à Educação e a Saúde. Já a outra parte do valor será dividido entre repasses constitucionais, estaduais, federais, de operações de crédito e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e da Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Mesmo com um orçamento 27% maior do que o do ano de 2021, a Prefeitura de Manaus ainda não possui planos para os impactos da cheia de 2022. Neste ano, o órgão municipal decidiu criar um auxílio para ajudar as famílias afetadas, além de distribuir colchões e cestas básicas, assim como construção de pontes nas áreas em que as águas do Rio Negro tomaram conta.
Com um alto valor, a Prefeitura de Manaus poderia se adiantar e traçar planos de ações para frear o impacto da enchente em 2022. No entanto, mesmo com dinheiro suficiente nos cofres públicos para planejar intervenções, o prefeito David Almeida não se preocupa com o problema da cidade.
O Portal Amazonas 1 questionou a Defesa Civil sobre as metas de prevenção para a enchente do ano que vem, assim como o valor que deve ser repassado do Orçamento 2022 para o enfrentamento do fenômeno, e se existe plano de ação já pronto para a acareação.
Em nota, a Defesa Civil informou que acompanha o nível do Rio Negro, mas que neste momento, ainda não há planos de combate. “Medidas da operação se dão mediante aos alertas do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, que informa sobre a previsão de como se comportará a cheia para o ano corrente. Diante disto, damos início ao plano de contingência”, apontou o órgão.
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Também é importante lembrar que, mesmo com a possibilidade de uma cheia mais severa do que a de 2021, o orçamento bilionário da Prefeitura de Manaus não possui abertura para auxílio. Inclusive, o prefeito David Almeida já afirmou que não haverá pagamento para ajudar as famílias, pois isso é um dever do governo estadual e federal.
Ou seja, a Prefeitura de Manaus vai iniciar 2022 com o cofre cheio de dinheiro, mas sem estratégias de combate à cheia para frear os impactos da natureza na vida das famílias.
Descaso com a população
Esse problema de administração já foi comentado pelo engenheiro e candidato a prefeito de Manaus em 2020, Romero Reis. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ele afirmou que falta vontade do órgão municipal realizar soluções.
No vídeo, Romero explicou que desde a construção das galerias de esgoto, que aconteceu no século XIX, Manaus não faz vistorias para revitalizar ou corrigir aquele espaço. Por conta disso, o Centro da cidade enche de água no período da enchente.
“Entra administração e sai administração e o problema continua aí. Mas qual seria a solução? O dinheiro que é gasto, mensalmente, com cargos comissionados, que recebem e não entregam serviço nenhum, seria suficiente para em um ano poder provisionar e executar um sistema de comportas que evitaria esta inundação no centro de Manaus. Solução técnica e de engenharia tem. Falta vontade política”, afirmou.
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Na prática, as galerias ficam esquecidas pelas autoridades e, mesmo que no período da cheia Manaus se transforme em uma Veneza, ainda assim podem causar adversidades, tanto para a cidade quanto para a saúde da população. Para o analista político Carlos Santiago, a Prefeitura de Manaus deve fazer um planejamento e destinar recursos para resolver os problemas causados pelas enchentes e impedir graves danos sociais.
‘’Dinheiro tem no orçamento, aconteceu um crescimento na arrecadação. A administração municipal tem que cuidar das praças e das vias, mas tem que cuidar também de prevenir dos transtornos causados anualmente causados pelos fenômenos da natureza’’, destacou.
Ainda segundo ele, é necessário que a prefeitura esboce um planejamento sério para cuidar melhor da cidade. ‘’A cidade precisa de planejamento sério para os antigos e novos desafios de uma cidade que ainda sofre com os eternos problemas’’, disse.
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